Minhas lembranças mais remotas

“‘Nenhum de nós se lembra de algo anterior aos 2 ou 3 anos de idade. A maioria não se recorda de nada que ocorreu antes dos 4 ou 5, diz Catherine Loveday, da Universidade de Westminster, no Reino Unido.” (Trecho de matéria sobre Amnésia infantil, publicado pela BBC em https://www.bbc.com/portuguese/geral-39477636.)

Minha mãe me contou que eu quebrei um dos braços aos dois anos de idade. Eu tenho uma leve lembrança de uma corrida noturna de meus pais, com minha mãe me conduzindo no colo dela, buscando levar-me para um hospital. Pode não ser essa a vez me contada, mas, se for, estou entre as poucas pessoas que saem do padrão quando o assunto é lembrar de fatos anteriores aos três anos de idade.

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Brincando de pegador de esconder

Os meninos da Rua Albatroz estavam brincando de pegador de esconder. A área escolhida foi a chácara dos Dedé. Teve menino que subiu em pé de manga, teve quem escondeu atrás de pé de goiaba. Uns foram pra trás de um matagal, outros desceram o barranco e se enfiaram dentro do Buracão.

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Pegador de esconder ou pique-esconde é uma das brincadeiras de antigamente que resistem à industrialização do brincar. Industrialização esta que é muito criticada em vários capítulos do livro “Os meninos da Rua Albatroz”.

A brincadeira consiste em reunir uma turma em um terreiro ou na rua e escolher, geralmente pelo “rei não bate”, uma das crianças para ser o pegador. O pegador deve se posicionar no pique, que também é escolhido previamente, de costa para as crianças que vão se esconder e de maneira a não enxergar para onde elas vão.

No pique, o pegador abre uma contagem que vai do um até o número que as crianças decidiram ser o limite para o tempo de elas se esconderem. Os meninos da Rua Albatroz escolheram contar até vinte. Ao chegar no limite o dono do pique grita “lá vou eu” e parte para tentar encontrar um a um dos brincantes.

Quando o pegador encontra uma criança das escondidas ele deve correr até o pique, contar até três, falar o nome daquele que foi encontrado e o lugar onde ele estava.

Se algum dos escondidos conseguir chegar no pique antes do pegador e gritar “um, dois, três, salvo” ele estará salvo de ir para o pique na próxima rodada. Se faltar apenas uma criança para ser encontrada e  esta conseguir se salvar, ela salva todas as que foram encontradas e o pegador volta a ir para o pique pra contar novamente. Se isso não acontecer, a primeira criança que foi pega passa a ser o pegador na próxima rodada.

Na minha opinião, uma das melhores brincadeiras da infância. A qual, dentre outras coisas, ensina às crianças a honestidade. Ainda acontece de se vir as crianças brincando essa brincadeira, mas nao chega a ser uma esperança que isso vá durar muito, pois, cada vez mais, o governo, a mídia e os industriais trabalham para que a cultura seja dizimada e o gosto pela brincadeira industrializada prevaleça. isso é corrupção, é claro. Corrupção em troca de nenhum benefício para a juventude. Corrupção da mente infantil em troca da morte de seu futuro.

Os brinquedos eletrônicos são o que mais proeminentemente substituiu as brincadeiras antigas. Tem lá sua exceção, mas eles só trouxeram para as crianças o culto à violência, ao temperamento hostil, ao gosto por disputas, sem medir consequências, a mutilação de caráter, além de desobediência aos pais e aos mais velhos, emburrecimento e sedentarismo, que, consequentemente, trazem, também, doenças físicas e mentais.

Como é contado no livro, essa inversão de caráter, essa corrupção de menores, tem objetivo político. Quem mais sofre com isso é a população mais pobre. Aparentemente é a população que menos poder aquisitivo tem para ser cooptada por eletrônicos. Mas, o Sistema deu um jeito nisso.

O mercado pirata é tido como uma solução espontânea indesejada pelos grupos econômicos elitistas, um escape. Mas, na verdade é uma articulação do próprio sistema capitalista para que haja esse fenômeno de escravização de mentes infanto-juvenis e com isso se solucionar questões de desemprego em massa e de controle populacional por meio da fragilidade mental que propocionam os jogos eletrônicos e outros brinquedos industriais.

Tudo o que vemos desfilar nos jornais ou nas ruas sob a alcunha de combate ao mercado negro não passa de hipocrisia. E é de hipocrisia e desonestidade que sobrevive o capitalismo. Haja vista que não se vê outra coisa a ser exibido pela mídia. Sendo que a própria informação que processa a mídia é também dejeto dessa falta de caráter.

As plantas das varandas de nossas casas

Era costume, naqueles tempos, que a gente tanto menciona por aqui, ter cobertas de plantas a varanda e algumas outras partes da casa, além do quintal.

Plantadas em vasos ou em chassis, suspensos nas pilastras por meio de correntes ou soltos no chão, a enfeitar ou a receber outra função, como a de harmonizar o ambiente, carregando-o com energia positiva, que traz bem-estar e qualidade de vida, avencas, samambaias, bigornas, trepadeiras e outras plantas participavam do ecossistema e do cotidiano dos lares.

De manhã bem cedo elas recebiam, geralmente da dona da casa, ao sol matinal, a regada da manhã. Às vezes, em dias de Sol muito claro e quente, o meio-dia também era hora de molhar as plantas. O horário vespertino é o que mais deixa saudade, por causa do cheiro característico, de poeira batida, e do vento leve e constante, dependendo da estação do ano, que trazia de onde vinha os nutrientes para os vegetais.

Essa cooperação toda deixava no ar o aroma de quando a água melhor, a da chuva, vem cumprir seu papel de alegrar as folhas ao subir  pelos caules os nutrientes que fazem a vegetação prosseguir.

No livro “Os meninos da Rua Albatroz”, esse cotidiano é narrado em vários capítulos. E leva o leitor a experimentar uma pitada dos bons tempos em que as casas tinham por todo lado terreiros, vasos e vegetais. E cuidar deles era uma atividade importante e prazerosa.