As candidaturas para as eleições 2018 nem bem estão definidas e já querem vetar alguns concorrentes. O possível candidato do PT, Lula da Silva, e o do PSC, Jair Bolsonaro, já sofrem articulações para o fim de impedí-los de concorrer, que partem dos candidatos e partidos que não seduzem o eleitor.
O martírio de Lula já dura há mais tempo. Há muito que o tentam enjaular, atribuindo a ele uma série de relatos dignos de processo judicial, que ninguém – nem mesmo os acusadores e os juristas – consegue provar devidamente para conseguir seu pleito. A popularidade de Lula e o respeito de seu eleitor vem de história vivida pelo seu eleitor e não de suposições quanto à sua capacidade de administrar o país. Por isso a preocupação em incriminá-lo logo e fazê-lo perder o direito de disputar o cargo presidencial. Tentar manchar sua imagem, ainda que usando fortes veículos de manipulação da opinião pública, como a Rede Globo, tem se mostrado pura perda de tempo.
Já Jair Bolsonaro vem se esquivando como pode de conseguirem inibir sua candidatura com o velho truque do abalamento de imagem. Jair é acusado de homofóbico, de racista, de chucro, machista, simpatizante de ditadura e versão tupiniquim de Donald Trump (para a comparação surtir efeito massacram o Trump como podem). Só não o acusam de envolvimento nos antros de corrupção que assolam quase toda a classe de políticos ativos do Brasil. Essa acusação não é tão fácil de ser sustentada sem revide comprometedor como são as outras, que também não são provadas pelos seus opositores. Usam a mídia golpista para o lesar a imagem e o dito, por força da lavagem cerebral à disposição dessa mídia fazer, fica pelo não dito.
Em Belo Horizonte, Bolsonaro recebeu críticas do dono de um jornal para o qual ele cedeu entrevista. Porém, o político deve se preocupar é com o público que ele conseguir conquistar fora do eixo midiático. Aqueles que surgiram em seu caminho movidos pelas suas ideias e intenções, com que de alguma forma eles entraram em contato. Esses são a maioria e são eles que elegem.
O dono de um jornal não tem opinião própria. Ele opina conforme os seus interesses – que sempre conflitam com os interesses dos populares – ou conforme o que o patrocinador de seu jornal deseja que ele apareça em público defendendo ou atacando. O dono de um jornal pertence ao meio rico. E o contingente desse meio é minoria eleitoral no Brasil e em qualquer parte do mundo onde há democracia de voto.
Ambos os políticos são molestados agora pelo STF, que parece estar refém dos adversários dos dois. O Supremo Tribunal Federal considera punir Lula e Bolsonaro por antecipação de candidatura. Por aí dá para se ver que esses candidatos têm valor eleitoral e pode ser uma boa tê-los na competição pelo mais almejado posto político nacional. É sinal de engrandecimento forçado de caráter por parte dos demais interessados em ocupar tal posto.
Se um partido ou um candidato ou um conluio empresarial quiser tirar de seu caminho adversários que metem medo, que o faça. Mas, o faça sem enganar o eleitor com mentiras e articulações para que este aprove a investida. E, mais do que isso, aproprie-se daquilo que os adversários ameaçadores prometeram a seus possíveis eleitores, que é o que os fizeram se interessar por eles. Aproprie-se e cumpra com o prometido. São as preocupações com os problemas da sociedade e as propostas para saná-los que conquistam o público. Não é o terno e a gravata ou a cara bonita ou história de sucesso empresarial que a mídia joga luz e muitos engolem sem ao menos ter condições de comprovar o que é caso verdade e o que é aparência fruto de maquiagem.
O eleitor de hoje não cai mais no truque das gotas de falso suor colocadas no colarinho da camisa e debaixo das axilas de um candidato burguês para impressionar a massa durante sua apresentação em um debate crucial entre presidenciáveis ocorrido na televisão. Como José Bonifácio, o Boni, fez com Fernando Collor para ele enfrentar, teoricamente com a imagem em igualdade de condições, seu opositor Lula da Silva no último debate veiculado pela TV Globo para o eleitor decidir seu voto no Segundo Turno em 1989, conforme é mostrado no documentário da BBC, “Beyond Citizen Kane“, no Brasil: “Muito além do Cidadão Kane“.
Também não confiam mais em falsas biografias que dizem coisas como ter sido um catador de papel um político antes de levantar sua fortuna como um megaempresário de sucesso e por isso ele teria conhecido os dois lados da moeda e pode muito bem conduzir o povo ao caminho da independência financeira.
De qualquer maneira, confiar que um candidato que se apropriou das promessas de um outro vá cumprir o trato depois de eleito é um perigo. Na política do Brasil nenhum candidato é obrigado a cumprir nada do que promete. Na prática é assim. O sujeito promete, conquista o eleitor, entra para o cargo público e depois esquece tudo o que prometeu. Não arca com os compromissos agendados diante de uma plateia.
Mesmo que as opiniões articuladas pela midia contra o PT e Dilma Rousseff hoje façam pessoas que não desejavam o impeachment da presidenta lavar a alma, é inegável que esse processo democrático foi articulado e muitos dos que votaram a favor dele não arcaram seu compromisso com o eleitor que eles representavam. Seu eleitor contava que ele votasse contra e no entanto foi traído. Os políticos em quem ele confiou seu voto para se sentir representado em qualquer circunstância não foram honestos com ele e tomaram suas decisões conforme seus próprios interesses ou baseado em compra de voto ou em troca de favores julgados compensadores.
Qualquer outra coisa com que esse político se comprometeu a fazer para o povo em troca de seu voto passou a ser vista como conto do vigário. Para o impeachment da Dilma esses políticos puderam contar com o trabalho da mídia de convencer o público, por meio de manobras, que o voto a favor era justo. Mas, e para a implantação de um projeto prometido ao eleitor, será que cada deputado ou senador capturado por essa mídia poderia contar com o mesmo trabalho caso isso tivesse que ser deixado de lado?
Tirar a presidenta de campo foi coisa simples. Escolheram entre os políticos mesmos (voto indireto em uma democracia) quem a sucederia e sucederia os demais postos de liderança no Congresso Nacional e nas câmaras e “bola pra frente“, “seja o que Deus quiser“. Agora, o eleitor ficar a ver navios é coisa mais séria, pois, ele contava com o seu representante para ver realizar-se a solução de uma necessidade sua.
Daí vem a sugestão, que não é nova, de uma reforma política na qual o eleitor em vez de votar em um candidato (ou nas promessas de um candidato) votasse nas propostas que este apresentasse para o público avaliar durante sua campanha eleitoral. Se eleito, o político teria um prazo para viabilizar seu projeto. Se não conseguisse o objetivo, automaticamente estaria cassado de participar da próxima eleição. Teria demonstrado incompetência. Não teria nem chances de ser acusado de improbidade administrativa. O país economizaria quanto a gastos com CPIs, impeachments, operações judiciais. Isso seria seguro para o eleitor confiar o seu voto, pois, ele já saberia no que estaria votando. Já que a grande dificuldade do eleitor no Brasil é saber em “quem” está se votando.
Leia o livro “Os meninos da Rua Albatroz” e entenda esse procedimento.