Uma trapalhada fez com que ele saísse mais cedo para o intervalo de almoço. Atravessou as dependências da empresa onde trabalha e retornou trazendo uma marmitex. Foi para o refeitório. Havia um tanto bom de gente por lá. Mesmo tendo bastante mesa sobrando, ele custou a decidir onde sentar. Sentou-se de frente para uma mulher que ele não conhecia. Coisa que era de praxe.
A garota apresentava sinais de que queria conversar. O problema era só em escolher o assunto para dar início a uma conversa. Ele estava elétrico, como vem lhe sendo ultimamente. Sente impulso de fazer contato com mulheres, que aparece-lhe logo um assunto ou uma situação para consumá-lo. Fazia parte de seu estado-foco. Aquele estado que te deixa, mesmo que inconscientemente, de prontidão para atingir seus objetivos.
Hipnoticamente, ele arrancou dela um sorriso com os olhos por trás dos óculos, enquanto ela mastigava o que comia. Ele armou o bote.
ELE: Temos que apressar, pois o tempo é curto, acha o mesmo?
Ela gostou que ele iniciasse uma conversa assim. Respondeu com o mesmo sinal de poucos instantes atrás.
ELE: Acaba que esse refeitório é o único lugar em que podemos conhecer as pessoas que trabalham na mesma empresa que a gente e não podemos aproveitar dele para isso por causa da pressa.
Era uma empresa onde trabalhava muita gente. Uma fábrica.
ELA: As pessoas que possuem o mesmo horário de almoço podem se encontrar mais vezes.
ELE: E de vez em vez, acaba criando um relacionamento e saindo para se divertir depois do horário. É o jeito, concorda? [riram os dois]
ELA: Acontece de isso se dar na primeira vez.
Riram olhando um para o outro compenetradamente. Um clima estabelecido naturalmente os ajudou a arriscar desprender sem cerimônias movimentos típicos de flerte, olhares focados e uso de frases e palavras abordadoras.
ELE: Pode ser esta uma dessas vezes.
Ela era tímida e cheia de julgamentos auto-aniquiladores, mas estava cansada de perder tempo e de não conseguir o que quer por causa dessas coisas. Deixou para lá o que ela dizia sempre para si mesmo, e o que ela ouvia de outras pessoas, a quem ela achava que devia satisfação.
ELA: Se você não tiver nenhum outro compromisso e quiser que seja esta também a vez de sair para divertir depois do horário, eu concordo.
Riram os dois quase em silêncio e trocaram telefones. Havia apenas o turno da tarde os separando de um promissor encontro.