Greve dos caminhoneiros: divisor de águas

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IMAGEM: El País

Um desses momentos em que um blogueiro que adoraria ser lido se regozija de não alcançar leitores. Somente quem não tem a cooperação das pessoas pode realmente expressar sua opinião. E a opinião que se segue pertence a outra pessoa com quem debati esta tarde e concordei completamente com o que ela me falou. E aqui estou neste veículo a prestar uma honrosa homenagem a compartilhando.

Discutia eu com um rapaz. Falávamos sobre essa greve que está esfregando o despeito na cara dos barões que se sentem donos do país e dessa elite burguesa que tudo pode, deixando bem claro que se tocam na cerne do capitalismo idiota que sustentamos a sua fraqueza todos os brasileiros são respeitados.

Um de nós tem que trabalhar amanhã, domingo. E depende de ônibus para ir para o trabalho. Pode ser que não vá ter a opção de locomoção até o local de trabalho no dia incomum. Consideram o domingo um dia recreativo, logo, todo o combustível que puderem poupar nesse dia será de inteira importância guardar para os de maior produção que estão por vir.

Se fosse apenas uma greve de motoristas, que deixam os ônibus indisponíveis, os empregadores fretariam veículos e se fosse preciso buscariam em casa seus empregados. Mas não.  O que falta é o combustível. Fretar veículo com tanque vazio de nada adiantaria. A ganância sofre uma amarga derrota.

Cercaram tudo para o Brasil parar. Os grevistas deram a cartada certa. A única que intimida esse governo ilegítimo e totalitário e essa elite burguesa que aí estão a nos dar ordens sem nos dar chance de recusar.

A grosso modo de analisar e sem medo de estar a ser ingênuo, concluo que estamos no mesmo barco. Nós, os pobres, e eles os ricos. Todo mundo sem combustível. Sem poder ir aos compromissos pelos meios tradicionais e aceitos.

Há quem esteja com o tanque do carro cheio e pode dar seu rolé a esnobar sua boa aventurança na cara dos desprovidos. Foram priorizados na fila de abastecimento ou possuem contatos que faz com que essa privação não lhes sejam próprias. Porém, estes estão tendo que pensar duas vezes antes de desperdiçar o líquido precioso.

Uma emergência pode determinar que o destino do gás petrolífero existente no reservatório do carro deva ser um hospital para levar um ente querido em estado de risco de saúde. E isso será feito havendo muita esperança no coração de que tudo correrá bem para o enfermo. Igualzinho é para o pobre que tem que se deslocar de ônibus até onde precisa ir, mesmo nas situações de pronto atendimento.

Igualzinho porque pode ser que o paciente consiga chegar ao pronto socorro, mas, o médico não. A enfermeira não. O funcionário que emite o prontuário não. Pode ser que eles não gozem de prioridade para conseguir combustível ou dependam de transporte público para chegar aonde trabalham.

Pode ser que pessoas com perfil de prioritário estejam passando por aperto, mesmo que apenas por não conseguir seguir normalmente seu curso de vida de grande bonança. E a estes é bom que se diga que nós fora dessa linhagem estamos pouco nos “fudendo” – como disse meu interlocutor – para as dificuldades que esses tais “melhores” possam estar passando. É agora cada um por si. Antes eles se “fuderem” do que eu. É bom que eles provem um pouco do que é privação.

E então, as lágrimas nos olhos que banham o desespero do bem abastado economicamente passam a ser as mesmas que banham a do pobre miserável. É por isso que eu acho que essa greve é um divisor de águas. E mostra para o brasileiro, que despindo-se as regalias dos afortunados, mesmo não afetando os realmente afortunados, somos todos iguais.

E devemos deixar de mesquinharias como achar que há distinção entre nós habitantes do Brasil, que mereça aceitarmos dar regalia para uma classe. E precisamos também deixar de cooperar com aqueles que aparecem na mídia amiga deles recrutando o povo para a causa “deles” e como resultado de seu recrutamento esse mesmo povo recebe um grande pé na bunda. É o que estamos vendo receber aqueles que bateram panelas, torceram para o time do Sérgio Moro e do STF malograrem o Lula, dão asas para a mídia corporativa ou os que acham que para o Brasil melhorar basta entrar no poder um governo de direita, como o PSDB ou o PMDB, para que o país retome o caminho do progresso. Pura ilusão e predisposição para continuar a levar golpe de político esse pensamento torpe.

Nada disso é comprovável e essa greve tira a dúvida quanto a isso. E é bem possível que o que estamos vivenciando seja uma articulação da Esquerda, a fim de deixar bem claro que quem pode mover as massas a levantes que preocupam as elites não está vencido como se suspeita.