Por que não acredito em Deus?

Conversávamos em uma mesa do refeitório. Eu, um amigo e uma amiga. A gente falava sobre como a mídia tem o poder de moldar a opinião das pessoas. Eu precisei de um exemplo para expressar o porquê de eu pensar que não adianta a gente achar que temos uma opinião formada, pois, se nos expomos à mídia, a mais robusta das nossas determinações pode ser alterada.

O que fez a gente chegar a esse ponto foi eu dizer que existem homossexuais que são naturais, aqueles que em qualquer momento da vida deles seu interesse pelo sexo oposto não ocorreu, e os que são engenhados, os que recebem programação mental de veículos externos e alteram sua opção sexual por sofrer influência, modismo e outros mecanismos empregados pela mídia em geral, incluindo aqui até mesmo a escola e o uso da tecnologia. Sim, o celular é hoje um dos principais influenciadores da homossexualidade. Basta ter um e entrar em uma rede social e começar a receber seguidores e sugestões que se está propenso a acreditar que esteve dentro de um armário e não sabia. Daí, o exemplo que me veio me fez falar sobre política.

Eu dizia que ainda que se tenha uma conceituação firme a respeito de certo partido e certos políticos, se estes sofrerem a aversão dos grupos que controlam a grande mídia e a faz trabalhar para eles, a chuva de informações rechaçando a imagem destes, se estivermos expostos a ela iremos nos molhar nela e sua enxurrada irá nos carregar para onde ela quiser. Dei o exemplo de um amigo rico que era lulista, quando deveria ser o contrário por ele ser rico, votou na Dilma em seu primeiro mandato, votou para o segundo e sofreu a lobotomia operada pela mídia a partir de 2015 e hoje ele acredita em tudo que ficou estabelecido para colocar o Lula na cadeia e destruir a imagem do Partido dos Trabalhadores.

Bem, entrar no assunto Política me pareceu uma boa ideia para o meu intento, mas, acabou foi seduzindo os interlocutores a falar disso. E meus amigos não admitiam que acreditavam em algo por influência dos outros. Quando eu disse que eu duvidava dos números de intenção de votos para o Bolsonaro que publicam, um deles me disse que faz sua própria pesquisa e que ela confirma para ele as estatísticas. Conforme ele, em seu perfil de rede social, para cada três contatos que ele tem, dois deixam rastros de que irão votar no ex-militar. Os rastros ele explicou que seriam curtidas em postagens favorecendo o político mencionado, compartilhamentos de publicações positivas ao homem, comentários do mesmo tipo e publicações próprias no próprio mural, mostrando-se adepto à popularidade do Bolsonaro.

Eu disse para ele que é duvidosa a manifestação de expressão ou posicionamento nas redes sociais na internet, pois, o Facebook – a rede citada pelo rapaz – possui mecanismos que podem maquinar as opiniões das pessoas. Curtidas, comentários, compartilhamentos e até publicações podem não passar de fake. Cada um vê somente o mural do próprio perfil e o que trafega nele. Nem sempre a gente checa – e algumas vezes sequer temos como checar ou sequer sabemos se fulano em destaque é um de nossos contatos – se o que é informado como reação ou publicação de um contato nosso na rede é vero, se ele fê-lo realmente. Há marqueteiros que pagam esse trabalho ao Facebook. É uma forma da rede faturar e ser conservada como gratuíta aos usuários.

Conclui meu raciocínio dizendo que só temos como opinião ou fato indubitável aquilo que nos é apresentado pessoalmente, do jeito como estávamos os três dando declarações próprias, olhando nos olhos de cada um. Cristãos os dois amigos, eles me deram razão e completaram observando que de outra maneira só deveríamos acreditar em Deus. E aí, suspeitando que eu fosse ateu devido aos pontos de vista com conotação esquerdista, pediram para eu me posicionar quanto ao que foi evidenciado.

Aí eu perguntei: “Quando você diz ‘acreditar’, seria acreditar se Deus existe“. E eles responderam “sim“. Respondi, então, que eu não acreditava e, sim, tinha convicção da existência de Deus.

Acostumados com o que manda responder seus doutrinadores, eles vociferaram que crer e ter convicção era a mesma coisa. Não resisti dar a eles explicação sobre mais esse ponto de vista.

Peguei o celular da amiga e falei: “Nossa amiga aqui é casada. A gente sabe disso por causa da aliança que ela tem no dedo anular da mão esquerda e pelo tanto que ela menciona seu marido. Acreditamos nisso. Podemos apostar que ela tem fotos do marido no card deste celular.

Continuo fora de aspas:

Se ela nos permitir vasculharmos o aparelho em busca dessas fotos e o fizermos e nada encontrarmos, então, seremos tomados por uma grande frustração de expectativa e nossa crença vai embora. É o que vai acontecer com os que só acreditam em Deus se ele de repente aparecer. A fé vai embora e fica a plena convicção de que o ser existe. Isso é o que mais temem acontecer os líderes religiosos. Acaba com o negócio deles. Assim como acabaria se de repente eles doutrinassem os fiéis de suas igrejas a convicção em vez da crença na existência de Deus.

E de mais a mais, conforme a doutrina cristã, se Deus aparecer, que merecimento é devido ao cristão que sempre acreditou que ele existia? Fica um “confirmou, acabou“, não? Parece que a dependência dessa descoberta era só a confirmação se o que o pregador doutrinava tinha fundamento, se não se foi enganado. Ao passo que aquele que sempre teve convicção da presença de Deus permanecerá na mesma, contando com ele para o que sempre contou. Não muda nada. Isso é muito mais nobre e honesto. Mereceria de Deus quando ele surgisse um “você sempre confiou em mim, vai ter toda a minha ajuda“. Confiar é diferente de acreditar.

Voltando ao caso, eu e o amigo teríamos três atitudes a tomar, caso fôssemos decepcionados na nossa busca por uma foto do marido da nossa amiga no celular dela. Uma seria dar como desfeita a nossa crença de que a amiga era casada e a partir de então a trataríamos como uma falsária – que faz parecer ser o que não é – ou como uma desleixada com o seu casamento. Ou passaríamos a pensar que ter uma foto do marido em seu celular não é fator importante para a condição de ser uma mulher casada. Nós é que teríamos sido doutrinados com informação falsa e a levávamos adiante sem questionar. Ou continuar acreditando no que já acreditávamos, que ela era casada, porém, deixando de querer comprovar ou não o fato. Mantermo-nos na estagnação da fé, desde que manter significasse algo importante para nós.

Porém, se algum dia a amiga aparecesse perante nós com o marido, tendo nós quatro oportunidade de conversar pessoalmente, em carne e osso, o marido confirmando a informação que a esposa teria nos passado, ainda que se tratasse de um fake – o mesmo fazendo confirmações falsas e apresentando certidão de casamento idem – não teríamos por que duvidar da informação e nem precisaríamos manter a condição de só acreditar. Passaríamos a estar convictos de que a amiga era casada. Estaríamos convencidos disso, pois, teríamos recebido confirmação que desfaria qualquer dúvida. A fé nessa crença acabaria.

E ilustrado o ponto de vista com o exemplo, pontuei que com relação a acreditar em Deus eu me encontrava na situação de estar convicto de sua existência. Era indiferente para mim ele existir ou não, pois, meus processos vitais e meus afazeres não dependiam dessa resposta, portanto, eu não precisava ficar estagnado na fé e nem tampouco me preocupando o tempo todo com isso. Assim como uma mulher casada não precisa portar uma foto do marido em seu celular para confirmar seu estado civil, eu não precisava que Deus estivesse em algum lugar onde eu pudesse procurar para encontrá-lo para entender o mundo, me sentir acompanhado e recebendo auxílio em minhas decisões. Bastava para mim a convicção de que tudo isso acontece, queira eu ou não. Como uma coisa inexorável, inerente ao meu ser. O que as igrejas fazem é vender a dúvida sobre a existência de Deus e não a certeza. É essa dúvida que enche as igrejas.

Mas, se eu me expuser muito à questão, ficar procurando chifre na cabeça de cavalo, algo ou alguém pode me fazer mudar de opinião. Da mesma forma que a mídia faz mudar de opinião aqueles que se expõem à ela. E assim ficou explicado.

Essa opinião sobre a fé está presente nas páginas do livro “Contos de Verão: A casa da fantasia“.

Conheça o seu candidato conhecendo os eleitores dele

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Você quer acabar com o PT? Não? Então, o Bolsonaro não tem propostas para você. É indiferente, o que te interessa é ver solução para os males que o Brasil passa? Novamente, o Bolsonaro não tem propostas para você. Porque parece que a proposta de Jair Bolsonaro caso ele seja eleito presidente da república é só acabar com o PT. Ou seja: Nem vai atender a população em seus anseios e nem vai conseguir cumprir o que promete. Acabar com o PT está além das forças até de gente mais gabaritada. Essa obsessão deve ser inerente ao deputado por ele em sua carreira de vinte anos na política jamais ter aprovado um projeto de lei. É falta de experiência mesmo.

Tudo começou quando veio parar em meu inbox no Facebook uma postagem de algum bolsonariano. A postagem apresentava uma foto que mostrava vários homens pelados, em círculo, um cheirando a bunda do outro. O slogan de marketing de guerrilha era: “Só para não esquecermos… o que o Ministério da Cultura financiava com o nosso dinheiro“. E pra garantir a associação ao PT: a estrelinha vermelha fixada no canto superior esquerdo da foto.

O juíz Sérgio Moro até hoje procura um motivo pra legitimar a prisão do Lula. Os que caem na lábia dele, como os bolsonarianos, já se convenceram de que o homem deve ser mantido preso. O crime – provado – pouco importa. Mas, e os que acham que se for assim, acabou a liberdade pra todo mundo que não tiver a simpatia do STF? Eles não precisam ser convencidos? Já que basta colocar uma estrelinha que identifica o PT em uma foto junto com um slogan para que a legenda carregue a culpa do que diz o slogan, por que não colocar a assinatura do Lula numa réplica do quadro Mona Lisa, do Da Vinci, e provar pra todo mundo que o homem estaria preso por falsificação de obra de arte?

Então, já que caiu dentro da minha inbox sem a minha solicitação e ou autorização uma merda dessas, penso que tenho direito de acessar o link da postagem e até de tecer um comentário. E lá fui eu. Meu primeiro erro nesse episódio.

No comentário eu perguntei se a proposta de governo do Bolsonaro era acabar com o PT ou ele iria apresentar alguma ainda. Chamei de lixo o material da foto, porque é realmente o que eu acho, embora eu saiba que o que queriam atacar era a classe homossexual, dada a essas coisas, que chamam de arte moderna. E informei que nos tempos dos militares também havia incentivo à arte de todo tipo, querendo insinuar que os próprios militares não censuravam o homossexualismo, eles apenas não permitiam a massificação de elementos culturais disparados pela mídia, qual atitude mereceu meu elogio no comentário. Escrevi também que mesmo nos tempos militares, que Jair Bolsonaro acha que representa, também se gastava dinheiro público com eventos culturais.

Mesmo a postagem recebendo pra lá de 700 comentários, eu sabia que poderia haver manifestações contra o meu, mas não de forma tão alardeante e incoerente. Um sujeito conseguiu encontrá-lo perdido no meio de vários outros, simpatizantes à crítica, e se viu incomodado. Teve o trabalho de ir até o meu perfil no Facebook para procurar o que eu postava e voltou dele para me dar uma resposta cheia de ódio. Minhas publicações que ele selecionou só lhe foi possível acessar porque eu as classifiquei como públicas. Meu segundo erro nessa questão.

No mural do meu perfil circulava uma postagem de um jpeg instruindo as pessoas a não votarem na Dilma para o senado mineiro. Pelo menos três dos meus contatos compartilharam esse jpeg. Uma delas eu sabia ser bolsonariana, logo, instruía a não votar na Dilma por devoção à causa do mentor dela. Irritado com isso, resolvi publicar que eu iria votar na Dilma por não dever nada a ninguém e por não ser burguês. Com “burguês” eu quis dizer que em Minas Gerais se a Dilma não ganhar, ganha o Anastasia (PSDB), ou seja: os burgueses. Como não sou burguês, por que eu votaria no Anastasia? É o mesmo caso do Bolsonaro: Se pra mim é indiferente o PT acabar, pra que vou votar num cara que a preocupação dele é só acabar com o PT?

Nisso, da janela do quarto eu ouvia uma multidão soltando foguetes, tocando funk em alto volume e fazendo algazarra cantando hino de time de futebol após o “Parabéns pra você” em uma, obviamente, festa de aniversário. Isso já eram 23 horas. Há uma lei que diz que em zonas residenciais o barulho a essa hora deve ser diminuído. Bradei contra a perturbação e me desabafei indo para o Facebook postar uma foto do Caco Antirpes e o seu “Não basta ser pobre” se referindo ao alarido que pobre faz em suas comemorações. Eu queria aludir ao fato de que no Brasil há leis, mas, não se cumpre e nem fazem cumprir. Pergunta se apareceu a polícia mesmo havendo solicitações? E a outra coisa que eu quis aludir era que pobre tem certas manias que são por causa delas que a gente pasta com esses políticos usurpadores da baixa qualidade intelectual dos membros das classes populares, que eles determinam olhando para os hábitos desses membros. Não é porque não sou burguês que tenho que concordar com muitas das coisas que pobre faz.

Daí, o sujeito voltou com essas duas referências à postagem que comentei e me atacou dizendo que eu não dizia nada com nada, que não concluía raciocínio, que eu falei que ia votar na Dilma e que falei que não sou burguês, mas, critiquei pobre em um post. Terminou me chamando de petista. Esse contra-comentário foi não só o primeiro, mas, o erro derradeiro desse sujeito.

Putista” até que sou mesmo; “petista“, nem o PT quer que eu seja. Eu não sou popular, mas, do nada você ter 400 seguidores no Twitter, reunidos organicamente, nada de fake followers, é pra se comemorar. Desses 400 só me restaram cento e poucos simplesmente porque ousei duvidar das informações acerca da prisão do Lula. Falo mais abaixo à respeito. Faço saber que na opinião que dei no post da tal foto eu não deixei claro que eu não poderia ser petista. Se o sujeito achou que eu era bolsonariano é pura falta de capacidade analítica dele.

A postagem em que eu dizia que iria votar na Dilma para combater a que instruía a não votar na petista teve a visita, autenticada com um clique de reação, de uma das pessoas que propagaram a instrução que combati. Ou seja: concluí meu objetivo (e raciocínio) de ter minha resposta enxergada.

Nos comentários da publicação eu explicava que na verdade eu não votaria em ninguém e que ninguém mereceria o meu voto e que eu só quis dizer para uns e outros que voto em quem eu quiser e que eu tinha mais razões para votar na Dilma do que no PSDB (o cara que reagiu ao status e que havia compartilhado a instrução tem pensamento tucano).

Um colega, então, comentou que não votar não resolve o problema. Aí eu vi oportunidade para me expressar quanto ao que acho sobre tudo o que está acontecendo na mídia: prisão do Lula, popularidade do Bolsonaro, controle velado da política pela Mídia e pelo PSDB. Eu escrevi isto:

O sujeito que compartilha isso é eleitor do Bolsonaro. Só que eu tenho certeza que esse candidato é só um flanelinha, quando chegar a hora H ele vai dar de mão beijada para o PSDB o público que ele conseguiu colher, que nem fez a Marina Silva em 2014. E ele vai ter irritado tanto os esquerdistas com essa paranoia de exaltar o sistema militar, falar contra o socialismo, ofender negro, ofender homossexual, que esses eleitores, que jamais votariam no PSDB – de fato é a pior opção – vão votar só pro Bolsonaro não ganhar. A mídia vai preparar isso e todos vão cair que nem patinho. E tem dedo do PT nesse golpe. A prisão do Lula é fachada pra impedir ele de concorrer porque ele próprio não quer ser eleito porque sabe que é a vez do PSDB voltar pro posto conforme a regra de um certo conluio que está por trás desses partidos tudo e articulou esse golpe.

Mitificaram o Lula pra ele se tornar praticamente o único candidato da Esquerda realmente elegível. A Esquerda e os esquerdistas cairam que nem patinho não criando um substituto à altura. Logo, se o Lula não concorrer, sem chance de a Esquerda ganhar, que é o que interessaria ao pobre e ao trabalhador. Votando ou não votando a gente está deixando de votar.

Outro dia eu falei para um amigo, que está abilolado com esse Bolsonaro, que se a escolha fosse votar em Intervenção Militar ou nos candidatos reais ao posto de comando do Brasil, eu escolheria isso, mas não votaria no Bolsonaro porque ele é muito suspeito. Entre ter o Congresso tomado novamente pelos militares e sustentar lá esse bando de corrupto, de todos os partidos, que estão e que vão entrar lá, a gente estaria melhor amparado deixando as coisas por conta dos novos generais. Tem militar que já demonstrou que é confiável e que tem muito mais competência pra colocar ordem na casa. Nós não estamos melhor hoje do que estávamos nos tempos militares não. Eu vivi essa época e sei que não.

No fundo, o sujeito que incomodou com o meu comentário no post da tal foto ficou foi irado com o fato de eu chamar de lixo tudo quanto é coisa que apareceu no Brasil com esse nome dos anos 1990 pra cá. Falar que é mentira que o Governo Militar censurava qualquer tipo de expressão artística – até a homossexual – é falta de informação. Eu não sei sobre aqueles idos lendo nos livros da situação (regime civil), a história contada por quem está no comando, eu simplesmente vivi aquela época. Os “Secos & Molhados“, pra mim mola propulsora do homossexualismo no Brasil, é um exemplo que dá razão ao dito. E que o mesmo governo não empregava dinheiro público em projetos culturais é outra tolice. Basta lembrar das “Olimpíadas do Exército“, que reunia em uma Capital brasileira à cada ano todo o elenco da cultura e do esporte brasileiro da época.

Ou seja: pela minha opinião, que é a mesma que eu sempre coloquei aqui, não dá pra saber se sou esquerda ou se sou direita. Sou o que for melhor para o Brasil. O que me faça viver com dignidade e sem ser vendido para estrangeiro. Membro de classe nenhuma por não haver distinção de classe. Ao pé da letra, isso tá mais pra comunista, eu sei, mas o que chamam de comunista no discurso político brasileiro não tem nada a ver com isso. Se o meu oponente ficou tão irado com uma opinião que mais agride o petista do que um suposto representante dos militares, vai ver ele é que é o petista. Mas, pelo menos me fez ficar mais atento quanto a dois atos: não entrar em discussão no Facebook de quem não se conhece, mesmo recebendo algo em seu inbox, e não utilizar o alcance público em suas publicações. Publique só para os amigos.

Por isso é que em vez de eu voltar na postagem criticada para responder ao imbecil eu preferi escrever este texto. Afinal:

Nunca discuta com um idiota, pois, ele vai te arrastar até o nível dele e vai vencer a discussão por já ter experiência no nível“.
(Mark Twain)

 

Amor de jóquei

Deixado o partidor havia alguns segundos, velozmente urrava um cavalo na pista de um hipódromo. Quando juntava com uma só mão as rédeas e esticava o braço livre o jóquei, o reio de couro cru descia, batia no dorso do animal e subia impiedosamente. Tamanha era a ânsia do pequeno homem trajando farda branca e capacete, montado em um selim e equilibrado com os pés em estribos, ambos acessórios arranjados sobre a cacunda do equino. Inclinado e com o rosto junto ao pescoço do animal, as esporas das botas do homenzinho cutucavam as virilhas do bicho a fim de aumentar a velocidade de seu galope pelos duzentos metros da pista circular.

Determinado a no páreo superar os outros cavaleiros e chegar ao final do turfe na condição de ocupar o ponto mais alto do pódio, o jóquei alimentava em vez de garra uma expressão de ódio, delineada pelos olhos fixos na crina à sua frente, pretendendo enxergar logo a reta final. Qual posição de chegada facultaria uma premiação que se adviesse fadaria ao esportista viver a desejada vida de estrelato. Por isso não importava para ele se quanto mais veloz o ginete corria, mais na alma lhe doía.

50, 60, 70 quilômetros por hora a arrastar 450 quilos de carcaça e mais o peso do homem em seu lombo e o restante em acessórios, a obediência do cavalo se explicava pela sua inferioridade dada pela sua qualidade de ser vivo irracional. A sofreguidão lhe era insensível devido à alta taxa de adrenalina jorrada em seu sangue ao ritmo de 200 batimentos cardíacos. Sequer o condutor tinha tempo para observar a carga hormonal que o corcel herdava sem pedir. Senhorio e escravo alinhavam-se em busca da vitória que traria glórias ao primeiro e alívio ao outro. Cifras prodigiosas para os apostadores de trifetas, quadrifetas, exata e apostas de outros mercados.

Nessa história de sucesso, tendo tomado ciência de que sequer seria necessário tira-teima, pois a eficácia de seu puro-sangue inglês minara a disputa cabeça a cabeça ao atravessar a linha de chegada, a alegria tomara conta do homenzinho em cima do cavalo. Um amor enorme por seu puro-sangue lhe embriagou. No ponto onde foi possível ele freou seu campeão. Desceu da sela e abraçou agradecio o bicho pelo pescoço, colando cabeça de um na testa do outro.

As mesmas mãos que até pouco tempo açoitavam o animal, a ponto de lhe arrancar gotas de sangue no flanco, agora afagavam, acariciavam desprovidas do chicote. Emanavam ambos uma energia intensa e contagiante, que o cavalo só queria saber de absorver e o humano de doar o quanto fosse possível. Os animais reconhecem as energias que os humanos emanam muito mais do que seus atos. E o que trás alívio e prazer eles não dispensam. É a única forma funcional do perdão, o perdão natural.

Pena que essa devoção e gratidão não durará muito. O destino de um será gastar milhões em dinheiro durante os tempos de glória e o do outro servir ao espetáculo do turfe somente enquanto fosse útil. Não mais servil, incapaz de proporcionar milhões ao seu proprietário, se este não se prostrar tão insensível ao ponto de dar o destino do sacrifício em um matadouro ao seu potro, este poderá puxar carroça para algum transportador anacrônico ou esperará em algum estábulo-orfanato por alguém que lhe queira como companhia pelos dias restantes de sua vida. Quaisquer desses tutores lhe dará certamente muito mais amor.

Jamais se aproxime de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota por qualquer dos lados.”
(Provérbio Judeu)

Reflexões como esta você encontra entre as crônicas do livro “Todo o mundo quer me amar“. Adquira!

Para sempre mulas de burguês

Se tem uma coisa que me indigna é observar nas ruas e em outros locais públicos e privados o povão fazendo virar verdade aquilo que através da mídia preconizam. O mundo pensado para o pobre pelos burgueses.

Eu me lembro de quando estreou a telenovela “Escrava Isaura” na TV Globo. Era o ano de 1976. Havia um programa de auditório aos domingos, provavelmente com o Moacyr Franco, e nele foi apresentado o elenco. Todos esperavam a aparição da atriz que ia fazer o papel principal, esperavam que fosse uma mulher negra. Minha primeira e incompreensível surpresa estava aí.

Depois vieram os capítulos da telenovela. Rapidamente, Lucélia Santos virou uma espécie de namoradinha do Brasil. Branquinha, suave, meiga, angelical. A inocência em pessoa. Era assim que a atriz era vista no meio em que eu circulava.

Uns dois anos mais tarde, na TV Tupi começou a passar uma sessão de pornochanchada brasileira chamada “Sala especial”. Audiência garantida na sala de estar das casas da rua onde eu morava. Os garotos, saindo dos treze anos de idade, viraram notívagos. Persistiam acordados até as onze horas da noite para verem, escondidos dos pais e irmãos mais velhos, peitos, nádegas e pentelhos das principais atrizes que atuavam no Brasil. Muitas delas eram estrangeiras, diga-se de passagem.

E numa das noites em que eu bravamente resisti ao sono tentador de sexta-feira, vi um filme em que Lucélia aparecia semi-nua. Uma cena em que jovens dentro de uma mansão se divertiam em uma piscina.

Para mim foi um choque. Nunca pensei que aquela pessoa meiga e angelical que conheci sofrendo nas mãos de um senhor feudal fosse capaz de tamanha exposição em película, tamanha indecência. Abalou-me profundamente, sem eu entender direito o porquê. Tipo: tirou-me a paixão ou a confiança em quem eu de repente sonhava um dia conhecer alguém parecido e findar um grande e inabalável romance.

No sábado seguinte, meus amigos todos comentaram a cena. A maioria era da minha idade, mas, parecia mais informada do que eu. Mesmo todos nós frequentando os mesmos antros. Tendo aquelas dificuldades que naqueles tempos militares havia e que narrei minuciosamente no livro “Os meninos da Rua Albatroz“. Um dos mais espertos deles, que recebia informação boa de seus irmãos já maiores, associou a libertinagem que me chocou à coisa corriqueira do meio artístico.

E tudo aquilo que nos metia medo e que vivíamos a evitar trafegar no caminho foi também associado. Drogas, orgias, satanismo, obscenidade, tatuagem, anarquismo – se fazendo passar por comunista por puro modismo -, homossexualismo. Tudo isso virou coisa de artista. E nesse momento, meu respeito e admiração por qualquer artista se extinguiu. E abruptamente me vi obrigado a amadurecer. Sinceramente digo: o mundo sem a minha inocência ficara pior.

Mas, eu fiquei mais observador. E notava que a classe artística, olhando não só pela estirpe dos membros, mas, também para o histórico pessoal, genealogia e etc., era majoritariamente formada por burgueses – filhos de magnatas, gente de berço – ou pelos amigos que eles selecionavam para poder estar até certo limite entre eles – os mulas nobres. Já naquela época, burguês era gente que nunca ia ter problema com nada e que podia fazer o que quisesse, mesmo havendo suposta censura, pois seus pais ou padrinhos estavam por trás dos generais.

Ou seja: gente como eu e meus colegas jamais seria como eles. Por mais que a gente os devotasse. Jamais passaríamos de contribuintes. Compradores de revistas masculinas, pagadores de bilhetes para ver filmes no cinema, audiência da programação das madrugadas da televisão.

Em pouco tempo isso foi nos cansando, nos esfregando verdades na cara e nos fazendo nos sentir impotentes, medíocres, os paga-pra-ver os outros desfilarem suas vidas de pessoa de sucesso. Isso nos indignava ao mesmo tempo que punks gritavam pra gente ouvir “do it yourself“. A gente até procurou aprender a ler inglês. Isso os burgueses não queriam que a gente aprendesse, mas, estávamos rebelando, não?

E a partir daí, a minha turma da infância e adolescência, não só os meninos, passou a buscar mais a fazer a sua história e a ver menos TV e ler menos revistas.

Creio que essa real bateu em grande parte dos jovens que sofreram essa espécie de epifania em todo território nacional. E isso deve ter sido percebido por aqueles que simplesmente administravam a população. Foi aí que começaram a trazer para o nosso mundo o admirável mundo deles. O cotidiano do pobre passou a ser o espelho do do rico.

O primeiro lixo do meio bem abastado de dinheiro que jogaram pra gente engolir foram as drogas. Maconha e cocaína o de praxe. Mas, naquele primeiro momento era possível eu ver perto de mim alguém portar LSD. Ou seja: A droga chegou ao pobre por uma necessidade dos ricos. E é mantida até hoje por causa disso. Eu sei, eles falam que combatem e que estão preocupados com a violência e com a nossa saúde! Por um lado saiu do controle deles e há gente pobre ganhando o dinheiro que eles pensam que deveria ser deles e houve quem despertasse mentes cantando “Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês“.

Depois veio o resto da cultura deles e hoje a gente nem consegue saber o que é fenômeno oriundo do meio miserável e obediente e o que é produto de viabilização mercadológica promovida por burgueses. O grande exemplo dessa dúvida que vemos hoje em dia é a cultura inerente ao mundo do funk. Você não acha que esses MCs têm inteligência suficiente para sozinhos, sem qualquer mãozinha branca interessada de burguês, serem capazes de fazer um movimento massivo acontecer, chegar à televisão, influenciar a baderna em massa como influencia, acha? Falamos sobre isso em outra postagem, com mais detalhes para você refletir se sim ou se não.

E o que carcome a sociedade atualmente chamam de cultura de massa em vez de cultura massificada. Afinal, foi isso que aconteceu: artificialmente massificaram a cultura que os interessavam, que dá lucro e mantém as coisas no lugar, com rico mandando em pobre. Mandam até em quem a gente deve votar. É bem capaz de um Geraldo Alckimin ganhar essa eleição presidencial que vem aí só por causa dessa herança maldita. Já estão articulando pra isso.

Você que leu o livro “Os meninos da Rua Albatroz” deve ter sentido que este texto resume bem o que é discutido no livro. E dá o clima também!

A prova de que você não é assim tão anônimo

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E de repente você resolve publicar em seu perfil no Twitter que a Copa do Mundo é uma farsa. Informa que tudo estava sendo preparado para dar dois grandes, ex-campeões, na Final. Inglaterra X França, por exemplo. E aí se depara com um confronto entre França X Croácia e se vê desacreditado junto à sua pequena audiência na rede social.

Você é um anônimo. Há milhões de sites, blogs e perfis de rede social na internet. Quantos irão entrar em contato com o que você diz ou escreve?

De repente, você começa a achar que o que fizeram foi se impressionar com a possibilidade de você estar seguro das informações que dava e resolveram mudar tudo. A Inglaterra teria ter tido que ceder inclusive o Terceiro Lugar para a Bélgica para não sabotar totalmente o plano original, que seria dar essa posição para um estreante nela para que as copas futuras se tornassem mais atrativas em matéria de quantidade de seleções com histórico de medalheira e aumentar a quantidade de favoritos ao título para ficar menos previsível e estimular mais as expectativas comerciais que proporciona ao evento o interesse do público.

Você mesmo sabe que tudo não se passava de intuição sua ou que às vezes não exatamente isso, mas, apenas a sua capacidade criativa sendo usada para criar teorias conspiracionistas ou intrigas aos poderosos do planeta, que estão por trás dos eventos megamercantis como a Copa do Mundo. Mas, se encuca: “como teriam chegado à minha postagem e se preocupado com o alcance dela ao ponto de mudar algo que já estaria combinado”.

Nós humanos temos um grande poder dormindo em nós, que é o de criar verdades. Mentiras ou suposições são como verdades antecipadas. E também temos uma capacidade telepática enorme. O que você pensa ou intui pode ser o que se passa na cabeça de milhares de seres humanos em todo o globo terrestre.

As pessoas possuem eletrons em comuns orbitando em si. Às vezes em uma delas o elétron é peça lhe fundamental, está muito próxima dela; às vezes ele gravita bem distante do corpo de alguém que ele também ajuda a compor. E os elétrons que compõem um corpo comunicam com os de todos os outros corpos que ele ajuda a compor. É por isso que acontece de muitas das ideias que temos encontrarem semelhanças em ideias que alguém propôs no outro lado do planeta.

Pessoas com afinidade no nível subatômico possuem pensamentos parecidos, interesses parecidos e são atraídas para lugares parecidos, às vezes para o mesmo lugar. E podem nem vir a se conhecer se o Universo não der uma mãozinha, o que é quase inexorável de acontecer. A Física Quântica vem sugerindo isso. Batizou de “Emaranhamento quântico”.

E alguém nessa multidão de gente semelhante vai ter cacife para fazer aparecer para muito mais gente do que você as proposições que tece. Pode ser que essa seja a resposta para sua pergunta: “como souberam sobre minha opinião se sou tão anônimo”. Na verdade, cada um de nós somos muitos. Ou: somos todos um. Aposte nisso!

Tudo o que vemos a grande imprensa trabalhar diariamente, por exemplo, não passa de verdades antecipadas. Colocam no ar uma sugestão como se fosse plena notícia, de um modo bem didático e envolvente, e influenciam aqueles que se expõem ao trabalho a acreditar nele e replicar a desinformação. Em pouco tempo ela vira informação válida.

Produza em sua mente aí agora uma palavra e a pronuncie. Vamos supor: “plasmuliu”. Pronto, “plasmoliu” passou a existir. Além de na sua mente, na forma de energia sonora. Não precisa fazer sentido algum a palavra; não precisa fazer efeito algum para quem a ouve.

Para que plasmoliu vire uma coisa você terá que associar a palavra a algo cuja existência ou relato da existência você conhece. Você fala isso para os outros, de maneira a persuadí-los e eles repetirão o que aprenderam. E daí para frente, aquilo que você nomeou como plasmoliu ou adicionou plasmoliu aos seus significados ganha o termo.

Por exemplo: você pode fazer pessoas acreditarem que plasmoliu é um tipo de cadeira. Descreve a cadeira, de preferência daquelas bem incomuns, e toda vez que a sua plateia lidar com aquele tipo de cadeira irá se referir a ela como plasmoliu. E se alguém que sabe o nome certo do objeto lhe fizer uma refutação, você irá dizer para todos que além do nome que o refutante dá, o objeto também é conhecido como plasmoliu. E isso virará verdade. Só mesmo um estudante de etimologia é que vai saber dizer quando certo tipo de cadeira ficou conhecido também como plasmoliu.

E tem mais: Se você for inventor, tratará de colocar uns apetrechos na tal cadeira e batizá-la como plasmoliu. Simplesmente plasmoliu viraria uma coisa distinta.

Agora, e quando além de pronunciar você também escreve o neologismo que você criou? Quando algo é grafado – escrito ou desenhado – ele passa a ser matéria visível. As pessoas veem a palavra ou o desenho e dão-lhe a forma que lhes parecem. Vão algumas delas procurar sentido para aquilo, mas, todas elas entraram em contato material com o que saiu da cabeça de alguém, da criatividade de alguém.

Sendo assim, o que você escreve no Twitter, queira você saiba o que escreve, queira apenas intua ou diz por dizer, passa a existir materialmente para todos que o lerem. E se for a antecipação ou a presunção de algo, o que advir é o que os farão julgar a qualidade da sua informação. E só você saberá se eles estarão a ser justos ou não com seus julgamentos. E também só você poderá os deixar com uma pulga atrás da orelha se você questionar: “eu estava errado ou quiseram me desacreditar”. Ou melhor: “NÓS estávamos errados ou quiseram NOS desacreditar”. Você agora entende o porquê do plural. E sabe que basta haver a insinuação de haver muitas pessoas propagando a mesma informação para que volte para esta a crença nela.