Num meio de mês, um homem estava num ônibus lotado. Havia nele pelo menos 70 pessoas em pé amontoadas ou sentada disputando o espaço nos assentos. A linha seguia para uma fábrica e os que a utilizavam eram operários desta. De antemão se sabia que todos ali ganhavam um salário mínimo, recebiam da empresa a passagem para se locomover até ela e a refeição do dia durante o expediente. Portanto, não era necessário que alguém levasse consigo dinheiro para o trabalho. O próprio observador dispunha de pouco mais do que cinco reais dentro de sua carteira.
Então, despertou no observador uma curiosidade. E ele pensou: “Se eu pedisse para que todos aqui abrissem suas carteiras, calculassem o quanto de dinheiro há nela e informassem o valor para que fosse somado um a um e fosse conhecido o valor total de dinheiro que há nesta lotação nesse momento nos bolsos de trabalhadores, será que daria um bom montante”. Era só uma curiosidade, mas ele continuou divagando como se fosse uma tarefa sua pesquisar. E nessa divagação ele concluiu: O mínimo que quem tivesse algum dinheiro teria era cinco centavos. Logo, setenta pessoas portando cinco centavos no bolso se obteria a quantia de três reais e cinquenta centavos. Ou seja, pela amostragem, a classe operária em questão, unida mal conseguiria pagar um café da manhã simples para uma pessoa somente. Então, se concluiria que a classe era formada por pobres.
Porém, graças ao vale-transporte, ninguém ali precisava pagar do próprio bolso, à vista, a passagem do ônibus que utilizava; nem pela refeição do meio do dia, pois, eles tinham cartão-refeição, dado pelo empregador; e a maioria esmagadora vestia boas roupas e tinha os cabelos aparados ou penteados a seu critério, calçava bons sapatos e estava equipada com mochilas e bons aparelhos celulares, os quais essa maioria vivia a teclar nas interfaces dos aplicativos Whatsapp e Facebook para se comunicar, mesmo estando os comunicantes um do lado do outro. Não havia internet gratuita dentro do ônibus da linha operária, por isso se concluía que eles tinham créditos no celular ou pagavam um plano mensal de telefonia móvel, que dava direito ao uso mensal da internet.
Bem, num meio de mês, essa situação de sociedade sem dinheiro já garantia uma aparência de que tudo que os membros dessa sociedade precisa para tocar a vida estava satisfeito. Considerando que a situação apresentada para o cálculo feito mentalmente pelo protagonista deste conto é a mais extrema, cada trabalhador portando cinco centavos no bolso, pois era um meio de mês, que maravilha não seria a condição de cada indivíduo desses nos dias pós pagamento de salário, quando o mínimo a se cogitar ter na carteira cada operário poderia ser elevado a cinco, dez ou cinquenta reais?
E nessa nova análise entraria também outros proventos que animariam ainda mais o trabalhador: Seu FGTS teria recebido mais um depósito, a aposentadoria estaria mais próxima. Aquela gente não poderia reclamar, de modo algum, da sua situação sócio-econômica, por ser formada por trabalhadores. Tinha emprego. Emprego é o maior tesouro que uma pessoa que quer ser taxada como abastada de riqueza pode aspirar. E isso basta para responder à pergunta do título desta postagem: somos desatentos.
Pobre não é uma condição inexorável, pobre é um estado. Que pode ser temporário ou definitivo e esse destino somos nós que escolhemos. Nossas atitudes determinam o que somos nesse aspecto. É bom se alinhar ao que sua condição atual o permite. E não querer obter ou fazer mais do que pode. E enquanto se usufrui de uma situação razoável momentânea, se tem segurança para se preparar para outra mais prodigiosa. Evoluir, melhorar cada vez mais a qualidade de vida é isso.
País rico é país que tem emprego para o seu povo!
Leia os livros “Contos de Verão: A casa da fantasia” e “Os meninos da Rua Albatroz” para saber como aproveitar a reflexão tecida nesta postagem.