James Warren queria montar um templo em Indiana. Se autointitulava missionário e militava pelos direitos civis. Ele era do tipo apocalíptico e acreditava que o mundo passaria novamente por uma ameaça nuclear. No caso uma hecatombe mundial. E não a experiência conhecida daquele início da década de 1960, na qual americanos guiando o B29 Enola Gay se dirigiram para Hiroshima no Japão, onde deixaram cair do avião uma Little Boy, a primeira bomba atômica a ser utilizada como arma de guerra, constituindo-se um estrago geosócioclimático sem precedentes, que não intimidou os algozes por trás do manche, que ainda disparariam outra bomba similar na cidade de Nagazaki, depois que núvens e fumaça fizeram com que os planos de alvejar Kokura fossem mudados. Era a retaliação feita aos japoneses por causa do episódio denominado “Incidente de Pearl Harbor”, hoje estipulado como uma operação de falsa bandeira operada pelos generais dos Estados Unidos para colocar o país na Segunda Guerra e viabilizar os propósitos de seu governo para a mesma. Causar destruição e reformar nações, endividando-as e criando-se um império era um destes.
Vôos altos explorando a fé humana pretendia alçar James. Numa edição da revista “Esquire”, de 1962, ele listara Belo Horizonte, em Minas Gerais, Brasil, como um lugar seguro para se viver havendo o mundo de sofrer a temida guerra nuclear que ele pregava e da qual buscava se precaver. Por lá imaginou fundar seu império religioso. Instalou-se em um bairro luxuoso da capital mineira e escondendo sua simpatia pelo comunismo buscou conhecer a gente humilde para lotar seu templo. Mas, a cidade precária dos recursos de que precisava o homem forçou sua evasão para o Rio de Janeiro. Os barracos dos morros com vista para a Serra do Curral em Belo Horizonte foram trocados pelas favelas com vista para o mar da então Cidade Maravilhosa, no Estado da Guanabara. Porém, as belezas tropicais do litoral brasileiro não foram suficientes para manter James Warren no Brasil. As reclamações dos pregadores que deixara em Indiana cuidando dos negócios falaram mais alto na decisão do missionário de voltar para os Estados Unidos. O sincretismo das religiões brasileiras, no qual os elementos e as doutrinas do cristianismo, por exemplo, aparecem de maneiras completamente distintas em mais de uma religião, lhe serviu de herança da pátria para tocar seus negócios.
James já havia conhecido a Guiana, colônia britânica, quando partira iludido para o Brasil. Uma locação para seu experimento social no pequeno país sulamericano poderia ter passado pela sua cabeça. Mas, foi em São Francisco que ele viu iniciar suas atividades como reverendo. O reverendo Jones. Sem qualquer ordenação na fé cristã ou compromisso com as pregações clássicas do Evangelho. Era o ano de 1967 e a comunidade que Jones formou levou o nome de Templo dos Povos.
Jones se dizia profeta, clarividente e capaz de realizar milagres. Em nada se diferenciava dos atuais pregadores pentecostais. Pregava ele a cura pela fé e tinha como doutrina maior o medo de uma guerra nuclear. A qual o reverendo vivia a fazer previsões. Que obviamente era o elemento de expectativa que alimenta todas as religiões. A volta de Jesus alimenta a cristã tradicional. Profecias que jamais se cumpriam, mas que sempre encontravam justificativas do malogro e a igreja de Jones ganhava cada vez mais adeptos. Afro-americanos pobres em geral. Os números de fiéis que Jones propagandeava superavam astronomicamente os reais. E assim ele dava segmento ao seu “Socialismo apostólico”, que rejeitava a Bíblia sob a acusação de se tratar de um manual escrito por brancos para justificar a sujeição das mulheres e a escravidão negra.
Jones, com isso, já empregava a tática do aumento das estatísticas em seu favor para alavancar mais simpatizantes para o seu império recém criado. Que serviram bem para arrancar doações dos seguidores e de pessoas influentes. O missionário vendia também suas vestes e objetos pessoais. Sua igreja enriqueceu, embora o fundador militasse contra o capitalismo. Já possuía a própria rádio e a própria gravadora de discos.
Então, se viu que intensificando ao extremo a devoção religiosa das pessoas era possível se tornar um ídolo concorrente de Deus, arrancar doações vultosas e penetrar na mídia fonada com temas e artistas gospel oferecendo concorrência ameaçadora ao sistema secular de música. Se viu também a grande predisposição que pessoas cooptadas pela fé religiosa têm para adquirir tralhas que lhes viessem sob a alegação de terem sido usadas pela entidade messiânica ou espiritual cultuada de uma seita ou de terem sido usadas pelo próprio líder religioso profusor das crenças advindas da doutrina de uma religião. O terreno para a formação de verdadeiros impérios materiais por pastores que pedem em nome de um salvador que pregava a pobreza estava preparado.
Conspiracionistas diziam que Jones recebia financiamento da CIA, que era agente da CIA, para promover seu experimento, cujos resultados seriam acumulados possivelmente nos manuais Kubark da organização de espionagem. Manuais que tratavam de técnicas de controle mental.
Mas, a CIA teria querido mais. Ela queria saber o ponto de ruptura da devoção religiosa. Queria saber o extremo a que se predisporia um indivíduo dominado por seus pregadores. Queria saber se eles aceitariam se suicidar em nome de uma fé. E após a instituição plantar a desconfiança e a discórdia dentre os dirigentes do Templo dos Povos, Jones se desligou do comitê administrador e foi para Guiana levando primeiramente sua família para depois levar seu rebanho. Lá, em um terreno arrendado, no ano de 1974, Jones fundou sua cidade ideal, a comunidade denominada Jonestown. Na localidade de Port Kaituma, próximo à fronteira com a Venezuela, o culto ao horror da “Rainbow Family” brotava.
1977, os primeiros 50 residentes de Jonestown chegaram vindos de São Francisco. No mesmo ano a igreja Hearing conseguiu responsabilizar a CIA pelos danos causados a pessoas expostas a seus experimentos no projeto MK Ultra de controle mental. Jones enfrentava o fisco guiano contra a isenção de impostos conservada pela igreja e suspeitava que a perseguição proviesse dos Estados Unidos, o qual era combatido com a acusação de ser este país e seu regime econômico o anticristo.
Suspeitas de ameaças físicas e extorsão moral aos viventes de Jonestown e de sequestros de crianças filhas de ex-membros que desertaram do templo caíram sobre o reverendo. Seguiu-se acusações de tortura psicológica, com privação de sono e de alimentos, tal qual mandam os manuais Kubark da CIA – e até mesmo o mini-manual do Carlos Marighella; exigência de entrega à igreja de propriedades e mais 25% da renda de cada membro da seita; o fanático passou a interferir na escolha dos membros quanto ao casamento e também na vida sexual dos quais; isolava dos pais suas crianças. E ainda abusou das técnicas de propaganda nazista para dar ao mundo falsa percepção favorável ao movimento e seu líder. Jones não jogava para perder. Vivia arriscando. Como gostava de dizer o viciado em LSD, a droga que a CIA administrava em seu projeto MK Ultra: “A gente não sabe quando é o dia da nossa sorte, portanto, temos que jogar todos os dias“.
O auge da decadência chegou para Jones quando Timothy Stoen, um ex-membro da comunidade em Port Kaituma, acusou o fanático religioso de manter seu filho, John Victor, sob custódia forçada da igreja. Stoen teria apelado para um congressista democrata norte-americano, Leo Ryan. Ryan se deslocou para a Guiana, onde foi recebido com festa. Presenciara ele as condições de vida suportada na comunidade perdida no meio da floresta. A emissora de TV NBC o acompanhou para testemunhar a miséria e investigar as acusações recaídas sobre Jones. A comunidade viu desertores se unirem à comitiva do estadista norte-americano.
Jones não deixou por menos e não se contentou em apenas chamar de traidores os desertores. Naquela tarde de 17 de novembro de 1978, Ryan foi atingido por um ataque desferido com faca, o que apressou-lhe a retirada de Jonestown. Na pista de pouso de Port Kaituma, guardas que faziam a segurança de Jim Jones alvejaram o avião encarregado de levar Leo Ryan e sua comitiva de volta ao país natal. Larry Layton, um dos seguranças do fanático de Indiana, teria sido o autor dos disparos que decretou o fim da linha para Ryan, que se tornou o primeiro e único congressista dos Estados Unidos a morrer durante o cumprimento do dever. Junto a ele, morreram também três repórteres e uma ex-integrante do culto. Larry alegou ter sofrido lavagem cerebral para chegar a tanto.
Naquele mesmo dia, após o evento mortal envolvendo o congressista norte-americano, os 909 habitantes da comunidade Jonestown foram convencidos a ingerir suco de uva misturado com cianeto e sedativos. As famílias foram orientadas a deitarem-se juntas e 304 crianças beberam primeiramente o veneno. Todos achavam que não morreriam, pois, recebiam durante as reuniões denominadas “Noites brancas”, que Jones promovia na comunidade, um placebo que o reverendo os enganava com ele, alegando ser veneno, o que fazia a comunidade acreditar que era imune a ele.
Ao pronunciamento de seu líder, que, conforme gravação deixada e encontrada pelo FBI, mas que não se sabe se a informação procede não como providência da Guerra Fria existente então entre Estados Unidos e União Soviética, os alienados fiéis debatiam-se enquanto Jones informava que o êxodo que teria sido negociado com a União Soviética para a comunidade não mais aconteceria, devido ao assassinato cometido pelos zeladores da segurança de Jones.
O suicídio coletivo seria proveniente de declarações de Jones sobre haver agências de inteligência supostamente conspirando contra o Templo. “Vão atirar em alguns dos nossos bebês inocentes”, “Vão torturar nossos filhos, torturar alguns dos nossos membros, torturar nossos idosos”. “É um suicídio revolucionário”. “Parem com essa histeria! Este não é o caminho para as pessoas que são socialistas ou comunistas morrer. Este não é jeito que nós vamos morrer. Devemos morrer com um pouco de dignidade”. “Não tenham medo de morrer”. “A morte é apenas uma passagem para outro plano”. “É uma amiga”. “Nós não cometemos suicídio; cometemos um ato de suicídio revolucionário para protestar contra as condições de um mundo desumano”. Encerra-se a gravação e se deu o massacre que não poupou seu protagonista, Jim Jones, que em uma cadeira de praia foi encontrado morto com um tiro na cabeça. Não se sabe ao certo se vítima de uma bala auto-infligida, conforme declarou o legista guianense Cyrill Mootoo, ou se teria solicitado a alguém o tiro. Na autópsia do corpo havia níveis altos do barbitúrico letal para seres humanos Pentobarbital.
Após os eventos de condenações, se especulou que ex-membros da seita e mais a viúva de Jones, que sobreviveu junto ao filho ao massacre, teria destinado, como herança, todo o patrimônio da igreja ao PCUS – Partido Comunista da União Soviética. Porém, o que se extrai de verdade da herança desse episódio é a proliferação de igrejas protestantes que empregam táticas similares às empregadas em Jonestowm. Como a condução dos fiéis ao extremo da devoção; sua exploração moral e financeira e fidelidade às doutrinas aprendidas, incluindo a adoção de atitudes de alto risco em nome da congregação. Essas igrejas, que tornam fundadores em milionários, proliferam e invadem os países – evangelizando a população e a tornando predisposta à submissão ao mais esperto – sob o financiamento, direto ou sob uso de prepostos, dos Estados Unidos. Daí a dificuldade de não se duvidar se não havia mesmo um acompanhamento da CIA nesse evento em vez de um convênio de Jones com a União Soviética, como se faz acreditar, parecendo ser pela razão de afastar suspeitas.
FONTE DAS INFORMAÇÕES: Wikipédia.
*Essa história também é explorada no livro “Os meninos da Rua Albatroz“.