Sedução muito pesada

Se autocensurava Ela por causa dos seus oitenta quilos de peso distribuídos pelo seu metro e sessenta de altura. Era uma gordinha simpática. O volumoso corpo não repugnava ninguém exceto ela mesma.

Esse comportamento inseguro fazia com que Ela não arriscasse a dar o passo seguinte em direção a materializar sua vontade de sair com Ele, que ela ouvira das amigas se tratar de um homem maravilhoso, sem preconceitos e que as fizeram se divertir na companhia dele e gozar horrores em casos de sexo casuais. Ela queria ter a vez dela.

Entrara em uma academia de ginástica só para tentar melhorar sua autoestima. Mas, parecia não dar muito certo a investida, pois, logo que o efeito dos esforços físicos passavam ela se via a recuperar a ansiedade, que a fazia comer irresponsavelmente para contê-la.

Entretanto, parece que os seres humanos têm um fusível que quando o desejo é muito forte ele queima e obriga o indivíduo a repará-lo devido à dor incontornável que se sucede. Sendo a forma de efetuar a reparação, mover-se a fazer com que o desejo se cale. Em outras palavras: ir à luta!

E Ela se encontrava com o fusível queimado, precisando restabelecê-lo. E, coincidentemente, nesse dia ela viu à deriva, dentro de um shopping, prestes a subir em uma escada rolante, o motivo de sua aspiração incontinente. Apressou-se, com dificuldade por causa de seu peso, para tomar conta do degrau logo atrás do que ele tomava. Por sorte ele não era daquelas pessoas que sobe degrau por degrau enquanto a escada rola.

ELA: “Ê-ei! Veio comprar um presente para mim?”

ELE, SE VIRANDO PARA ELA SURPRESO COM O CHAMADO:

“Olá! Como vai?”

ELA, VENCENDO BRAVAMENTE A TIMIDEZ:

“Muito melhor agora que você está me dando atenção.”

ELE, NOTANDO O AR DE CANTADA E JÁ ARQUITETANDO UM PLANO PARA POR EM PRÁTICA UMA TRANSA EXCÊNTRICA:

“Que bom te encontrar, preciso mesmo de uma ajuda feminina.”

ELA, PRECIPITADAMENTE VENDO SUA SORTE FRACASSAR:

“Po… pode contar comigo!”

No segundo pavimento do estabelecimento comercial eles entraram em uma loja de roupas femininas. Nela, ele pediu para a colega de trabalho escolher uma langerie que ele daria de presente para uma mulher que por acaso tinha as medidas parecidas com as dela.

Ela escolhera, casuísticamente, a vestimenta íntima, pois, ficara explícito para ela que o rapaz era acessível à pessoas do porte dela.

Em aproximadamente vinte minutos a escolha foi feita e a compra efetuada. A moça ficara bastante feliz com a execução da tarefa imprevistamente lhe conferida. Lamentou não poder ser ainda mais útil e invejou a sorte da felizarda que vestiria a roupa que ela ajudara a escolher.

ELE, ABRINDO MÃO DE QUALQUER RISCO DE CRIAR UMA SITUAÇÃO DESCONFORTANTE:

“Agora, preciso ver como fica com a pessoa vestida com essa langerie. Será que está a seu alcance essa tarefa?”

Na cabeça dela ele só poderia estar falando de irem para um motel. Em nenhum outro lugar ela poderia colocar a langerie para ele visualizá-la vestida nela. A adrenalina que surgiu lhe deixou trêmula. Com muita dificuldade ela respondeu positivamente a ele.

E do shopping eles partiram para o motel ao lado. Onde ela experimentou a roupa, matou seu desejo de transar com ele, reconstituiu seu fusível controlador de ansiedade e ainda ganhou uma langerie nova. Que ela própria escolheu.

Extraído na íntegra do livro “Todo o mundo quer me amar“, uma seleção de crônicas eróticas, sedutoras, empreendedoristas, românticas, mágicas e divertidas.

Amor evitado nas novelas

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Voltava eu do trabalho em companhia de uma loirinha, cabelo curto bem reluzente, olhos azuis. Corpuda. Mais baixa pouca coisa a mais do que eu. Vestia calça jeans e blusa branca de botão. Abraçava a bolsa tiracolo. Me vi na companhia dela desde as escadas da Galeria Ouvidor, rumando para a rua São Paulo. Havíamos entrado na galeria para ela comprar alguma coisa. Quando atravessamos a porta da galeria para atravessar a São Paulo rumo à Praça 7, ela viu de longe, na calçada da Avenida Amazonas, uma morena de vestido azul e cabelos longos soltos. Acenou para ela a cumprimentando à distância. Daí ela me disse que aquela era uma amiga dela. E fez a ela um enaltecimento exibindo um semblante de satisfação em tê-la visto, como se isso a tivesse submetido a lembranças efêmeras.

Eu deduzi então que fossem ou tivessem sido elas companheiras um dia. Ela respondeu assim: “Como dizem na novela: a gente era feliz sem importar se a gente é homem ou se a gente é mulher”. E em seguida quis saber minha opinião a respeito.

Eu disse pra ela que precisaríamos sentar para eu dar a minha opinião completa. Ela entendeu o convite. Tinha tempo, então, paramos num dos bares no final da Av. Amazonas. Seguíamos em direção à estação central do metrô.

Eu estava sentindo uma atração por ela havia um tempo. Então, larguei da morosidade de sempre e fui logo viabilizando a cantada. Eu sabia que a situação era um pouco ruim por causa do relato dela, mas eu não tinha dúvida de que ela jogasse nos dois times.

Eu disse para ela que eu achava que as pessoas deviam chegar à conclusão de que é ou está sendo feliz por elas próprias. Sem depender do que ensina a dizer ou a pensar, por exemplo, uma novela. Nem sempre, a gente determinar que está sendo feliz tem a ver com gênero sexual. Se você está se sentindo bem em um maravilhoso carro que você conseguiu comprar, no que essa felicidade ou esse momento feliz depende de você ser homem ou mulher?

Disparando o que se passava em minha mente eu fui mais longe.

Veja, eu sinto uma atração enorme por você. E eu sinto isso quando olho para esses seus olhos azuis e esse seu jeito simples de ser, de me aceitar como um amigo. Tanto seus olhos, quanto esse seu jeito, poderiam pertencer a um homem. Portanto, para eu sentir essa atração por você independe de você ser uma mulher e eu um homem.

E você me deu essa oportunidade de sentar a só com você para discutirmos um assunto que facilita eu dizer isso. Você é pelo menos trinta anos mais nova do que eu. No entanto, pode ceder ao meu assédio e isso não fará a menor diferença para você. Ambos estaremos pensando no que estamos vivendo, se está sendo bom.

Se eu fosse me orientar pelo que diz a novela, eu nem arriscaria a dizer o que estou dizendo, pois, a novela ensina, como padrão, que os amantes devem regular na idade, na cor, na religião, na cultura, na condição financeira. Só dizem coisas diferente disso, só incentivam relações mais díspares ante a esses preconceitos, se algum patrocinador estiver com a intenção de patrocinar determinado tipo de casal e investiu na novela para fazer a engenharia social de aceitação.

Da mesma forma fazem com a sexualidade. E por não haver naturalidade no comportamento das pessoas que se submetem à telenovela e copiam o que veem nela, acabam por experimentar infelicidade, pois, haverá um tempo em que o transe passará. Principalmente quando outra novela aparecer, outro assunto passar a ser discutido e o anterior deixado de lado, se não houver quem se interesse que seja mantido em evidência.

A loirinha se embriagou com o mix de emoção que ela experimentou. Surpresa, admiração, porre de conscientização, vaidade por receber elogios, tesão. E eu não quis perder tempo e nem correr o risco de deixar escapar um flerte por falta de ação. Nada de deixar nenhum dos ânimos esfriar. Era visível que era ela naquele momento uma presa fácil. Toquei-lhe, com carinho, o braço direito na altura do ombro. Ao certificar que ela não fez objeção, trouxe ela pra mim. Foi assim que começou esse namoro do tipo que excluem nas novelas: amor sincero.

Adaptado de um capítulo do livro “Contos de Verão: A casa da fantasia“, que expõe alternativas de desenvolvimento de relacionamentos.