E não é que a história de vender opinião que contei aqui rendeu?
Na volta do boteco — de um sujeito que não votou no Bolsonaro, por isso não estou boicotando —, onde gastei parte dos sessenta reais me pagos por uma opinião que dei sobre o que penso sobre o Lula, tive que passar em frente ao bar onde ganhei o dinheiro.
Jazia ainda por lá a turma que havia me abordado. E me vendo, o sujeito que me comprou a opinião quase saltou sobre mim pra me interpelar novamente.
Desta vez ele quis saber por qual motivo eu achava que Lula estaria preso. Posando de quem iria à forra me deu duas notas de dez reais.
Quis ponderar que eu lhe devolveria em dobro o dinheiro caso minha resposta não o convencesse, mas, sabendo que convicção é estado de espírito que se escolhe estar ou não nele, não aceitei.
Bastante convencido de que desfaria perante seus colegas a imagem que lhe facultei, topou a transação.
Respondi: “Lula está preso porque o juiz Sérgio Moro o decretou prisioneiro”. Encerrei.
Nisso, o sujeito, abrindo as palmas das mãos e as afastando lentamente uma da outra, se queixou: “Não acredito que você vai querer ganhar mais quarenta reais pra discutir uma resposta óbvia dessas”.
“É a minha opinião”, ressaltei.
“E eu tive que pagar pra ouvir isso”, lamentou o homem.
“Se não está satisfeito, é porque você faz péssimos negócios”, repliquei.
E concluí: “Mas é bom que você seja assim. Poderia estar preso. Lula não está preso, está detido. Isso porque ele é bom negociador. Se ele estivesse livre, acha que esse entreguismo todo de direitos do povo, riquezas, território e soberania do Brasil estaria acontecendo assim sem estudar-se opções democraticamente? Sem haver no mínimo negociação com as bancas que representam o povo?”
“Se a elite poderosa por trás dos governos exigisse pra ele o que exigiu ao Temer e que Bolsonaro dará continuidade, ele saberia negociar de maneira que o povo saísse menos ou nada prejudicado.
Criaram um crime pra ele, arrendaram o Judiciário para sentenciá-lo, tudo para detê-lo e impedí-lo de ser candidato à Presidência da república, ser eleito e estragar-lhes os planos.”
O coronel reformado viu pontos na dissertação que fiz em que ele achou que pudesse atacá-la.
Eu ja sabia o que ele diria. E falar daquelas provas plantadas a respeito da propriedade indevida de um sítio e de um triplex, medíocres perto dos quase 500 bilhões roubados do Banestado que deveriam ter sido apurados e prestado contas do paradeiro, além de presos vários tucanos, pelo mesmo juíz que julgou Lula, e mais outros esquetes ajeitados para a mídia convencer os incautos da legitimidade da condenação, foi o que fez o tipo.
Então, respondi pra ele o que ele já devia saber que eu responderia: “Não discuto opinião que você comprou de outro vendedor”. E me mandei pra casa, deixando pra ele os quarenta reais pelo ensaio do debate da minha opinião.