Os meninos da Rua Albatroz estavam brincando de pegador de esconder. A área escolhida foi a chácara dos Dedé. Teve menino que subiu em pé de manga, teve quem escondeu atrás de pé de goiaba. Uns foram pra trás de um matagal, outros desceram o barranco e se enfiaram dentro do Buracão.

Pegador de esconder ou pique-esconde é uma das brincadeiras de antigamente que resistem à industrialização do brincar. Industrialização esta que é muito criticada em vários capítulos do livro “Os meninos da Rua Albatroz”.
A brincadeira consiste em reunir uma turma em um terreiro ou na rua e escolher, geralmente pelo “rei não bate”, uma das crianças para ser o pegador. O pegador deve se posicionar no pique, que também é escolhido previamente, de costa para as crianças que vão se esconder e de maneira a não enxergar para onde elas vão.
No pique, o pegador abre uma contagem que vai do um até o número que as crianças decidiram ser o limite para o tempo de elas se esconderem. Os meninos da Rua Albatroz escolheram contar até vinte. Ao chegar no limite o dono do pique grita “lá vou eu” e parte para tentar encontrar um a um dos brincantes.
Quando o pegador encontra uma criança das escondidas ele deve correr até o pique, contar até três, falar o nome daquele que foi encontrado e o lugar onde ele estava.
Se algum dos escondidos conseguir chegar no pique antes do pegador e gritar “um, dois, três, salvo” ele estará salvo de ir para o pique na próxima rodada. Se faltar apenas uma criança para ser encontrada e esta conseguir se salvar, ela salva todas as que foram encontradas e o pegador volta a ir para o pique pra contar novamente. Se isso não acontecer, a primeira criança que foi pega passa a ser o pegador na próxima rodada.
Na minha opinião, uma das melhores brincadeiras da infância. A qual, dentre outras coisas, ensina às crianças a honestidade. Ainda acontece de se vir as crianças brincando essa brincadeira, mas nao chega a ser uma esperança que isso vá durar muito, pois, cada vez mais, o governo, a mídia e os industriais trabalham para que a cultura seja dizimada e o gosto pela brincadeira industrializada prevaleça. isso é corrupção, é claro. Corrupção em troca de nenhum benefício para a juventude. Corrupção da mente infantil em troca da morte de seu futuro.
Os brinquedos eletrônicos são o que mais proeminentemente substituiu as brincadeiras antigas. Tem lá sua exceção, mas eles só trouxeram para as crianças o culto à violência, ao temperamento hostil, ao gosto por disputas, sem medir consequências, a mutilação de caráter, além de desobediência aos pais e aos mais velhos, emburrecimento e sedentarismo, que, consequentemente, trazem, também, doenças físicas e mentais.
Como é contado no livro, essa inversão de caráter, essa corrupção de menores, tem objetivo político. Quem mais sofre com isso é a população mais pobre. Aparentemente é a população que menos poder aquisitivo tem para ser cooptada por eletrônicos. Mas, o Sistema deu um jeito nisso.
O mercado pirata é tido como uma solução espontânea indesejada pelos grupos econômicos elitistas, um escape. Mas, na verdade é uma articulação do próprio sistema capitalista para que haja esse fenômeno de escravização de mentes infanto-juvenis e com isso se solucionar questões de desemprego em massa e de controle populacional por meio da fragilidade mental que propocionam os jogos eletrônicos e outros brinquedos industriais.
Tudo o que vemos desfilar nos jornais ou nas ruas sob a alcunha de combate ao mercado negro não passa de hipocrisia. E é de hipocrisia e desonestidade que sobrevive o capitalismo. Haja vista que não se vê outra coisa a ser exibido pela mídia. Sendo que a própria informação que processa a mídia é também dejeto dessa falta de caráter.