Nem os heróis de Cazuza morreram de overdose

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IMAGEM: Movimento Diretas Já!

Meus heróis não morreram de overdose”. Disse o General Mourão na Globo em setembro de 2018. Quem tem estômago para assistir qualquer coisa da megera emissora de televisão informa que houve muita apologia ao facismo e à violência em tal entrevista jornalística.

O militar descaradamente fazia uma crítica à música “Ideologia” do falecido cantor Cazuza. Subentende-se que aqueles que criticavam a candidatura de Jair Bolsonaro, da qual Hamilton Mourão era o vice, idolatravam seres que estouraram na mídia como formadores de opinião, principalmente do tipo que Mourão abomina, e que associavam suas razões ao vazio e fútil mundo das drogas. Demonstrado isso, gente como o Mourão seria de melhor estirpe por idolatrar pessoas supostamente portadoras de ideais mais nobres, mais necessários à vida e à sociedade e que podem levar a raça humana a um avanço.

Há, no entanto, vários equívocos no que Mourão quis dizer e principalmente em sua interpretação da frase de Cazuza.

“Morrer de overdose” qualquer pessoa está predisposta a morrer. Quem bebe água além do que comporta seu corpo pode morrer de overdose de água. Qual a falta de hombridade em se morrer de tanto beber água?

Na letra da música esta frase está solta, sem nada a limitando ao submundo das drogas. Se você quiser entendê-la por meio de conotação sexual – overdose de sexo, por exemplo –, a interpretação é toda sua. Na sua mente é você quem manda!

Penso que para se concluir o sentido que Cazuza quis dar é necessário analisar a letra da música por um todo. A começar pelo título “ideologia”, passando pelo que após esta palavra vem no refrão: “eu quero uma pra viver”.

Cazuza poderia não estar falando de si, mas, da geração vigente no momento em que esta letra foi criada, 1988. Cujos filhos chegaram aos trinta anos de idade neste ano em que Jair Bolsonaro concorreu e venceu a eleição presidencial. Com toda certeza, o ex-capitão do Exército contou com voto em peso desta moçada.

Aquela geração estava perdida em incertezas. Tinha a democracia, um brinquedo novo, toda à sua disposição. E não sabia o que fazer com ela. Não sabia por onde começar a viver a Revolução proporcionada por seus pais. Achou que democracia era sinônimo de “tudo pode” e se rendeu ao mais persuasivo: o consumo de drogas.

E hoje, o que se nota nas ruas é o reflexo daquela geração. O monstro que tomou forma, agigantou e criou independência. O filho fuma maconha com o pai; a mãe abandona seu bebê por causa do crack ou da cocaína. Tudo isso por falta de uma ideologia. A falta de alguém que mostra um caminho melhor. Que com certeza não é colocar em sua mão uma arma.

O Brasil redemocratizou, mas, não cuidaram de dar suporte ideológico para o povo. Era disso que falava Cazuza, se colocando como um daqueles entes, mesmo não sendo um deles, pois o artista tinha um potencial ideológico muito forte.

E usando de sua credibilidade junto ao público, tentou dizer pra ele que estavam indo para o lado errado. Criticava seus hábitos e seus ícones, gente que se matou de tanto se drogar. E a eleição de Fernando Collor de Mello provou que Cazuza estava certo.

Hoje se repete os mesmos erros. Mas não porque não houve quem instruisse o povo a votar melhor ou a se comportar melhor. Sim porque a hipocrisia fala mais alto. A hipocrisia da mídia, das escolas, das igrejas e principalmente dos políticos. O mesmo sujeito que diz que seu herói morreu crucificado coloca no poder seus amigos, todos antagônicos à doutrina cristã quando pregam a violência, a tortura, o racismo, a homofobia, a xenofobia. Todos envolvidos com a corrupção.

Então, Mourão, só posso parafrasear Cazuza para lhe pedir que “Mostre a sua cara, pois, eu quero ver quem paga pra gente ficar assim”. Eu sei que você sabe.

Leia o livro “Os meninos da Rua Albatroz“.

Prenda o Aécio, solte o Lula e casse a Rede Globo se você for homem!

Se não fores, deixe tudo como dantes no castelo de Abranches. A essa altura já se sabe que o povo não votou por mudanças mesmo!

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IMAGEM: Blog do Covas Jr.

Começa assim: A família Bolsonaro se vê em maus lençóis por causa de um suposto mau hábito de pregar a máxima “menos direitos e mais empregos” para o trabalhador e ter que ver seu motorista tendo que pagar à patroa salários por meio de depósitos na conta dela. Falsidade ideológica? Não, lavagem de dinheiro mesmo!

Isto deu um bafafá descontrolado, fora da gestão trivial realizada com o subsídio que a imprensa corporativa costuma receber de ‘patrocinadores’. Tanto pelos opositores quanto pelos apoiadores da família.

A merda toda é que isto poderia atrapalhar a posse como presidente da república do Bolsonaro-mor. Logo, alguém tinha que fazer o trabalho de desviar a população do assunto. Fazê-la falar de outra coisa até o dia da posse, quando ficará muito mais fácil legitimar qualquer atitude, boa ou má, dos membros da corte presidencial.

Tentaram então jogar luz na suposta tara do medium João de Deus. Teve lá sua contribuição o escândalo espalhafatoso envolvendo estupros que teriam sido praticados pelo medium, desde há muito tempo, com vítimas brasileiras e estrangeiras, durante suas sessões de cura espiritual.

Passou a embriaguês midiática e o povo voltou a focar no caso do motorista caridoso. Daí, veio a expectativa de Lula conseguir um habeas corpus. Noticiário que ganharia o interesse de toda a multidão interessada em ver o circo pegar fogo para os Bolsonaro. Tanto os que gritavam e escreviam “Lula livre” Brasil a fora, quanto os que se indignariam ou ficariam comprometidos com Lula solto.

Os moldadores de opinião especialistas em desviar a atenção da população acharam que o efeito seria melhor se na hora final da duração da viseira dessem que todos os que foram presos em julgamentos de segunda instância fossem libertados para o Natal, menos o Lula.

Só que a comemoração dos que já estavam predispostos a inocentar os Bolsonaro não foi mais produtivo como tapume do escândalo que os envolvia como foi a volta ao objetivo de os encarcerar com que os que queriam Lula livre se dedicaram. Voltou a melar o esquema. A Globo só perdendo! Mostrando cada vez mais que só consegue influenciar quem se deixa influenciar até com uma moedinha paga para calar-lhe a boca.

Eis, então, que mexendo os pauzinhos, os curandeiros de reputação entregaram para o público se deliciar, videografado até, o capítulo em que policiais encontram em um fundo falso de armário na casa de João Teixeira de Farias, o João de Deus, cinco armas de fogo e o equivalente a R$405 mil em dinheiro. Eles não são fracos não!

Mas foram. Nem firulou os caçadores de reputação na cola dos Bolsonaro. E o tempo só passando. E Jairzinho sem o que fazer.

Eis que surgiu o medíocre caso da casa da mãe joana… ops: mãe do Aécio. A PF – Polícia Federal – teria mirado no ainda senador mineiro Aécio Neves, indiciado em escândalos calamitosos, mas, protegido pela Conspiração, e teria feito buscas em endereços ligados ao recém-rebaixado deputado federal.

O furo de reportagem, propagado com muita curanderia pelos veículos das organizações Globo, de modo a parecer querer arrasar com o tucano querido, mas sem lhe arrancar as válvulas de escape, liquida de vez com Aécio Neves? Entrou ele numa fria na tal da Operação Ross?

É uma cartada de mestre. Quem esses esquerdistas e outros opositores de Jair Bolsonaro querem mais a cabeça do que a do Aécio Neves? Eles querem Aécio em ‘Neves’. Ou na Hungria: Nelson Hungria, presídio de Minas Gerais.

Pro tucano, como sempre, não acontecerá nada. Nada. Mas, o noticioso é uma baita cortina de fumaça para manter o povo com os olhos irritados e longe da vida alheia do homem que ruma para o Palácio da Alvorada daqui a duas semanas e precisa que o público tenha total confiança de que alguém, enfim, vai acabar com a corrupção neste país. Passiva e ativa. Mantendo a dele e a da corte, é claro! Mas, sem problemas!

O fato garante o desvio de atenção da massa perseguidora dos Romanov dos trópicos até por mais do que o tempo que se precisa.

Lula, João de Deus e Aécio Neves se interligam na História. Os dois políticos já foram usufruir dos trabalhos do medium. Mexe com os brios da curiosidade essa nova conexão entre eles. Um clubinho de notícias chocantes que apareceram na hora certa para salvar um recém presidente da república de ter sua reputação indo a zero de ibope. Talvez. Né?

Agora, se os Bolsonaro querem se livrar da perseguição de seus opositores de uma vez por todas e ainda lhes arrancar apoio para governar em paz, é só experimentar soltar o Lula e prender o Aécio. E cassar a Rede Globo, né?!

O João de Deus que seja entregue sua sorte à Deus, que é quem sabe fazer justiça. Muito mais do que o Sérgio Moro. Obviamente. E é quem sabe ganhar o crédito do público quando sua obra não parece tão clara. Muito mais do que a Rede Globo. Obviamente.

Leia o livro “Os meninos da Rua Albatroz“.

Presidente Paulo Guedes

Quando o inimigo é útil.

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Temos que nos acostumar à ideia de sermos governados por Jair Bolsonaro e sua esplanada. Não adianta, nem mesmo com a suspeita ajuda da Globo a gente vai conseguir evitar que o homem tome posse. Sendo assim, é hora de encontrar ouro minerando num lixão. Deve ter o que se extrair de bom desse governo que vem aí. O Itamar Franco não ficou em cima do muro, mas, pelo menos não cedeu à corrupção? Então?

A extinção do Ministério do Trabalho como conhecemos, por exemplo, ao meu ver pode ser encarado como uma grande vitória para o trabalhador. Parece que não, né? Deixa eu explicar:

Há dois anos, 2016, eu precisei recorrer ao MT por causa dos abusos que eu e os trabalhadores da empresa onde eu trabalhava sofríamos. Eu tive as seguintes experiências:

Primeiro, passei mais de seis meses, de janeiro à agosto, tentando marcar sessão no órgão para solicitar rescisão indireta devido à não cumprimento pelo empregador das obrigações contratuais para comigo. Eu telefonava pro MT e não conseguia ser atendido. Ia ao estabelecimento da instituição e batia com a cara na porta. Uma tabuleta com os dizeres “estamos em greve” era o motivo. Seis ou sete meses de greve. Pode isso? E pra justificar, a grande mídia noticiava que o órgão não estava recebendo verbas do governo.

Com isso, o que aconteceu? Deu-se o perdão ao que eu ia reclamar e eu perdi o direito da rescisão que eu pleiteava.

Uma amiga minha, no mês de março de 2017, havia me solicitado testemunhar na causa dela e eu aceitei. A audiência dela fora marcada na ocasião para o mês de fevereiro do ano seguinte. Ela acionara a Justiça através do sindicato laboral que nos representava.

Em junho de 2017 eu recebi uma intimação para ir depor pra ela, no dia 02 de agosto, num fórum do MT em uma cidade que não tinha nada a ver com ela ou com a empresa com quem ela conflitava. Aliás, o fórum nomeado no Contrato de Trabalho para resolver as pendengas entre o contratante e os contratados era o de Belo Horizonte.

No início de julho recebi outra vez a mesma carta, relembrando a data da audiência e a multa de dez salários mínimos que eu teria que pagar caso não fosse ao compromisso sem apresentar justificativa. O envio da carta voltou a acontecer no final desse mês.

Compareci ao local no dia e hora marcados. Não encontrei minha amiga por lá. Foi porque o início da discussão em juízo se aproximava é que conheci o advogado da moça, que gritou pela testemunha. Então, ele me disse que a cliente dele não iria e justificou a escolha do local como ser um procedimento normal do meio jurídico, que visa priorizar o deslocamento da testemunha.

É claro que refutei. Era mais fácil para mim seguir para Belo Horizonte. E se a reclamante tivesse duas testemunhas que morassem em cidades distintas e opostas a localização, quem seria priorizado?

Além disso, fiquei desconfiado de algumas coisas que o advogado me pediu para falar para o juíz. No processo julgariam uma indução de pedido de demissão sofrido pela reclamante e já existia a informação de que quem a induziu ao fato, estando ela grávida, no momento do acontecimento estava a sós com a autora do processo, trancafiados em uma sala. Informação prestada pela própria vítima. O advogado queria que eu alegasse que presenciei o fato. Detalhe: No dia dessa demissão eu estava de férias.

Lógico que não fui na onda nem mesmo de falar que eu sabia que ela estava grávida na ocasião. Eu não sabia. Fui lá pra falar sobre o caráter do supervisor que a induziu pedir demissão e sobre eu já tê-lo visto praticando com outros colegas o mesmo ato e outros atos inconformes com os direitos dos trabalhadores.

Aproveitei que o advogado era do sindicato e perguntei a respeito de um processo que eu havia iniciado com a instituição. Tirei da mão deles quando descobri que nada haviam feito. Mais tarde descobri que provavelmente à pedido da empresa eles aguardavam o tempo para que prescrevesse minha petição. Com isso, perdi novamente minha oportunidade de me alforriar daquela empresa escravista tendo todos os direitos ganhos.

Porque eu prestei depoimento no processo dessa minha amiga, a empresa passou a me perseguir. Eu me esquivei de todos os seus truques. E dei bastante dor de cabeça para os gestores quando – devidamente – entreguei mais de trinta dias de atestado médico, de maneira a não entrar em afastamento. Aí, como represália, mudaram o horário do meu expediente, começando num turno e indo até o próximo, 18:00.

Isso me atrapalhava bastante, então, recorri à Justiça novamente para pedir rescisão indireta com base no artigo 468 da CLT, que diz que as mudanças no Contrato de Trabalho, que inclui mudança de turno na duração do expediente, só podem acontecer em comum acordo das partes contratantes.

O MT não estava realizando pronto-atendimento. Nem chegando de madrugada no posto para pegar senha para até 20 pessoas por dia, como era antes. Era necessário ligar para o *156 ou acessar o site do órgão. O site sempre fora do ar em uma ou outra coisinha e o telefone difícil de ser atendido. Mas, com muita dificuldade, consegui marcar uma audiência para agendar uma atermação. Tive que aguardar um mês. Seria em janeiro de 2018 o evento.

A Reforma Trabalhista do Michel Temer havia sido promulgada em novembro de 2017. E na sessão, após saber o que eu ia reivindicar, o auditor do MT me deu uma CLT surrada, aberta no artigo 483 e escrito à lápis uma alínea inexistente na versão original. O homem me disse que era complemento vindo da Reforma Trabalhista.

O conteúdo da tal alínea tirava minha razão e ainda me intimidava, pois, dizia que eu teria que pagar todos os custos do processo se eu perdesse. E na cara dura o velho ainda me disse que os juízes estavam comprometidos em não contribuir com o desemprego e não legar despesas com rescisões para as empresas para não lhes aumentar a crise.

Entendi tudo, inclusive o ar de corrupção, e me mandei dali. Ou seja: sem o Ministério do Trabalho estamos desde há muito tempo. E sem representantes sindicais idens. Todos colaboram para que o sistema trabalhista funcione bem para os patrões e todos defendem o seu ganho nesse sistema. Os sindicatos ganham propinas dos patrões para rifarem os trabalhadores a que representam. Fingem representação. Esta é a realidade que mesmo o governo petista colaborava com ela.

Em meados do mês de janeiro eu fui testemunhar para outro colega. E este ganhou a causa. Reverteu uma demissão por justa causa que recebeu. A advogada dele era particular, mas, também teria aceitado propina desse meio obscuro e o meu amigo só conseguiu ver o dinheiro da causa há poucos meses atrás, considerando que estamos em dezembro de 2018. Como ele conseguiu outro emprego, ficou sem receber o Seguro Desemprego – outra coisa que os juízes agiam para o Estado não pagar – que tinha direito e com certeza não verá retroativos.

Em fevereiro, a amiga já mencionada me telefonou. Perguntou se eu estava lembrado da audiência dela. Eu fiquei pasmo de ela não saber nada sobre a sessão de agosto. E ainda me dizer que teve seu bebê no dia seguinte do provavelmente falso julgamento preparado para lhe queimar meu testemunho e lhe legar a perda da causa.

Se ela não tivesse ficado chateada comigo, achando que eu mentia, não tendo me dado sequer meios de mostrar a ela as intimações de presença que recebi e a cópia da declaração de comparecimento que tive que levar na empresa para ter abonadas as horas gastas no ensejo, eu processaria junto com ela o sindicato, a empresa e até o MT. Todos evidentemente estavam concubinados nesse esquema de lesar trabalhador.

Um tempo depois, uma junta do Ministério do Trabalho esteve na empresa para fazer inspeção. Isso aconteceu depois de uma paralisação de dois dias que os funcionários fizeram guiados pelo sindicato. A greve foi motivada por causa de obrigações salariais que a empresa não estava cumprindo havia cinco meses.

A maioria dos trabalhadores não percebeu, mas, houve um golpe de lide simulada que junto com a empresa o sindicato aplicou nos trabalhadores. Fingindo ajudar os operários, o sindicato buscava filiação, já que Michel Temer havia cortado a contribuição sindical de ser obrigatória ao trabalhador.

Esse episódio foi um tiro no pé para o sindicato, mas, legou à empresa o direito de mandar vários funcionários embora sob alegação de justa causa. Era parte do plano. Ela precisava disso, pois, pensava em reduzir o quadro e queria evitar pagar rescisões com todos os direitos. Os que não foram demitidos assim, pediram conta. Também interessava aos patrões.

Fiz denúncias no site do Ministério do Trabalho e também no da Polícia Federal, convocando esta ao estouro de cativeiro de trabalho escravo e crime de formação de quadrilha. Achei que a visita da junta do MT fosse movida por essas denúncias.

Porém, o que os inspetores do MT fizeram foi uma espécie de tomada de providência para inglês ver. Com ar de visita surpresa, não fizeram mais do que avaliar coisas que certamente a empresa andaria na linha com elas. Tipo: se o ar condicionado estava na temperatura adequada. Para fazer que olhavam também questões morais, pediram aos gerentes para escolherem operadores para eles entrevistarem.

Até fizeram perguntas importantes para os escolhidos, mas, quando todos os operadores esperavam de eles fornecerem respostas que ajudariam a acabar com as injustiças e as fraudes contra o trabalhador, todos se viram frustrados com as que deram os colaboradores escolhidos a dedo. Gente que foi premiada com folga de dois dias após a prestação de favor devido pelas suas respostas. Gente que em seguida foi promovida. Entende?

Outra colega entrou em depressão grave naquele cativeiro. Conseguiu afastamento de cinco meses. Foi obrigada a voltar antes do prazo, pois, não recebeu um centavo sequer do INSS. E a empresa não quis colaborar nem um pouco com ela, pelo menos a trocando de função por uns tempos. Era o cerco ao trabalhador. Melhor ser liberal e não depender do Estado para nada.

Esse tipo de coisa é fruto de uma política velha existente no Brasil. A Reforma Trabalhista iniciou o rompimento com esta política e o que Paulo Guedes já anunciou fazer em seu ministério da economia e do trabalho no Governo Bolsonaro é de extrema importância para moralizar empregadores, juristas, sindicatos e combater o trabalho escravo que este sistema dá permissão para se configurar.

Não só o que ele vem anunciando com respeito ao trabalho, mas, também com respeito à economia mexe diretamente nesse bolo. Essas tentativas de minar a moral do presidente eleito visam impedir elevar esse cerco à outras forças sociais. Querem é continuar com esse negócio de que é só o trabalhador quem paga o pato. Por certo, há a mão de empresários, nacionais e estrangeiros, por trás desses casos que a mídia, fingindo agradar o público, noticia. E, é claro, servidores públicos, como os do MT, que não querem largar as mamatas e querem continuar com a garantia de emprego vitalício. Neoliberalismo tem horror a funcionário público, incluindo político. Por isso, tem político também nesse grupo.

Só que essas investidas só atingem Jair Bolsonaro, considerando que os filhos dele são uns ninguém no escrete que se dirige para a presidência. Se forem elas suficientes para fazer cair o presidente eleito, ele cairá sozinho. Seu vice assumirá e os ministros tocarão os planos já traçados. De liberar a economia, mas, também liberar o trabalhador. Chegou a hora de admitirmos isso e parar com as picuinhas ou de deixar de ser ingênuo aquele que não consegue enxergar que na verdade aquilo que Getúlio Vargas implantou era bom para aquela época ou, atualmente, para países que empregam o socialismo na íntegra.

Se há alguma chance de impedir de tentarem acabar com a política escravista que abrange o trabalho no Brasil, com a frágil economia que depende de que empresas sem utilidade existam só para empregar, pagando com muito sofrimento o salário mínimo aos funcionários, evitando o máximo de eles alcançarem remuneração variável, o que resume a modalidade à cativeiro de trabalho escravo, e com as oportunidades de corrupção estando o país envolto de empresas e faculdades públicas, transporte público, sistema de saúde pública e políticos safados que administram essas entidades, esta chance reside em deixar Jair Bolsonaro em paz e empossar de vez.

Sem ele no posto, o país caminhará para o parlamentarismo que Temer tanto gostaria de implantar e o que hoje é conhecido como presidente da república passaria a ser chamado de primeiro ministro, que fatalmente seria o do ministério mais importante de cada governo, que no novo será o da economia e do trabalho.

Este texto foi compilado reunindo histórias de terceiros, mesmo a parte contada em primeira pessoa. Antes de me tacar pedra, reflita: Se quisermos continuar com a política socialista que desde de Getúlio Vargas 1930 temos aplicado ao trabalho, então, temos que brigar para que o país seja socialista em todos os setores. Do contrário, o trabalhador vai continuar recebendo chicotada do patrão. E o consumidor sendo enganado pelos trabalhadores, que recebem chicotadas exatamente para isso. Discorro em outra postagem esta parte do assunto.

Vivendo num país sem Esquerda

Jair Bolsonaro colocou no ministério das relações exteriores um blogueiro cuja obsessão diz ele ser o combate ao marxismo cultural. Afinal, que porra é essa? Será que isso existe? Combate ao marxismo cultural ou emprego de facismo ideológico?

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Bem, para explicar para si mesmo o que quer que seja isso, é preciso desmembrar os termos dessa combinação lexical. Marxismo é, conforme o Google, “um conjunto de concepções, elaboradas por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), que, baseadas na economia política inglesa do início do Séc. XIX, na filosofia idealista alemã (esp. Hegel) e na tradição do pensamento socialista inglês e francês (esp. o chamado socialismo utópico ), influenciaram profundamente a filosofia e as ciências humanas da Modernidade, além de servir de doutrina ideológica para os países socialistas”. E cultural refere-se à algo que ganha certa característica ou adesão por meio da cultura dentro de uma sociedade.

Logo, estariam querendo impedir que através da cultura a população absorva as características dos ideais marxistas. Um similar do marxismo cultural seria o “American way of life“, que molda o brasileiro desde os anos 1950 a absorver os valores culturais dos estadunidenses da América.

Isto é, em outras palavras, ditadura, imposição ao indivíduo de qual cultura ele deve absorver. Enquanto o american way of life trabalha sutilmente, invadindo nossas praias em silêncio, trocando espelhos por território, como era feito com os índios da época da colonização portuguesa, o marxismo sofre arbitrariedade por simplesmente não agradar quem está no poder. E estamos em uma democracia, não é mesmo?

A verdade por trás do tal combate é outra. A população absorvendo a ideologia do viés marxista ela fica mais esperta, não se submete às futilidades e ao consumismo que o capitalismo necessita que ela se submeta e também não aceita se encher de crenças tolas, como as que enche o cristianismo e outras religiões. E o trabalhador não deixa por menos e o patrão deve andar na linha com ele.

Daí ficam sem vender seu produto o burguês, sem ver fiel na sua igreja o líder religioso, sem capacidade de governar o governante que precisa que seus súditos sejam burros e incapazes de questionar seu governo, sem audiência a mídia e sem saída para seus jornais a imprensa. Muita coisa que faz o capitalismo girar corre o risco do fracasso.

É por isso que querem derrubar a pedagogia construtivista e implantar a tal “escola sem partido“, que de apartidária não possui nada. Sejamos espertos e desenvolvamos senso crítico enquanto ainda podemos.

Agora, quem se deixa seduzir por essas bobagens que o novo governo anda propagando precisa saber mais sobre o que seu sedutor quer que ele adira e ajude a combater. O marxismo cultural é só uma estratégia para arrancar adeptos ao marxismo. Ele é formado por diversas táticas que vieram à luz a partir dos anos 1920, com o advento da Escola de Frankfurt, um movimento intelectual que existiu na Alemanha.

E Jair Bolsonaro e sua trupe abusaram do uso dessas táticas. Inclusive, quem foi cooptado por ele foi vítima do emprego dessas táticas, que ele próprio adotou. Os fakenews, sobretudo o do Kit Gay, foi a principal de todas. Em segundo lugar foi o golpe de chamar de esquerdista (ou, sem qualquer nexo, de comunista) tudo que ele (Bolsonaro), ou a gente por trás dele, queria combater.

Passando pela Antônio Carlos, em frente à UFMG, por volta das sete da noite, pude ver em dois bares à borda da pista da avenida, sentido Lagoa da Pampulha, uma galera de estudantes amontoada, um verdadeiro muvuco, a fazer tudo o que eles gostam: Embebedar, se drogar, dançar, badernar, combinar orgias, oscular, divertimento hétero e homossexual. Exceto estudar depois do expediente escolar universitário, que é o que desejariam que eles fizessem naquele momento os conservadores, que abominam todo esse comportamento rebelde que aparecia ao público vindo daquele tumulto.

Em uma roda de bar certa vez um amigo opinou: “Bolsonaro tem que acabar com essa farra”, “as universidades são antros de esquerdistas, só formam esquerdistas”. Elevando este enaltecimento ao descrito no parágrafo acima, diríamos que este amigo estaria associando à esquerda política brasileira tudo que incomoda os conservadores. Tudo que eles querem ver acabar. Esses reacionários, é claro, os tirados do povão e não os que se juntam em partidos e hipoteticamente se prostram como defensores da boa moral e dos bons costumes. E em vez de chamar de estudantes ou quem sabe: juventude, os manifestantes descritos, chama-os de esquerdistas.

Só que isso é um belo exemplo de tática de marxismo cultural. No meio político brasileiro, sobretudo no Congresso Nacional, muito querem os políticos financiados por elites conservadores impor os seus projetos de lei ou de obra a ser empregada na sociedade. A maioria é unilateral e não beneficia o social, e sim ao burguês e aos políticos. É superfaturada e segue os interesses dos que essa corja política representa, sobretudo o capital estrangeiro, o que significa escravismo para o brasileiro e perda pelo Brasil de riquezas, território e soberania.

Quem oferece resistência, às vezes votando contra, quando tem a oportunidade de votar, ou mobilizando massas para dar na base do grito o veto, é a Esquerda, são os senadores e deputados esquerdistas. Para vencê-los e acabar com a discussão democrática dentro do ambiente político só mesmo fazendo com que a imagem dos parlamentares que integram a Esquerda seja repudiada pela maioria dos habitantes do país.

E criando essa associação se cria junto à massa a repugnação necessária. Em pouco tempo a Esquerda fica fora do parlamento, pois, ninguém irá querer eleger candidato com as características dadas ao de esquerda, imaginando que a nação viverá numa baderna; que o filho virará homossexual, drogado, alcólatra; a filha uma prostituta mãe solteira; que a propriedade privada irá acabar; que a economia será planificada; que a violência urbana aumentará; Satanás será o deus-padrão ou o ateísmo crescerá (o que já cresce inevitavelmente com tanto filho-da-puta se dizendo escolhido de Deus) e os cambau de tudo “que é ruim” dentro de uma comunidade.

Entende como é a moldagem de opinião? É a melhor forma de se eleger um presidente da república ou um parlamento? Pois, desta vez acharam que sim!

A Esquerda pode ser extinta do poder, e com isso os imperialistas dominarem o espaço e fazer o Brasil para eles, do jeito que eles querem e a dar chicotadas em todo ser ordinário que vive no país. Mas, o comportamento marxista jamais sairá do povo. O viés ideológico que tanto incomoda os liberais já está plantado, como uma sementinha, na cabeça do popular. E mesmo inconscientemente algo estará fazendo lembrar ao mais extremista dos direitistas, dentro do povão, é claro: “eu era de esquerda e não sabia”.

O verdadeiro esquerdista

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Eu me encontrava confuso. Louco para iniciar minha resistência às ameaças que me afetavam, que pairavam na mídia como proferidas pela gente do presidente eleito Jair Bolsonaro. Como tudo que circunda o ex-capitão do Exército, nada se pode ter certeza se saiu mesmo dele. E como é próprio da política brasileira, qualquer mancha na imagem de fulano de direita pode ser simples intriga da oposição para aumentar o seu lado da corda e fazê-la arrebentar em seu favor. Não se pode confiar nos fatos. E os marqueteiros do Bolsonaro são experientes em criar desinformação, que é o que abala a confiabilidade dos fatos.

Basta lembrar do tal atentado à faca que o ‘homem’ teria sofrido. Quem de nós tem certeza de alguma coisa se aquilo foi ou não verdadeiro? Cada um escolhe no que quer acreditar e defender. E isto é diferente de ter certeza. Isto equivale à frase que teria surgido no STF para finalmente colocar o Lula na cadeia: “Não temos certeza, mas, temos convicção”.

Basta lembrar dos fakenews, dos fakelikes, dos comentários automáticos associados à perfis falsos no Facebook e em outras redes sociais na internet. E agora, depois de eleito, ele deu para fazer seus comparsas espalharem notícias sobre o seu cotidiano, visando fazer a imprensa replicar e em seguida colocar para desmentir os noticiados os mesmos que deram para a imprensa, de bom grado e com cara de furo de reportagem, a notícia. Com isso ele conseguiu deixar muito veículo de porte em maus lençóis, com a credibilidade ameaçada por espalhar boatos e não os sustentar. Cair no golpe da fonte insegura é erro primário para jornalistas de renome cometerem.

Eu não sou um desses jornalistas, por isso posso cair que nem patinho nesses truques. E caí em um bem seriamente. Mas, o tiro saiu pela culatra para o moço que o me aplicou.

Eu havia me cadastrado em quatro grupos de esquerda no Facebook e postava ou compartilhava diariamente nos murais desses grupos postagens que destinavam a mim adeptos. Ganhei muitos seguidores com isso. Estava eu me transformando num influenciador digital. Tenho impressão que sem querer eu publicava informações e análises que não deveriam ser publicadas. Deviam ser segredos ou então estimulava demais as pessoas a pensarem e a criarem senso crítico ameaçador.

A gente do Bolsonaro se infiltrava nesse meio. Um deles chegou a dizer que faziam isso para ver o quanto os esquerdistas não amavam o Brasil. Em vez de torcerem para que o novo governo desse certo eles o comiam o fígado com suas críticas e deboches. Para esse cara eu disse que fazer seu governo dar certo era uma obrigação do presidente eleito e que o mesmo não havia começado ainda e corria o risco de ser desfeito se insistíssemos, nós da esquerda, em nossa militância em pró de mostrar que a concorrência que exerceu Bolsonaro não foi leal e nem legítima. Até sofri o que os grandes influenciadores digitais sofrem. Fui ameaçado de ataque violento; insultado; exposto ao ridículo, mesmo que sem força essa tentativa de rechaçamento de imagem e assassinato de reputação. Só não ganhei nada do que eu pudesse desfrutar.

Então, em um dos grupos, que eu considerava suspeito, vi um vídeo mostrando nitidamente a cena da facada no bucho ocorrida em uma das ruas de Juíz de Fora no último dia 6 de setembro. Achei intrigante a clareza da imagem que mostrava o momento em que o suposto punhal atingia, na altura do abdomem, a camisa amarela que Bolsonaro usava e voltava para trás, junto com o punho do agressor, sem deixar rasgo na camisa ou rastro de sangue. Não hesitei em compartilhar o material, mas não sem ser cauteloso. Nesses tempos de alta tecnologia de edição de vídeo, coloquei no status, eu que nunca acreditei que o tal atentado tenha sido legítimo, “SE ISTO FOR FAKE, É TÃO BEM FEITO QUANTO FOI O FAKE DO ATENTADO”. Em pouco tempo vi o material se alastrar em compartilhamentos. Só que sem o status que escrevi para acompanhar a mensagem. Só notei isso quando o estrago foi feito. Ficou como se eu só quisesse compartilhar o vídeo e deixar que as pessoas tirassem suas próprias conclusões.

Em uma das noites, ao logar na rede do Zuckerberg, vi o sininho das notificações avisar cerca de 50 reações em postagens minhas para eu gerenciar. Em um dos murais para onde ia parar meus compartilhamentos, a postagem do tal vídeo foi novamente comentada. Um sujeito dizia que o próprio era montagem. E ainda explicou o passo-a-passo de como foi feito o trabalho. E na resposta que eu dei pra ele, que dizia que em momento algum eu disse que o vídeo era autêntico e que não notei que o status não caminhara com a postagem como era de praxe, ele replicou: “se você sabe que é falso, porque fica compartilhando isso”, “dá margem para dizerem que vocês de esquerda jogam sujo para moldar a opinião dos outros”, “o atentado foi verdadeiro”.

O cara não contava com a minha mediunidade. Sim, eu atribuo a minha capacidade de decifrar os golpes que marqueteiros dão no povo e também a de me livrar de enrascadas a uma espécie de poder sobrenatural. Falei pra ele que se ele sabia o passo-a-passo de como foi feito o material podia ser ele mesmo quem o produziu. Conclui o raciocínio alegando que ele teria postado o troço no grupo de esquerda onde estava infiltrado como membro e esperou que alguém o compartilhasse. Isto acontecendo, ele correria para os comentários do compartihamento para provar para todos os que se expusessem à publicação a canalhice de alguém ao propagar material falso. Sendo esse alguém um influenciador de grande personalidade, o golpe desencorajaria a adesão a ele.

E o que acabou sendo aproveitado pelos que acompanharam essa discussão foi o desmantelamento que fiz do tipo de tática de guerrilha que estava sendo usada pelos bolsomimions. A turma de esquerdistas aumentou suas defesas contra as jogadas deles e o moço sumiu do território.

Há muito equívoco, até entre esquerdistas, sobre o que é atitude de esquerda. Procurar minar a moral do outro para enfraquecer sua popularidade e contudo a adesão a ele não é atitude própria de esquerdistas tomarem. Tanto é que essas táticas durante essas eleições e nos momentos pós-eleitorais vimos muito mais associadas aos elementos de direita do que o contrário. São estratégias de guerra. Marketing de guerrilha. Se usa para vencer no campo midiático uma batalha. Sobreviver num jogo. Continuar numa competição e com chances clara de ganhar. Tanto é que Bolsonaro ganhou.

Certa vez, eu estava em uma distribuidora de bebidas que mantinha um ambiente para consumidores consumirem no próprio estabelecimento os produtos. Quando eu cheguei, vários dos que estavam no ambiente tinham à mão ou à mesa uma garrafa litrinho de certa marca de cerveja. Se buscava a garrafa dentro de um freezer, se entregava ela ao balconista, que a abria, e se seguia para a parte sem pilhas de engradadados, onde se podia sentar e degustar a bebida.

Segui esse itinerário e me dirigi para o espaço reservado aos bebuns levando comigo uma garrafa de cerveja, porém, de marca diferente da que consumiam. Obviamente eu tive que ouvir que sou do contra. E alguém ainda fez menção à minha acepção política e me taxou de esquerdista.

Eu tive que responder que eu apenas fugi da moda. Porém, inconscientemente. Sem o desejo de fugir. Apenas escolhi a marca que preferi consumir. Ainda que eu voltasse até eles com um produto da mesma marca que eles consumiam, a forma com que eu o teria escolhido teria semelhança com a forma com que escolhi o que eu portava. Eu não teria o escolhido induzido por terceiros, pelo simples fato de eles estarem bebendo a mesma marca, e também eu não teria sido cooptado pela propaganda do produto melhor vendido. Eu teria simplesmente sido independente, livre para escolher. Racional, conscientizado e ético, pois eu não prejudicava ninguém fazendo o que eu fazia. Totalmente imune à psicologia comercial que faculta o consumo. Irreverente à publicidade e ao capitalismo. Isto é comportamento de esquerda. O verdadeiro comportamento de esquerda. E ele acontece assim: naturalmente.

Tempo perdido

Legiao Urbana - 1986 - Dois - cover 06 (PalladiaHD)

Todos os dias, desde o último dia 28 de outubro, quando acordo eu penso sobre o que fiz com esse tempo em que eu me encontrava dormindo e antes dele. O que eu poderia ter feito? O que ainda se pode fazer? E chorando o leite derramado volto a pensar: “poxa, tenho todo o tempo do mundo”, “é possível consertar qualquer erro”.

Antes de dormir eu procuro recordar como foi o dia. Tem havido pouca coisa que eu queira me lembrar. Acabo dando de mão ao que me faz angustiar. E isso é quase tudo. Tem sido quase todo o meu cotidiano, inevitavelmente, voltado ao consumo de notícias sobre a politica. Esqueço então da tarefa que antecede frequentemente meu sono. Busco criar opções perante o atraso civilizatório que ganha a adesão de civis e sigo em frente, lutando. Não tenho tempo a perder por estar já velho.

Só que não me sinto confortável sabendo do risco que corremos de perdermos a democracia. Nosso suor sagrado daqueles idos de 1985. Como puderam colocar em risco tão sublime conquista por causa de um ódio estúpido, armado para eleifores terem e não elegerem novamente os mesmos caras que usurpavam da redemocratização. Ainda que inocentes das acusações que os marginalizavam, mesmo os perseguidos pelos condutores do comportamento da sociedade não escapavam de terem praticado essa atividade de má-fé e descuido com o nosso bem precioso.

A democracia é muito mais bela do que esse sangue amargo que andaram fazendo jorrar em troca de voto. Levaram a sério demais o que era só uma farsa de candidatura. Uma estupidez e insanidade. Se revelaram selvagens, até quem se dizia seguir os preceitos cristãos. Guerrearam e oprimiram, julgaram mal os outros, em nome da moral, do bom costume, estando acima de tudo Deus. Maior disparate impossível. Maior falta de lógica idem.

E ninguém estranha o fato de só não ter jorrado esse sangue na ponta da faca que disseram – e até mostraram – ter sido enfiada na banha desse que foi eleito. A facada eleitoreira. Que decidiu votos e teria decidido também o rompimento do adiamento de uma cirurgia já não mais adiável na região da barriga do esfaqueado.

O que é crer num golpe tão bem articulado e visando levar o público contra a facção política que este público já estava odiando, perto do crer sem qualquer argumento bem elaborado quanto à culpa que carrega Lula e o sustenta como preso político? O povo sempre recebe o que quer receber quando está disposto a cooperar com aquele que o guia tal qual uma marionete. Eles sempre estão dispostos a dar mais disso caso seja preciso.

Após dar um selinho de bom dia na boca de Marina, corri pra janela e fitei o panorama. A manhã cinzenta guardava por trás de nuvens um sol afoito por irradiar. Falei para Marina que estava pra chegar uma tempestade que seria da cor dos olhos castanhos dela. Ela me disse pra deixar disso. Pessimismo, ela se referia. Bolsonaro teria feito da forma que fez o que fez porque do contrário nem mesmo quem votou nele votaria. Ela completou assim. Apenas para me fazer conformar com o inconformável. No fundo, a democracia ficaria intacta, na concepção dela.

Eu quis bastante ter a mesma tranquilidade que tinha Marina para aceitar os fatos e doer menos. Tudo o que eu queria era que o cara fosse um competidor decente. Eu poderia até votar nele. Mas, o cara achava que não funcionaria assim. Ele sabia fazer caras e bocas, drama, mostrar repúdio por problemas inexistentes e determinação em resolvê-los. Seus simpatizantes não cuidavam sequer de serem sensatos e investigar os esquetes que eles iriam aplaudir. Afinal, todas as insandices proferidas pelo candidato que eles escolheram iriam ser legitimadas com o voto que dariam. O importante para eles era ver sair de cena o PT. Que pensamento pequeno, que entreguismo barato!

Pra dar razão ao otimismo de Marina eu pensei: “Sim, esse ministério que ele montou sugere isto: a democracia fica”. Vai haver mudanças profundas na economia e no trabalho, mas, o regime atual fica. E depois, eu vivi os anos de chumbo, vivi os tempos do PDS, Collor e FHC. Lula e Dilma foi fichinha para mim. Posso muito bem viver o neoliberalismo e o extremismo de direita.

O eleitor do Bolsonaro é que não vai dar conta. Seu estilinho de vida fútil verá privaçäo. Sua falta de consciência social e percepção política junto com sua urgência de amadurecimento intelectual é que decretarão seu infortúnio, sua insatisfação com o sistema, seu fracasso financeiro perante ao muito que doou para erguer o governo que o deletará das decisões que o afeta. Ele será tão escravizado e oprimido quanto eu, mas, achará injusto estar no mesmo barco.

Um governo que só este eleitor, no mundo todo, fora capaz de eleger. Até mesmo sua frágil fé sofrerá abalo quando se descobrir o uso dos pastores em nome do andamento de seus negócios, que estão suas igrejas entre eles. A garantia de formação perene de fiéis, por trás da imposição de falsa conduta moral vinculada ao governo em vigor, outro interesse acordado.

Eu não. Não tenho o que perder. Continuarei sendo comunista. Avesso à futilidades burguesas. Não consumista. Não expedicionário. Ateu. Por isso não me importa se para ficar ao seu lado o presidente eleito encheu de gente de moral duvidosa e histórico jurídico não condizente com a promessa de combater a corrupção que ele fez. Eu não acreditei nessas balelas e por isso não tenho que carregar culpa de ter sido bobo. Mas, irei cobrar tanto quanto quem o elegeu a tomada de tenência e o cumprimento de certas obrigações que ficaram implícitas. A disciplina social que gera comportamento não ameaçador aos entes de bem, por exemplo.

A república vai ruir. É a mudança em que se falou tomando o cuidado de não ser claro demais. Essa ligação encripada entre Michel Temer e Bolsonaro, outra coisa que se o eleitor tivesse sabido antes com mais transparência a respeito ele não teria feito o que fez, embora pistas tivessem sido deixadas, bastando, entre outras medidas, procurar saber em quê Bolsonaro vinha votando dentro do Congresso esses últimos anos, é que dá a certeza para se opinar que um punhado de parlamentares conservadores é que vão dar pitaco nas decisões do país. O presidente vaca-de-presépio e seu vice não vão governar de fato. Vão ser biônicos. Como os governadores militares.

A república deve se transformar em parlamentarismo. Michell Temer é obcecado por isso e estava em seus planos viabilizar essa forma de governo quando articulou o golpe que o colocou na presidência e também seu sucessor. Pela importância de seu ministério, calculo que Paulo Guedes será o Primeiro Ministro. Os demais o auxiliarão. Teresa Cristina também terá força nas votações dentro do Congresso Nacional.

Marina me lembrou que no plebiscito para forma de governo em 1993 eu escolhi parlamentarismo. E no referendo de 2005: sim para o armamento da população. Mais uma vez me sinto blindado contra a tentativa de me pregarem peças me forçando viver sob condições inesperadas. Mais blindado até que os ministros em seus carros e casas buscando se defender da população inconformada com a traição e falta de cumprimento de promessas ou de metas, embora a única meta que Bolsonaro estabeleceu ele cumpriu: tirar o PT de campo. Coisa que estava facílimo de fazer sem correr risco nenhum votando nele. Era só elevar o voto para qualquer outro candidato.

Corri de volta pra cama e pedi Marina para me abraçar forte. E dizer novamente o que disse. Dizer mais uma vez que era só pessimismo paranóico o que me causava aflição, que nada estaria perdido. Queria que ela me dissesse que já estávamos distantes de tudo o que ameaçou nossa conquista de outrora, a voluptuosa democracia. E que temos nosso próprio tempo para nos adaptar à sua nova roupagem. E talvez até prosperar. Sem abrir mão do ego. E ainda podendo fazer oposição ao que não estiver nos conformes. Ainda que na surdina até certo ponto. Deixaríamos nossos fetiches esquerdistas. Se possível.

Eu sei que tudo isso é só especulação do que pode vir a se configurar após a nova posse presidencial e da nova esplanada. Mas, eu não tenho medo do escuro. Aspiro sempre o melhor, preparo-me para o pior e vivo o que vier. Da melhor forma possível. Foi bom que Marina acendesse as luzes que iluminaram a estrada do destino e eu pude enxergar probabilidades verossímeis que esse governo se atreveria fazer vingar até por não contar com muitas alternativas. Que bom que ela as deixou acesas.

O novo governo terá que contar e muito com a cooperação da maioria que não o elegeu. Os 62% de eleitores que preferiram votar em quem apresentou alguma proposta palatável ou os que se abstiveram de votar e deixar o acaso decidir por eles.

Emprego do neoliberalismo e possível transição para o parlamentarismo, isso é o que pressupostamente digo ter sido escondido. E se escondeu para angariar adesões que de outra forma não viriam.

Estado-mínimo, reduzir a participação do Estado nas relações econômicas e trabalhistas da população e enxugar a máquina administrativa pública, é uma forma de combater a corrupção sem ter que se preocupar em prender corruptos. Assim ficam soltos os que correm esse risco se apertarem o cerco para que hajam investigações. São os amigos do presidente. Ou do Sistema, melhor dizendo.

Não mais ter o povo que escolher um presidente soa como a não mais a elite conservadora por trás dos partidos e políticos ter que se valer de golpes para forçar o povo a tomar atitudes em seu favor. E não mais o poder de veto ou de proclamação de um projeto parlamentar ficar nas mãos de um único político, que pode ser um adversário dos interessados na proclamação ou no veto, que são os membros dessa elite.

E o que esses eleitores entenderam que foi prometido, ninguém dos que estão no poder prometeu. Também náo foi nenhum tempo perdido o gasto com militância eleitoreira ou com oposição. A democracia brasileira é muito jovem. E está em plena construção. Será só mais uma fase.