Captei uma conversa entre dois vendedores ambulantes, na qual um deles dizia que vendia balas para uma moça dentro de um ônibus e por se distrair para escolher o produto, a moça foi golpeada por um ladrão, que arrancara dela o I-Phone que ela portava. O mesmo passou pela porta de saída da lotação, desceu em uma subestação de BRT, da qual ele foi embora com o aparelho sem ser amolado. O rapaz que narrava o fato fez críticas à polícia, alegando que ela não faz nada para conter os roubos, e a outra com quem ele conversava se aliviou pela vítima do roubo por ter sido um I-Phone o objeto roubado. Conforme ela, é possível rastrear o aparelho e chegar até o novo portador e recuperá-lo.
Na minha mente eu lamentava uma série de coisas tiradas dessa audição indesejada. A primeira delas é o fato de as pessoas serem vitimadas com roubos de aparelhos que consideram importantes e que custam um dinheiro significativo, sendo que elas próprias pedem para ser vítimas. O ocorrido, o roubo de celulares dentro dos coletivos, vem acontecendo na cidade já há um bom tempo e ultimamente só vêm engrandecendo as ocorrências. É mais do que uma razão para as pessoas se esforçarem para sair da abdução do mercado da tecnologia e deixarem seus aparelhos em casa. Um celular tem como finalidade única manter o portador em condição de receber contato onde quer que ele esteja. Para isso, basta um modelo simples, do tipo que ladrão nenhum se dá ao trabalho de tentar se apropriar dele por ser invendável depois de usado, já que o chip pode ser bloqueado e o bloqueio deste realmente funciona.
Se as pessoas procederem assim, boicotando o uso em público – caso não puderem também boicotar a compra – dos pertences de valor, elas estarão tomando providências para que os eventos nefastos se cessem e elas possam voltar a utilizá-los, dessa vez com tranquilidade. O ladrão não terá o que roubar de ninguém se todos procederem assim, logo, ele sairá de circulação, pelo menos nos ônibus. Os roubos e assaltos ocorridos nas lotações, nas estações ou até mesmo nas ruas, podem ser contidos pela polícia se esta tiver vontade de operar e, pasmem, receber ordens de seus superiores para contê-los. Exatamente, isso: receber ordens para proteger a população.
Há contundentes desconfianças de que muitos dos larápios responsáveis pelo aumento da violência urbana são conhecidos da polícia e de seus superiores e que eles podem estar a agir sob a custódia de um esquema, que além de negligenciar suas capturas, lhes inocentam quando por ser inevitável eles são capturados. É pegar aqui e soltar ali pro ladrão roubar de novo, essa observação é novidade para você?
A razão de existir um complô por trás da violência urbana poderia ser desestabilizar emocionalmente a população, o que patrocina votos em políticos corruptos e ajuda a administração de gestores demagogos, que aproveitam a demanda para prometer mais segurança, o que nunca cumprem. Também faz o dinheiro circular, pois, as vitimas de roubos correm sempre para comprar outro modelo – ou melhor – do objeto afanado, uma vez que elas se acham dependentes da utilização dos mesmos. Ladrão sabe o que roubar, ninguém rouba o que você não vai utilizar mais se perder, já reparou? Primeiro o mercado escraviza mentes para o consumo e depois gera onda de apropriação indevida. Isso implica em imaginar que empresas, de olho em vender novamente para o mesmo cliente que só lhe compraria novamente um tempo mais tarde, podem estar por trás do financiamento desses eventos.
Mesmo considerando que essas caraminholas sejam besteiras, o boicote citado, se praticado pelos usuários, força o empenho da administração pública em resolver a questão e dar mais segurança para o público para ele poder utilizar seus pertences em paz. Havendo em massa essa atitude, as empresas colheriam prejuízos por não haver compras dos modelos que lhes dão mais lucro; no caso do celular, as operadoras de telefonia móvel teriam reduzido seu faturamento com a redução do consumo de créditos ou ativação de planos para utilização de internet móvel, já que em casa a maioria dos usuários possuem internet fixa. Outras entidades também acarretariam prejuízos, inclusive a polícia, pois, o dinheiro usado para pagar a instituição vem da arrecadação de impostos mercantis.
Nos ônibus é comum vermos bandos pularem a roleta ou entrarem à força pela porta traseira, cabularem a catraca de entrada nas estações, e não serem molestados por ninguém. Motoristas e cobradores quando há à bordo, não arriscam sua segurança ao incomodar o meliante obrigando-o a pagar a passagem, já os policiais, se não for por estarem instruídos a ser condescendentes com a ação vândala, negligenciam por pura covardia. Bandido neste país é muito melhor treinado para conflitar e muito mais disposto a arcar com infortúnios de combates, por acharem que não têm nada a perder e que necessidade não tem lei.
Os passageiros que pagam passagens sofrem dois tipos de violência. Uma devido à indignação ao presenciar sujeitos utilizando o transporte gratuitamente enquanto que o indignado paga a própria, e outra é a tortura psicológica que se dá devido à sensação de insegurança, de estar em uma viagem onde pessoas sem escrúpulos estão embarcadas e a desfrutar da lotação do jeito que bem querem, incluindo atormentando com o famigerado celular tocando funk ou rap em alto volume, sem qualquer preocupação em respeitar o próximo, pagante ou não de passagem, as quais podem em algum trecho do caminho abordar os demais passageiros para lhes cometer outros abusos. E mesmo havendo câmeras dentro dos ônibus a, teoricamente, registrar as ocorrências. É outra violência sofrida: confiar em um sistema que opera sob fachadas. Tente solicitar as gravações de uma câmera dessas para você acionar o seguro que tem direito para verificar se você não vai se deparar com um “infelizmente a câmera não estava funcionando naquele momento”.
Quanto à ilusão sobre os bloqueios e consecutivos rastreamento de aparelhos de telefonia móvel, eximo-me de comentar nesta postagem, pois, a mesma ficou muito grande. Mas prometo discorrer sobre isso em outra ocasião. É outra fachada e golpe do sistema.
Leia o livro “Os meninos da Rua Albatroz” e aprenda a se defender do sistema. Livros te ajudam a passar o tempo durante os trajetos ou estadias em ambientes públicos e ninguém rouba.