Fim da linha para o casal em pressa. Lindy apagou os faróis do carro e seguiu com eles apagados, pelo pequeno quarteirão que ela conhecia de olhos fechados. Confirmou se o Volks 8150 branco com um baú cinza acoplado estava parado na porta, como de praxe: de maneira a atrapalhar a passagem para a garagem de sua casa e a incomodar durante o dia os transeuntes que precisavam trafegar pela rua de calçadas desuniformes. Seria um sinal que lhe estragaria os planos. Ao que lhe pareceu seria uma virada típica de sexta-feira para sábado.
As portas do Celta foram abertas devagar. Ambos saíram juntos. Ele fechou a porta do lado do passageiro sem fazer qualquer barulho. Ela deixou a do motorista aberta. O motor estava ligado em marcha lenta e as chaves na ignição. Olhou, Lindy, para cima e notou a irmã segurando a renda da cortina da janela da sala, que ficava de frente para a rua em um andar superior, para observar discretamente quem vinha. O suave bombardeio do motor em estado de marcha lenta foi o que a fez buscar a janela. Olhando para cima, a claridade fosca denunciava que ela via televisão. O restante da casa estava com as luzes apagadas. Mesmo a do alpendre.
Lindaura abriu o portão de bandeira da garagem e solicitou ao amante que ele guiasse o carro para dentro dela. Ele deu a volta pela frente do veículo, entrou nele e fez o que foi lhe ordenado. Obviamente o farol teve que ser ligado. Este revelou no interior do cômodo de paredes apenas rebocadas uma escada que conduzia à porta de entrada da sala no andar de cima.
Mal o carro chegou ao ponto que precisava atingir para que o portão pudesse ser fechado e a dona da casa já puxou o próprio para dentro, enfiou-lhe a chave na fechadura interna e o trancou. O próximo passo foi se lançar nos braços do homem que a acompanhava. Parecia que o coito aconteceria ali mesmo. Mas, foram apenas carícias mais picantes. A moça estava decidida a levar o parceiro para o interior de sua residência.
A porta da sala já se encontrava destrancada. Quando foi aberta, Lindaura viu a irmã sentada no sofá grande. A TV, ligada no Cine Record Especial, era a companhia de Vera. A protestante olhou para os dois com o semblante de quem desaprovava o que ela premonizava e que já sabia se tratar de um ato de vingança contra o cunhado estúpido e infiel com quem Lindaura tivera o infortúnio de ter se desposado.
Aos trancos e barrancos, Vera foi apresentada a Júlio. Mal disseram qualquer coisa e Lindy conduziu, segurando-lhe o braço direito, a irmã até o corredor que levava aos quartos da casa. Vera já sabia qual seria o seu papel. E não muito conformada foi parar em seu aposento, onde havia também um aparelho televisor, o qual ela ligou para continuar a ver o filme que assistia.
Na sala, a anfitriã acomodou seu amante no sofá. Subiu em seus quadris como uma amazona e de frente pra ele, enlaçados pelos braços, trocaram beijos atrevidos e ficaram à espera de que o tesão os enlouquecesse e aquecesse estonteantemente a transa.
À medida que gemidos e barulho de raspões de corpos no estofado de chenille cinza denunciavam o clima que jazia na sala, a curiosidade da irmã se despertava. Com alguns passos pé-ante-pé ela poderia se aproximar do palco das atrações e discreta como estava à janela quando o casal deu as caras ela poderia abrir à meia-visão a porta que obstaculava a passagem e com isso saciar sua vontade de mulher casta, virgem aos 27 anos, de obter pelo menos platonicamente uma transa. A sorte com homens, que sobrava à irmã, lhe faltava por causa das escolhas que fez ao longo da sua trajetória vital, devido à baixa permissividade ao pudor que lhe fora imposta pelos pregadores das congregações religiosas que fizera parte.
Tão possante quanto os ataques dos guerreiros do filme de ação que ela assistia foi o impulso que Vera sofreu para dar um basta ao moralismo que só a estava atrasando a vida e a causando opressão e sofrimento em nome de uma ética criada por mortais enganadores se passando por emissários de Deus para só ela manter. E pé-ante-pé a branquela de corpo esbelto e cabelos amarelos desgrenhados partiu para dar asa à sua imaginação. E, se não podia – ainda – ter a sorte da irmã, pelo menos se degustaria ao vê-la em ação. Se lhe ocorresse a tentação de desfrutar do que ela acreditava ser pecado, o automassageamento genital visando o orgasmo, ela, sem delongas, procurando o máximo de discrição, se renderia a ela e com isso, quem sabe, iniciaria sua libertação sexual e mental.