A editora lançou um projeto que destinaria ao seu perfil no Instagram crônicas sobre quarentena, a fim de ajudar pessoas com sugestões quanto ao que fazer durante esses dias confinados em casa. Só seriam publicadas as crônicas que passaram por um processo de seleção. Apesar de não haver prêmio, se deu o projeto como se fosse um concurso. Participei com a crônica que aqui publico por não ter sido classificada. Vamos conhecê-la?
Estou sem sair de casa já há sete dias por causa da quarentena para evitar contágio de coronavírus. Se eu te contar que essa situação de confinamento eu pensei ela durante muito tempo da minha vida, sei que você não vai acreditar.
É sim! Nos meus tempos de menino, lá nos anos 1970, quando ocorria mais dessa vontade inconsciente, eu vivia recebendo sugestões para experimentar isso. Seriados de televisão – como Perdidos no Espaço, Os pioneiros: em um episódio focado em uma epidemia de varíola, A família Robinson; alguns filmes; livros, como “O diário de Anne Frank”; notícias de jornais sobre meliantes à solta. Tudo isso me influenciava a ter desse desejo.
Eu imaginava fazer estoque de comida, de água, dos artigos que eu gostava de brincar com eles ou de utilizar – como por exemplo minha coleção de quadrinhos. Me confortava a sensação de que teria tudo por perto, à disposição, para não passar privação durante o intervalo que o confinamento durasse.
Sem perguntar se eles queriam estar nessa comigo: meus pais, meus irmãos e o cachorro da casa eu colocava, no meu imaginário, sob determinação de não botar o pé na rua. Ah: por vezes o risco era ser levado por alienígenas sequestradores ou soldados nazistas.
Pois é, materializei meu pensamento ou premonizava eu esses dias que vivo agora?
Bom, se mais gente está nessa realidade junto comigo é porque talvez isso seja uma aspiração comum ou uma situação com grande probabilidade de ocorrer em algum momento na vida de todos os seres humanos. Não acredito em premonição. Pra mim, nada está escrito, tudo é construído.
A grande diferença entre aquilo que eu imaginava e o que obtenho agora é que hoje há tecnologias que faz minha clausura parecer um experimento social que visa convencer as pessoas a adotarem o lar como espaço para tudo.
Como eu iria imaginar, lá nos anos setenta, que sem sair de casa eu não deixaria de falar com meus amigos – podendo os ver até –, de visitar – mesmo que virtualmente – museus, parques, praias ou o próprio centro da minha cidade?
To podendo receber aulas, trabalhar para a empresa para a qual eu presto serviço, sacar dinheiro para pagar contas ou fazer compras on line, efetuar investimentos e apostar em cavalos pela internet, jogar eletronicamente com alguém lá no outro lado do mundo.
Se acaso eu quiser reler uma daquelas revistinhas que eu não me descolava delas, as quais não tenho mais, eu só tenho que acessar o Google e procurar por um exemplar virtual. Como não estou precisando deslocar até meu local de trabalho, tem sobrado tempo à beça para eu desperdiçar. E essa nostalgia é imperdível gastar esse período livre com ela!
Acessando na web ou num HD externo, que estou tendo oportunidade para organizar finalmente as pastas e arquivos dentro dele, pilhas de e-book eu estou lendo. Os livros de papel na estante estou relendo. Meu conhecimento está aumentando com essa crise. Dentre o que venho aprendendo, até fazer projetor 3D com o celular e um bom suco de frutas para fortalecer o sistema imunológico, fora os pratos gourmet, eu estou contabilizando. Grande quarentena!
Planos de empreendimentos de toda sorte – até da área de agricultura – ou inventos, que sempre me vêm à mente quando eu não estou em condições de sequer anotá-los, estou desenvolvendo e testando, pois, aparece e eu corro pra registrar à caneta ou no notebook. E histórias para publicar em livros idem. É acabar a crise e eu vou pôr tudo isso em circulação.
Cultuar alguns hobbies – como tocar gaita ou violão –, melhorar minha dicção e oratória, conversar com a família e curtí-la, orar e meditar, praticar yoga e exercícios respiratórios, relaxar meus pés com reflexoterapia. Estou me sentindo sem limites!
Parece que chegou o aguardado prazo para pôr a vida em dia. De uma vez por todas, desfazer todas as pendências. Eu sei que o fato que nos proporcionou isso é trágico e malquisto. Mas, ao mesmo tempo incentiva-nos a aceitar a máxima que diz que é nas tormentas que as oportunidades aparecem.
Por essa razão, não devemos temer recessão econômica após a Covid-19 assentar. Será uma nova tormenta, que trará novas oportunidades. Aproveitemos esses dias de quarentena para desenvolver habilidades e criatividade para aproveitar o momento a advir. E construir para todos nós um futuro até melhor do que o que o Coronavírus fez desabar.
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; (Eclesiastes 3:1,2)
A.A.Vítor – Autor do livro “Os meninos da Rua Albatroz”, cujo capítulo “Planejadores do futuro sombrio” previu o momento atual. Sobre saúde e espiritualidade leia: “A magia que enriqueceu Tony”. Sobre empreendedorismo, relação interpessoal e sexo leia: “Contos de Verão: A casa da fantasia” e “Todo o mundo quer me amar”.