O cerco à opinião do anônimo

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IMAGEM: Techweez.com

Agora virou moda na televisão programas de entrevistas coletivas temáticas discutirem a liberdade de expressão na internet, que abrange todo mundo e não só as “celebridades” que são convidadas para participar ou têm aceitas a participação nesses programas. Ou seja: os bem-aventurados que realmente têm direito de manifestar sua opinião acerca dos assuntos não têm o umbigo afetado.

No geral criticam que o “povo”, que para bom entendedor se entende por “qualquer um que não seja da tchurma”, abusa quando entra em seu perfil numa rede social e posta fotos descabidas, mensagens irresponsáveis, agressões a pessoas públicas. Quanto a esta última preocupação, parece que esqueceram que a pessoa pública é causadora de modificação na vida daqueles que às vezes se expõem à ela até por ser inevitável. Modificação que quase nunca é para o bem.

Eu, por exemplo, tenho sérios acessos de repugnância quando sou obrigado (obrigado sim: se você está em um ônibus e alguém o invade com um celular tocando funk no viva-voz no mais alto volume, você perde completamente o seu direito de sossêgo e concentração) a entrar em contato com o que propõem certos artistas e outros elementos de vida pública. Eles produzem seus lixos, sabe-se lá com que objetivo, e os que eles conseguem catar pra fã replicam arrogante e irresponsavelmente e infernizam até o diabo.

O que eu vier a pensar desse cara eu vou pensar também do artista que ele venera. Aí, eu tenho que me conformar em ser oprimido? Não posso por da boca pra fora com alguém via Whatsapp e menos ainda postar no meu exclusivo perfil numa rede social?

Isso protege os que montam em cima da gente pra viver vida farta. É para o território ficar livre para o sujeito que tem sua opinião e faculdade de alienar e perverter um caboclo blindadas pelo regulamento que implicitamente diz: “se você não é famoso e nem participa da grande panela, não fala e nem escreve nada, pois, é pior para você“. Quando não é pela razão de a opinião cônscia de um anônimo expor um protegido do sistema e estragar os planos dele e dos grupos que ele faz parte.

E o papo da evasão de privacidade? Ou seja: “um ridículo qualquer achar que sua opinião é importante e tem que ser mostrada”. Achar que ela vai mudar o mundo ou que ela vai fazer diferença na vida dos outros. Que é como Eles dizem.

Isso é  o que as pessoas mais fazem na internet. Massageia o ego delas. As livra do stress. E elas não podem fazer isso porque incomoda um “bem-aventurado que tem espaço na mídia” porque ele acha que o qualquer deveria é estar a compartilhar a opinião dele, desse suposto célebre. Para eles o povo tem é que só pagar seu acesso a internet e dar atenção pros famosos. Tem nada que bancar a pseudo-celebridade ou o modelo de selfie não!

E a preocupação com essa tal liberdade que as pessoas ganharam para deixar de ser só público vai mais longe: esses que opinam na mídia gostam de advertir, de mandar recado olhando para lentes. Ameaçam mencionando leis que protegem os outros contra calúnia e difamação; de sofrer danos morais; de sofrer danos materiais. Rezam que essas leis funcionam, que elas já funcionaram para eles e que aqueles que sofrem de egocentrismo do anonimato devem tomar cuidado, pois, podem sofrer as consequências, mesmo se opinando mascaradamente e mesmo pelas leis e sistema jurídico do Brasil. Pode ser o Julian Assance mascarado que a perita Justiça brasileira o encontra e o pune.

E não é daquele jeito que todo mundo está acostumado a imaginar: Fazendo de testa-de-ferro um caboclo qualquer, criando um crime pra ele, pondo a mídia para expor à exaustão a imagem do sujeito selecionado e mandando o cara para o xadrez espetacularmente diante às câmeras e com isso criar a sensação de estar dando satisfação para a sociedade ou cumprindo com o que prometeu. Sendo que o único crime que o sujeito encarcerado teria cometido é o de ser anônimo e sem dinheiro para pagar um bom advogado que o faça dar a volta por cima e o feitiço virar contra o feiticeiro.

Essa preocupação toda, minha gente, quem não sabe qual é a procedência dela? Perda de espaço que os grandes veículos de comunicação vêm sofrendo. Quem dá trela para televisão, por exemplo, hoje em dia? Eu? Por que eu estou aqui escrevendo sobre algo que eu só poderia ter visto na televisão? Ora, não escrevi aí pra cima que você se expõe à todo tipo de lixo cultural até sem querer? Foi o caso.

E não é só a televisão que disputa com as redes sociais, com os blogs e outros veículos de comunicação democrática o direito de apresentar opinião. A internet te tira também de comprar jornal, de ouvir rádio, de ir ao cinema. Eu acho é pouco! E pra mim, podem cercear à vontade o direito do cidadão de manifestar sua opinião. O importante para mim é a absorção de informação. E mesmo se existir só “Eles” para informar, se conseguirem novamente o monopólio, eu venho sustentando minha vida de anônimo sem dar qualquer tipo de audiência para eles não é por abundar os canais de informação, é porque eu os desprezo mesmo, não fazem a menor diferença na minha vida.