Dando sequência à migração dos textos de um blog que tenho no Blogger para cá.
Ele, recém chegado aos cinquenta anos de idade. Ela, saía dos trinta. Ele, após passar a última década de sua vida se preparando para afortunar-se, se tornou um homem rico. E estava em busca de alguém para, quem sabe, compartilhar da sua pequena fortuna. Ela, professora da rede de ensino público, tinha emprego estável e algum patrimônio, que lhe garantia a vida de mulher independente, sem filhos, que levava.
Ela também procurava alguém. Mas, não queria se precipitar. Da mesma forma que formou cuidadosa e qualitativamente sua independência financeira, queria formar seu laço conjugal. Precisava ela encontrar um homem que fizesse valer a pena sua busca e seus longos anos de solidão, vividos de encontros casuais e de amores platônicos.
Era inevitável que um dia eles se conhecessem. Iam frequentemente ao mesmo ambiente recreativo destinado a encontros de pessoas maduras. Ela já o havia visto muitas vezes sair do lugar com mulheres de vários perfis. O que ele tinha que atraía tanto as mulheres, ela precisava descobrir. Um homem que sugere guardar um grande segredo, toda mulher quer desvendá-lo. E com ela não era diferente. Valia a pena para ela dar um tempo na rigidez de sua busca e sair dali com ele para um simples encontro casual.
Valia também a pena pagar o preço para saber a razão de tanta rotatividade: ou ele não era ao todo o que sugeria ser e as mulheres que conquistava não o seguravam por isso, ou ele era exigente demais e por isso ainda procurava quem quer que seja. E ela, então, decidiu que era aquela noite a vez dela. Já não tinha mais tempo para perder, o tempo voa e a gente tem que se permitir a fazer o que precisar ser feito para garantir a felicidade que a natureza nos exige.
Ela ia para lá com amigas. Ele sempre ia sozinho. O recurso de insinuar com o olhar a alguém querer conhecê-lo é implacável. Ela o utilizou. Estar com amigas é ótimo para sugerir estar tendo dificuldades para se livrar delas e estar aí o motivo de ainda não ter ido à luta. E num lugar desses, quando o tempo passa gotejando e alimentando a expectativa de um homem de ver logo ao seu lado uma mulher que lhe tiça, a impaciência misturada com as bebidas que fazem com que o garçom gire carregando bandejas várias vezes ao seu redor, faz chegar um momento em que, por mais delicado que seja um homem, ter que abandonar o posto para ir ao toalhete seja inevitável. E ela sentiu que esse momento estava eminente.
ELA, A CAMINHO DO TOALHETE FEMININO: Parece que esta noite é nossa!
ELE, DESARMADO: Nossa?
ELA: Os solitários!
ELE: E já somos solitários demais para comemorarmos sozinhos, não?
ELA: Não se consegue mudar nada fazendo sempre as mesmas coisas, concorda? O que você sugerir eu topo!
ELE: Prefiro voltar à minha mesa e lá te espero para ouvir a sua sugestão.
E ela foi. E não é que ela conseguiu o que queria! Desvendou o mistério que o encobria. E estão por aí a viver a vida a dois, felizes à beça.