Minhas lembranças mais remotas

“‘Nenhum de nós se lembra de algo anterior aos 2 ou 3 anos de idade. A maioria não se recorda de nada que ocorreu antes dos 4 ou 5, diz Catherine Loveday, da Universidade de Westminster, no Reino Unido.” (Trecho de matéria sobre Amnésia infantil, publicado pela BBC em https://www.bbc.com/portuguese/geral-39477636.)

Minha mãe me contou que eu quebrei um dos braços aos dois anos de idade. Eu tenho uma leve lembrança de uma corrida noturna de meus pais, com minha mãe me conduzindo no colo dela, buscando levar-me para um hospital. Pode não ser essa a vez me contada, mas, se for, estou entre as poucas pessoas que saem do padrão quando o assunto é lembrar de fatos anteriores aos três anos de idade.

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Só quero saber do que pode dar certo

A exposição que se segue nasceu de um bate-papo no Facebook com uma ex-namorada. Discutíamos sobre a questão da idade. Ela quis saber se me incomodava estar cada vez mais avançando na idade. Entre outras coisas, haviam os conteúdos solidão, sucesso, fracasso e configuração da vida atual para serem analisados. Se algo estaria tal qual cada um imaginou estar quando jovem e o que deu certo e o que não. Certificados de que a maioria das expectativas foram frustradas, pelo menos para mim, passamos para a fase seguinte da conversa, que era as atitudes a tomar daqui em diante para ver nos próximos futuros mais expectativas tendo sido correspondidas.

Cinquenta anos e nada do que previ, ou melhor: imaginei, aconteceu pra mim. O ideal, então, passou a ser usar a política do “foda-se”. Ou seja, parar de planejar e de dar importância ao que sempre foi dado e que não se constatou benefício algum. Permanecer apenas com o inverso. Ah: controlar a vontade e testar o que nunca se testou, principalmente o que sempre se teve medo, é imperativo.

Aprender a respeito e experimentar o que pregam as doutrinas do ocultismo é uma das escolhas que fiz com relação a essa decisão. Ocultismo não é necessariamente satanismo, mas, se eu fui educado a jamais me atrever a pedir qualquer coisa para o demônio, isso eu tenho feito bastante agora. Por enquanto vi alguns resultados no campo psicológico, incluindo ver meu anjo guardião, o que aconteceu durante um orgasmo liberado por meio de tantrismo, uma experiência fantástica diga-se de passagem, mas, com relação às minhas circunstâncias sociais ainda não vi qualquer melhora sendo efetuada por conta das práticas a que venho me entregando. Posso considerar que os rituais que tenho aprendido podem terem mantidas as práticas, pois, pelo menos autoconhecimento estou tendo e também tem havido mudanças internas e espirituais que têm me feito suportar o cotidiano de fracassos que colhi até aqui. Logo, aquilo que é claro pra si que só depende de si mesmo para ser realizado e que lhe agrada deve ser mantido.

Por exemplo, você gosta de determinado estilo musical. E gostaria de sempre ter à sua disposição as músicas desse estilo. Comprar cada CD de cada artista que trabalha este estilo pode ser inviável por causa do fator dinheiro. Quantia que você não dispõe ou não se permite destinar a um passatempo. Mas, obtendo mensalmente aos pouquinho, você se vê conseguindo tudo que é do seu interesse conseguir. E sente confiança em que isso não vai mudar, você pode insistir nisso porque ainda que demore um pouco, você vai ter todos os trabalhos que deseja à sua disposição. À medida que a coleção aproxima-se de ser concluída, você se diverte com o que já tem e se emociona toda vez que decide usufruir das canções. A hora que você quiser você faz isso. Só depende de você mesmo pra fazê-lo. Isso, então, é algo que pra você dá certo. Você é competitivo o fazendo. Pode continuar a fazê-lo. Não haverá qualquer risco de arrependimento de ter se consumido tempo de viver outra opção de passatempo ou outro culto.

Agora vamos à uma antítese. Você torce apaixonadamente por um time de futebol. Gasta muito tempo, dinheiro e atenção com ele. Se emociona, às vezes está alegre, às vezes triste. Se enerva, deprime, adoece. Não só o seu time tem que sempre te dar resultados positivos, como também você se preocupa com os resultados do rival ao seu. Que em determinado momento pode até ser melhor do que o seu time, mas, tem que haver um equilíbrio entre eles ou então o seu time tem que ser superior em conquista de vitórias e de títulos. Do contrário, essa dedicação será inteiramente sem sentido, pois, notavelmente você só colhe fracassos torcendo para uma agremiação incompetitiva. Sem mencionar que o ato de torcer, ficar só na torcida, é bastante vago e puramente desprovido de racionalidade, pois, nada do que deve ser feito para que o resultado esperado pelo torcedor, vindo do objeto de sua torcida, pode ser operado por ele.

Pra você, essa dedicação só funciona se for assim, equilibrado ou com o clube do coração sempre superior aos outros e principalmente ao rival, só interessa se for assim, só traz algum benefício se for assim. Benefícios que não são tangíveis. Não enchem os bolsos e nem a barriga de quem se digna a ficar na torcida. Assemelha-se o benefício ao que proporciona o hobby mencionado. Só que no culto desse hobby não há a possibilidade de se ficar triste, enervado, adoecido. Entretenimento que não faz quem o cultua, por exemplo, poluir o ar, perturbar as pessoas com foguetório, alarido, buzinações. Apesar de por ser música ser possível incomodar sonoramente os outros, quem se preza a usufruir de uma coleção de música não sofre indução externa, como da mídia por exemplo, para proceder assim como procede o torcedor de futebol.

Assim como as redes sociais não se interessam por movimento de informações que não causam alvoroço de reações nos murais dos membros, as entidades que gerem o futebol não sobrevivem sem que haja guerras entre torcidas, intolerância, bafafás sobre as futilidades dos bastidores. É assim que a imprensa esportiva, por exemplo, mede seu alcance e capadidade de influência e apresenta a medição para os anunciantes investirem nela, perfazendo com isso a receita dos veículos de comunicação. E é também essa necessidade que justifica porque o futebol, na verdade o Esporte em si, é manipulado. O acaso nem sempre gera o que é crucial para o funcionamento do negócio.

E a movimentação de torcedores que vemos no cotidiano brasileiro é usada também para efeito de controle mental, que gera controle de comportamento, que viabiliza várias táticas de gestão populacional e de consumo, engenharia de voto e outras investidas contra a população domada pelo futebol.

E, ainda, quem executa músicas determinado pelo prazer da apreciação dela, percebe o quão é mais vantajoso manter certa civilidade e limitar esse culto ao seu espaço. Entra nele quem é convidado, sem que haja a figura da rivalidade para tornar asqueroso e pouco amistoso o ambiente.

Porém, para que o apreço ao futebol funcione de modo a ser importante para o torcedor, não depende exclusivamente dele. Não é ele quem vai pro gramado defender o seu interesse. E, como é muito difundido, há muita maracutaia na configuração dos resultados dos jogos, na distribuição de títulos e até mesmo lances dentro do campo podem ser armados. Ficando o torcedor torcendo em vão, acreditando estar influenciando a partida, chegando ao disparate de suplicar a Deus por um gol, quando nem mesmo Deus pode interferir, por já haver uma orientação a ser seguida até pelos atletas para que certo resultado se configure. Estudando Ocultismo se consegue entender porque Deus não poderia mudar certos acontecimentos orquestrados pelo homem.

Não devemos esquecer que o futebol é um negócio. É chamado de mercado da bola não é à toa. Portanto, quando se quer saber só do que pode dar certo, se deve abrir mão do futebol quando isso não está funcionando a contento. Se seu time não está bem, destine suas energias ao que você sabe que você é competitivo e que só depende de você isso dar certo e você regozijar com isso. Os torcedores rivais do seu time vão sentir sua indiferença e mesmo que eles estejam colhendo os benefícios possíveis de eles colherem com o clube que torcem, essa indiferença afetará o regozijo deles. O culto ao futebol depende do sentimento de superioridade e esse sentimento só é possível quando encontramos quem nos permite deslanchá-lo sobre ele. Agir com abnegação nessa situação é um jeito de ir à forra.

Nós somos os únicos responsáveis pelos nossos momentos, pela nossa alegria. Se nos dedicarmos àquilo cuja probabilidade de acontecimento positivo é maior e descartarmos as contrárias a isso, passamos mais tempo felizes do que infelizes. E o indivíduo que passa pela Terra tendo contabilizado mais momentos positivos do que negativos teve, com certeza, uma bela passagem pelo planeta.

Eu gostaria de inserir num único texto o que eu tenho para expressar sobre o tema dado pelo título desta postagem. Ainda falta falar sobre trabalho, militâncias e relacionamento interpessoal. Entretanto, textos grandes demais em blogs motivam a procrastinação em lê-los, o que gera a desistência de lê-lo na íntegra. Então, voltarei com a parte 2 deste post em breve.

Enquanto amando estamos curados

O clima do verão fazia suas vítimas, contaminando-as com a felicidade típica dos finais de tarde dessa estação. A turma estava na praia, tocando em frente um luau. Doze a quinze pessoas em sistema de revezamento de idas ao mar e buscas nas barracas da praia de mais comes e bebes. Havia os permanentes incondicionais, que não arredavam os pés do QG. Estes não abriam mão de cantar e dançar, se possível, qualquer coisa que os musicistas improvisados iniciavam os acordes que iam paulatinamente sendo reconhecidos e ganhava força o vocal.

Entre corpos sarados de homens e mulheres, uma mulher branca, beirando a meia idade, muito acabada e careca, se esforçava o máximo para manter-se no clima alegre e revigorante, que se não fossem as preocupações lhe programada pelos médicos, a faria imaginar que estava sendo desenganada sem motivos. O tumor em seu cérebro talvez fosse mentira. Mentira da mente do neurocirurgião, mentira do tomógrafo. Nenhum glioma residia em seu cérebro.

Foi uma descontração perniciosa que lhe tirou do transe em que se colocara. O rapaz que administrava muito bem o pessoal com uso de seu instrumento, um violão, fizera com que as pessoas tocassem no assunto que ela preferia esquecer. E ela mesma achava que era nada demais o refrão “e se for de amor, quero morrer agora“. Soou como mau gosto sem ele ter a menor das intenções de fazê-lo. Uma canção que ela própria muito gostava de ouvir.

A emoção da gente é um sentido. E ele se assemelha ao tato quando nos empurra incontinentemente as lágrimas para fora. Ao comando de seu pensamento viajante, que visita lugares mórbidos sem que ela queira, isso aconteceu com a moribunda. A cena da jovem senhora tentando disfarçar o pranto e tentando deixar o local sob desculpa sem nexo, fez com que houvesse uma brusca interrupção no evento. As mulheres da trupe confortaram a doente. O violeiro se pôs a redimir-se. E buscou em sua mente algo para compensar. Alguma cancão que carregasse uma mensagem de esperança.

Existirá / E toda raça então experimentará / Para todo mal a cura“. Ao fim da última estrofe da linda música do Lulu Santos, a até esse momento triste e inconformada senhora foi abraçada em grupo. O violeiro pediu um abraço em separado. As coisas voltaram ao normal. Ficaram até melhores. Alguém registrava em vídeo tudo o que acontecia, com uso de seu smartphone.

O evento aconteceu durante uma viagem de férias da protagonista deste conto. Fora para ele pensando que poderia ser a última vez que faria o que mais gostava: viajar. Voltou para casa fazendo planos para conhecer em breve outras praias. O convite partiu da turma com quem conviveu naqueles quinze últimos dias de janeiro.

Ela se relaxou um pouco com as recomendações médicas em seu cometimento de férias. E trouxe o vício com ela na sua volta para casa. Por mais de uma semana deixou para lá os remédios. Comia o que desse vontade. Agindo assim e vez ou outra relembrando os momentos vividos no litoral nordeste do Brasil, Ela conseguia acreditar que estava curada. Ela se comportava assim. Tomava cuidado para que ninguém da sua relação lhe dissesse o contrário e novamente programasse sua mente com a sugestão da doença. A maldita sugestão que alimentava somaticamente o seu câncer.

Se os filhos e o restante da família se ocupassem de lhe dar mimos, compreensão e um pouco de ilusão, as dicas de alimentação lhe dadas por um homeopata que ela conhecera em uma de suas idas ao hospital seriam suficientes para que aos poucos, com a ajuda do otimismo a que se configurara com ele estando no Norte, as células de seu corpo detivessem a degeneração.

Ela fugiu de tudo o quanto pode. A família não contribuiu para a cura alternativa nem com ela fazendo o pedido. E, usando de artifícios irrefutáveis, convenceram-na de ir ao consultório de seu médico fazer o exame de rotina. Nem que fosse pela última vez. Ela, por sua vez, quis provar para seus entes familiares que voltaria de lá com uma notícia que os surpreenderia e ela não mais retornaria àquele gélido estabelecimento.

Um médico não gosta de perder pacientes. Realmente não. Mas, fica-se sempre a dúvida quanto ao ponto de vista que se deve validar essa perda. O ceticismo digno da profissão, herdado dos centros de formação, fez com que o neurologista dissesse com ar descrente à pobre mulher que a doença parecia ter sofrido melhora, mas que não era bom se precipitar e parar com o tratamento. Um acompanhamento dele a deixaria mais tranquila para se chegar à certezas. E, como profissional convicto do ramo e da escola que teve, pediu encarecidamente à mulher que se livrasse dos homeopáticos, não seriam eles os responsáveis por qualquer mudança no curso da doença.

A jornada combinada com a turma da praia aconteceria em julho. Mês oposto ao de janeiro. Com frio e busca pelo campo em vez do litoral. Durante o tempo que teve ainda de vida ela trocou correspondência com todos eles. Inventaram até um cronômetro que marcava uma contagem regressiva e uma agenda para ticar os eventos precedentes ao novo passeio.

Ela venceu o câncer. O que a levou não foi esse mal. A falta de amor, de compreensão, de amizade e a autossabotagem, que faz com que deixemos de fazer o que queremos para fazer o que querem os outros, deteriora-nos internamente muito mais. Os outros animais nunca sabem quando estão doentes e simplesmente vivem. Era assim que ela pretendia viver o resto de sua vida, que ela sabia, não era o médico que lhe determinaria.

A conspiração contra a MPB

Nos anos 1970, a MPB, música popular brasileira, se encontrava avariada e apagada. Sucesso era o que a mídia lançava, à base de forte marketing.

Os artistas brasileiros que conseguiam notoriedade só o conseguiam porque tinham o apadrinhamento da mídia. Os demais eram apagados. Se via a ascensão e assimilação indiscutível da música industrial internacional. Mais precisamente a norte-americana, a britânica e as gravações de europeus que não eram do Reino Unido, mas que cantavam na língua inglesa.

Essa colonização tinha um propósito e como patrocinador   uma elite global oculta. Se tratava de um plano político de colonização através da cultura, promovido por estrangeiros e com a condescendência do governo militar no caso do Brasil. Essa trama teria sido registrada no livro “Firework operation”, de Neil Jackman. Obra que teria sido desaparecida do acesso público, por causa do seu conteúdo denunciativo.

O samba brasileiro era o ritmo que estava em alta no momento em que essa conspiração entrou em vigor, 1968. O Brasil exportava sambistas e sambas. Gravações nacionais competiam lá fora com o produto euro-norte-americano. Atrapalhava o faturamento das gravadoras e a consecutiva remessa de dinheiro para suas matrizes. Prática que em outros segmentos de mercado era comum no Brasil, uma vez que a maior parte do produto nacional era realizado por empresas estrangeiras, que aqui se instalaram e exploravam a mão de obra quase escrava a que se submetiam os brasileiros, que não tinham a tutela do governo militar para libertá-lo, já que esse governo estava corrompido pelas elites que existiam às suas costas.

Combater essa exploração, cumprir o papel que os militares não cumpriam, era um dos motivos de luta dos tantos grupos guerrilheiros de então. Alguns dos políticos e veículo de comunicação de hoje estavam nesse cenário defendendo os interesses das elites escravocratas e outros defendendo os interesses da população, mediante incursões em lutas armadas. Os que defendem o golpe contra a democracia hoje no Brasil são os que estavam ao lado dos militares. Os demais brigavam pela Liberdade.

No panorama interno, junto com outros movimentos, como o Clube da Esquina e a Tropicália, uns chamando atenção por causa da musicalidade e outros por causa do conteúdo letrista politizado, o samba incomodava a indústria fonográfica internacional. Vários músicos, querendo resgatar o original estilo Partido Alto, tendo no entanto que tapear o esquema conspiratório, decidiram empregar instrumentos sofisticados no samba e com isso abriram novamente as portas para artistas nacionais que não quisessem se render aos comerciais estilos importados. Nisso, muitos desses, como Martinho da Vila e Beth Carvalho, ganharam destaque e viraram produtos de exportação. Dando resposta imediata ao que cantava Paulinho Soares se dirigindo à conspiração anti MPB: “O patrão mandou tirar o samba da Parada. Very good macacada.”.

O livro “Os meninos da Rua Albatroz” deslancha essa conspiração contra a música brasileira e explica os motivos da ascensão do funk, outro golpe utilizando a música, dessa vez por razões também políticas e não só mercadológicas.