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À espera de alguém chegar
Amor evitado nas novelas
Voltava eu do trabalho em companhia de uma loirinha, cabelo curto bem reluzente, olhos azuis. Corpuda. Mais baixa pouca coisa a mais do que eu. Vestia calça jeans e blusa branca de botão. Abraçava a bolsa tiracolo. Me vi na companhia dela desde as escadas da Galeria Ouvidor, rumando para a rua São Paulo. Havíamos entrado na galeria para ela comprar alguma coisa. Quando atravessamos a porta da galeria para atravessar a São Paulo rumo à Praça 7, ela viu de longe, na calçada da Avenida Amazonas, uma morena de vestido azul e cabelos longos soltos. Acenou para ela a cumprimentando à distância. Daí ela me disse que aquela era uma amiga dela. E fez a ela um enaltecimento exibindo um semblante de satisfação em tê-la visto, como se isso a tivesse submetido a lembranças efêmeras.
Eu deduzi então que fossem ou tivessem sido elas companheiras um dia. Ela respondeu assim: “Como dizem na novela: a gente era feliz sem importar se a gente é homem ou se a gente é mulher”. E em seguida quis saber minha opinião a respeito.
Eu disse pra ela que precisaríamos sentar para eu dar a minha opinião completa. Ela entendeu o convite. Tinha tempo, então, paramos num dos bares no final da Av. Amazonas. Seguíamos em direção à estação central do metrô.
Eu estava sentindo uma atração por ela havia um tempo. Então, larguei da morosidade de sempre e fui logo viabilizando a cantada. Eu sabia que a situação era um pouco ruim por causa do relato dela, mas eu não tinha dúvida de que ela jogasse nos dois times.
Eu disse para ela que eu achava que as pessoas deviam chegar à conclusão de que é ou está sendo feliz por elas próprias. Sem depender do que ensina a dizer ou a pensar, por exemplo, uma novela. Nem sempre, a gente determinar que está sendo feliz tem a ver com gênero sexual. Se você está se sentindo bem em um maravilhoso carro que você conseguiu comprar, no que essa felicidade ou esse momento feliz depende de você ser homem ou mulher?
Disparando o que se passava em minha mente eu fui mais longe.
Veja, eu sinto uma atração enorme por você. E eu sinto isso quando olho para esses seus olhos azuis e esse seu jeito simples de ser, de me aceitar como um amigo. Tanto seus olhos, quanto esse seu jeito, poderiam pertencer a um homem. Portanto, para eu sentir essa atração por você independe de você ser uma mulher e eu um homem.
E você me deu essa oportunidade de sentar a só com você para discutirmos um assunto que facilita eu dizer isso. Você é pelo menos trinta anos mais nova do que eu. No entanto, pode ceder ao meu assédio e isso não fará a menor diferença para você. Ambos estaremos pensando no que estamos vivendo, se está sendo bom.
Se eu fosse me orientar pelo que diz a novela, eu nem arriscaria a dizer o que estou dizendo, pois, a novela ensina, como padrão, que os amantes devem regular na idade, na cor, na religião, na cultura, na condição financeira. Só dizem coisas diferente disso, só incentivam relações mais díspares ante a esses preconceitos, se algum patrocinador estiver com a intenção de patrocinar determinado tipo de casal e investiu na novela para fazer a engenharia social de aceitação.
Da mesma forma fazem com a sexualidade. E por não haver naturalidade no comportamento das pessoas que se submetem à telenovela e copiam o que veem nela, acabam por experimentar infelicidade, pois, haverá um tempo em que o transe passará. Principalmente quando outra novela aparecer, outro assunto passar a ser discutido e o anterior deixado de lado, se não houver quem se interesse que seja mantido em evidência.
A loirinha se embriagou com o mix de emoção que ela experimentou. Surpresa, admiração, porre de conscientização, vaidade por receber elogios, tesão. E eu não quis perder tempo e nem correr o risco de deixar escapar um flerte por falta de ação. Nada de deixar nenhum dos ânimos esfriar. Era visível que era ela naquele momento uma presa fácil. Toquei-lhe, com carinho, o braço direito na altura do ombro. Ao certificar que ela não fez objeção, trouxe ela pra mim. Foi assim que começou esse namoro do tipo que excluem nas novelas: amor sincero.
Adaptado de um capítulo do livro “Contos de Verão: A casa da fantasia“, que expõe alternativas de desenvolvimento de relacionamentos.
Minha adorável vida de hétero
O Celta cinza prata fazia cem por hora sempre que havia oportunidade. Para trás ficava a paisagem vista como mera sinalização do caminho. O destino, o velho Júlio não sabia por que cargas d’água estava no rumo que tomavam. Passaram por vários motéis. “Tá certo que a maioria é bem abaixo da crítica, mas, havia uns dois de luxo“, sobrava para ele se perguntar sentado no lado do carona enquanto a morena estonteante guiava o volante e revezava afobada seu pé direito entre o acelerador e o freio, deixando o rapaz a notar o que das coxas da amiga de faculdade conseguia escapar pela aba da saia branca que ela usava. Quando o semáforo obrigava a parada, as bocas se encontravam, sob olhar de soslaio da moça para garantir a segurança de não estarem a serem vistos, e beijos lacônicos amenizavam a inconsciente pressa.
Onde, ele tinha um palpite. O que ela tinha em mente, ele não tinha dúvidas. Era para ser apenas uma carona até parte do caminho rotineiro que a jovem recém balzaquiana fazia toda noite para ir para casa. Ele deixaria de ser companhia para ela cerca de vinte quarteirões antes de ela pegar a Padre Pedro Pinto, sentido Ribeirão das Neves, localidade que estava bem além do ponto onde a própria pararia seu carro e o guardaria na sua garagem.
A dúvida de que era sexo com ele o que ela queria ele desfez logo que ela fez questão de não falar sobre aulas. “noite de sexta-feira a gente tem que pensar é em outra coisa“. Somando-se à fungada maliciosa em seu pescoço logo que ele aceitou a carona. Fungada que lhe custou o restinho do cheiro do Ladro borrifado às quatro e meia da tarde, antes de ir para escola. O qual formava o pelotão de frente para defender a pele do moço contra o cheiro forte do suor peculiar do stress de ter que suportar quatro horas a estudar. A certeza de que era iminente a primeira transa com uma colega de sala daquela faculdade de administração, que ele iniciara só para ocupar seu tempo, lhe vinha como certo é também que mamão com açúcar tem gosto adocicado.
Pelo parabrisa as luzes confusas dos carros da contra-mão junto às buzinadas desnecessárias que os vândalos do trânsito insistem em oferecer aos ouvidos presentes como forma de obter atenção fazia aumentar profundamente a impaciência. Na altura de uma agência da Caixa Federal, naquele ponto de aspecto pobre da Grande Belo Horizonte, o velho Júlio teve que confirmar com a motorista misteriosa o local para onde seguiam. Lindy era uma mulher casada e morava para aquelas bandas. Ele só sabia isso.
“Meu marido é caminhoneiro e volta para casa sempre no sábado pela manhã“. “Relaxa! Não vamos passar a noite toda lá em casa“. Era para a casa dela mesmo para onde iam. Como ele desconfiava. E a irmã? Ela lhe falava dentro da sala de aula que havia uma irmã que mora com ela e o marido. Pensamentos mais picantes penetravam na cabeça do homem de meia-idade que se mantinha em silêncio a maior parte do tempo.
Uma virada à direita e a avenida foi deixada. O caminho tornou-se mais estreito e ainda mais paupérrima a aparência do ambiente. Adentraram-se em um bairro com algumas casas boas revezando com barracos e sobrados cheios de puxadinhos. Ruas pavimentadas e outras de chão puro. Um córrego à céu aberto despontou. O carro o contornou até certo ponto. A iluminação viária desceu. Postes com lâmpadas acesas intercalavam outros com elas quebradas. O medo que Júlio sentia tentando não deixar transparecer misturava-se com a excitação causada pelo sombrio panorama voltado para a expectativa de infortúnios típicos de periferia. Superava a inevitável aflição de ser flagrado pelo conjugue legítimo de Lindy. Porém, estranhamente não burlava esses contrapontos a vontade de ultrapassar os momentos preliminares à diversão que estavam à espera de degustar.
*Acompanhe este conto no marcador “Minha adorável vida de hétero”.
Não era a hora
Uma coisa que quem pretende se tornar um conquistador ágil tem que saber é leitura fria. Interpretar gestos, expressões faciais e posturas com que as pessoas se comportam. E uma pessoa de pé em uma estação de ônibus, olhando, abraçada bem firme à bolsa, para o ponto onde o mesmo pára e as portas se abrem para os passageiros, não está exatamente em um momento propício para receber um flerte. O foco dela está em seu interesse absoluto. E ainda existe sua individualidade para tratar.
Ele olhou para a loira de lábios grossos mordiscantes e com o cabelo escorrendo no rosto cobrindo um dos olhos e a achou estupenda. Sinalizou seu íntimo caçador de conquistas: “eis uma chance”. Tudo que ele tinha que fazer era promover mudanças no aspecto dela. Se ele conseguisse fazer isso ele baixaria a guarda dela. Teria que usar seus truques de influência à distância.
Ele percorreu com os olhos atrás do anel dedo duro na mão esquerda dela, pois, aparentemente Loira Lábios Grossos parecia casada. Ele não encontrou entre os tantos anéis que ela usava o que poderia ser uma aliança de casamento, mas a impressão continuou valendo. Sua intuição é que lhe estava dizendo. Outra coisa que conquistadores precisam desenvolver é comunicação excelente com o seu eu interior, que é o seu cavalo.
Bem, você sabe, o lema do conquistador é “o tempo voa, amor”. E a maior perda e a única que o conquistador lamenta é a perda de tempo. Não que devemos agir inconsequentemente e invadir território dos outros. Se ele viesse a constatar mesmo o laço matrimonial na vida dela expresso de alguma forma indubitável, sua caçada pararia por ali.
E o ônibus chegou na estação e abriram-se as portas. Ficou sabido então que esperavam a mesma linha. Ela entrou primeiro. Ele a seguiu. Não havia chances para sentar. Ele ficou ao lado dela. Perto da orelha esquerda dela. E armou o bote.
A estratégia era usar a telepatia. Influenciá-la a ter pensamentos que a fizesse imaginar que ele tentava uma aproximação. Se ela o fizesse, ficava a cargo dela decidir se lhe interessava ou não a oportunidade. E era ela quem ia iniciar essa aproximação. Ele, para todos os efeitos, estava de pé ao lado dela, a observando perifericamente enquanto aguardava o momento de sair da lotação. Nada mais do que isso. Coisa que todo homem faz se perto de uma mulher atraente.
Aquela sensação de estar a ser observada pairando na fronte dela a deixou perturbada. Ela se mexia demais, olhava pra ele com olhar de súplica, querendo falar-lhe alguma coisa. Fazia que ia e não ia.
Até que resolveu dar uma demonstração gratuita de feminilidade, de mulher que não resiste a uma abordagem masculina bem construída, mas que é honesta e que sua honestidade e respeito para com o seu sobrepõem qualquer tentação. Fez aparecer para ele a aliança no dedo anular da mão esquerda, que jazia sob um anel com pingente e parecia fundida a este. Mordiscava ela os lábios enquanto fazia isso. E olhava para seu reflexo no vidro da janela lhe frontal do ônibus. Ele observou a agitação dela e também o lindo relógio analógico que ela usava. Ela imaginou que lá vinha a velha e ridícula cantada de perguntar a hora.
ELE SORRINDO PRA ELA: Só pessoas de extremo bom gosto é que usaria um relógio desses. Que bom que elas ainda existem. Desculpe eu atrapalhar seu sossego, mas é que você me ajudou a decidir voltar a trabalhar com vendas desses artigos.
ELA PRA ELE: Volte sem medo, pois, eu te compraria o que vendesse.
Ele se deu por satisfeito por desestabilizá-la e cumprir o objetivo de lhe mudar o comportamento de quem apenas se interessava em aguardar um ônibus para um favorável a ele. Se estivesse em uma missão de venda ele teria vendido um exemplar do seu produto. Isso lhe incentivou a apostar no ramo. A liberou, então, da sedução hipnótica que ele provocava nela e saltou na próxima parada.
A técnica de influência a distância que ele usou ensinarei no livro que decorrerá deste blog.
Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor”.
Encontro marcado pela internet
A onda agora é sair para encontrar alguém que se conhece apenas virtualmente. Alguém que até o momento derradeiro é apenas uma ideia de uma pessoa colocada na mente de outra por meio de imagens e textos. Nada seguro. Nem quando rola uma webcam para deixar as cartas sobre a mesa, pois, aquele ou aquela que aparece na tela pode ser só o ou a cúmplice de um trato onde um fala e outro escreve. E assim proceder até a hora do encontro real, que inevitavelmente desvenda tudo. E este do conto aconteceu logo, sem perder muito tempo com conexões longas e diárias. Apenas três semanas se passaram, desde que se conheceram por intermédio involuntário de uma amiga em comum.
Encontraram em um barzinho próximo ao zoológico da cidade. Ela pareceu a ele mais interessante do que o que conhecera até aquela hora. Ele pareceu a ela o sujeito que fez valer a aposta. E partiram para o desafio dos primeiros instantes a conversar ao vivo, de perto. Sentindo o cheiro do outro. Que junto com o tato e o paladar era um dos sentidos que faltavam. O homem ainda tem que melhorar e muito com suas invencionices que buscam suplantar os problemas da vida atual. Encontros presenciais sem complexos, por exemplo.
As perguntas corriqueiras de primeira vez a sair juntos foram dispensadas, pois, estas já haviam sido respondidas via inbox de uma rede social. Uma ou outra coisa foi confirmada. E como não mentiram em nada, foi melhor aproveitar o momento para tecerem assuntos mais envolventes e adaptados ao instante. Torcia ela para que ele fosse ao vivo tão inovador em matéria de assuntos quanto era virtualmente, quando tem à disposição ferramentas como o Google Search para ajudar a compor uma cantada por exemplo.
ELE INICIANDO A CONVERSA: Fiquei admirado, pois você me parece bem diferente do que o que eu vejo pela câmera.
ELA: Melhor ou pior? [risos de ambos]
ELE: Eu diria que estou mais feliz com o que vejo aqui e agora, mas não que eu já não estivesse feliz com o que eu esperava de encontrar.
ELA: Eu tenho a mesma opinião.
ELA DE NOVO: Eu gosto muito do que você escreve, do que compartilha, das suas opiniões.
ELE: Tenho às vezes que me policiar muito. Opinião é algo que a gente não quer abrir mão, mas que nos trai muito. Fico feliz de você me dizer isso. Mas, com certeza, o que vai valer aqui é a sua opinião.
ELA: Tipo… a escolha do que vamos beber ou comer será minha? [risos dos dois]
ELE: Qualquer decisão por aqui será sua.
E foi parar na mesa dos dois um magnífico jantar regado a bebidas convencionais e bebidas inusitadas. O tempo passou tão devagar quanto devagar era o ritmo da música ambiente que vinha de pequenas caixas de som penduradas em cada pilastra de madeira que segurava o telhado colonial da grande área onde ficavam as mesas daquele restaurante especializado em servir comida mineira. A música foi o melhor paliativo para ele por lenha na conversa dos dois e enaltecer a beleza madura da elegante ruiva vestida para o que viesse. E o que de melhor podia surgir, surgiu. Naturalmente. Não ali, é claro!
Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor“.
As maravilhas que faz uma xícara de café
Eles estavam em um salão. Era uma reunião de congraçamento. Havia terminado o treinamento de uma semana, dado por uma loja de departamentos para trinta pessoas que iam ingressar na empresa e trabalhar com vendas. Sete moças e oito rapazes, que resistiram até o último dia de treino e passaram no processo seletivo eliminatório, iam dividir as vagas. Dali em diante seriam colegas de trabalho. Cada um marcaria presença em um setor de vendas específico da empresa.
Havia uma mesa em um canto do salão e sobre ela vários comes e bebes. Salgados, componentes para montar cachorro quente, garrafas de refrigerantes e caixas de suco. As pessoas, todas bem dispostas, passavam para lá e para cá animadas e não deixavam de ir até a mesa para beliscar algum comestível, fazer um cachorro quente ou encher copos com refrigerante ou com suco.
A outra opção era sentar em uma das cadeiras dispostas nos cantos do salão, em grupos de três, quatro ou cinco cadeiras, e formar um grupinho para conversar sobre como foi o curso ou sobre como serão os dias no novo emprego. A alegria no espaço contagiava quem entrasse nele.
Ele estava próximo a uma máquina cafeteira que havia no local. Pensava em degustar mais um pouco do líquido que só estava presente na celebração porque o salão reservado para ela, nos horários de intervalos dos funcionários efetivos funcionava como área para recreação e lanches. Mas, não foi só Ele a ter se interessado em bebê-lo.
Nessa vez que foi até a máquina para preparar para si mais uma dose de café expresso, ele observou ao redor para ver se alguém jazia com xícara vazia na mão. E seus olhos encontraram Ela, sentada sozinha em um canto, com ar sublime e uma xícara pendendo em uma de suas mãos, como se existisse uma leve preguiça de levá-la até a mesa.
Logo ela, que o rapaz achou bastante interessante de se conhecer em um momento extra curso, fora das aulas que estavam tendo. Ele, em vez de preparar só uma dose, preparou duas. E foi para a direção dela.
ELE: Observei que você está segurando uma xícara vazia, imaginei, enquanto eu enchia uma para mim, que você pudesse querer mais um pouco. Aqui está! Se não era isso, não precisa aceitar, eu gosto muito de café! [disse risonho o rapaz]
ELA: Imagine! Claro que aceito! Sente-se aí, eu acabei ficando sozinha nesse canto. Obrigada pelo café!
ELE: Não há de quê! Sei que faria o mesmo por mim!
E os assuntos que os dois levaram, até certo ponto rondaram o que aconteceu no curso. E depois aconteceram daquelas descobertas de coisas em comum que sempre rolam de acontecer quando duas pessoas comunicativas se apegam num canto para conversar. E disso iniciou-se um relacionamento que ficou para ser desenvolvido no novo ambiente de trabalho de ambos.
Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor“.
Começando bem
Tudo indicava que ele ia se dar bem naquele novo emprego. Os especialistas do departamento pessoal da loja de departamentos acharam que ele seria bem aproveitado no setor de vendas de calçados feminino. Ele passava a impressão de que tinha carisma com as mulheres. Elas poderiam entrar no setor só para falar com ele e numa dessas, se ele fosse mesmo bom, arrancaria delas no mínimo uma venda básica. E ele também sairia ganhando, pois, o cargo era comissionado e a empresa íntegra com os pagamentos de cumprimento de metas.
Em seu primeiro dia de trabalho, lá estava ele aguardando a entrada de freguesas. Vestia o traje social de vendedor da loja. No bolso da camisa, bem no lado do coração, uma caneta foi deixada juntamente com um porta cartões contendo cerca de 25 unidades. A loja mandou preparar os cartões com seu nome durante a semana que intercalou o fim do treinamento e a estréia no trabalho. A semana dedicada aos processos de admissão.
Eis que, quase uma hora de espera, pois era um dia de semana, uma segunda-feira, duas mulheres balzaquianas invadiram o setor de calçados femininos para conhecer as promoções que estavam vigorando. Ele nem cogitou ir até lá para perguntar “posso ajudar”. De antemão ele já sabia que isso está entre as coisas que vendedores afoitos fazem e que cliente nenhum gosta de ser alvo dela.
Mas, o treinamento exigia que ele o fizesse. Ele relutava quanto a arcar com a abordagem clássica, mas sabia que precisava usar sua criatividade para abordar as freguesas. Transformou sua entrada de vendedor de sapatos querendo realizar uma venda em uma entrada de conquistador de mulheres bem sucedido. Sem esquecer de seu lema: “hoje o tempo voa”, logo, nada de perder tempo.
ELE: Bom dia! – Disse seu nome para se apresentar – Sou vendedor aqui desta seção e estou à disposição de vocês, mas não quero incomodá-las. Quero que fiquem à vontade e com o meu cartão. – tirou do bolso seu porta cartão, já abrindo a minúscula caixa – Se precisarem de alguma coisa é só levá-lo até mim. Se desejarem fazer isso noutra hora, é só levá-lo com vocês!
As madames ficaram surpresas com a abordagem. Se sentiram pressionadas a levar o cartão até ele. E nem era porque haviam decidido realizar uma compra. Mas a compra foi feita.
Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor“.
Galanteios de sobremesa
Fez tudo o que tinha que fazer para se qualificar. E contou com a sua intuição, com muita motivação e com sua determinação para ir aonde tivesse que ir ou acessar o que tivesse que acessar para saber onde iam parar os anúncios de contratadores do ramo e acabou por sintonizar com a oportunidade que estava nela.
Prestes para iniciar em uma vaga em um hotel do litoral cearense, como garçom, ele rumava, ordenado por seu superior, para uma mesa onde havia quatro mulheres. Aguardou um tempo as observando, agindo nesse ínterim como um ator a encarnar uma personagem, e depois, já nela, com o cardápio na mão e todo garboso em seu alforje branco e preto ajustado em seu corpo esbelto preparado cientificamente em uma academia de ginástica, também durante os meses em que atuou como vendedor de sapatos, ele lançou um de seus scripts vencedores à mesa que foi atender.
ELE: Boa tarde! Observei que vocês decidiram por esta mesa e vim me apresentar.
O truque hipnótico fez tão rápido seu efeito, que a mais assanhada das quatro moças não hesitou em confessar que o chamaria o tempo todo só para ouvir galanteios. É um item que os garçons podem levar à mesa, que não tem em nenhum cardápio de bar ou de restaurante, mas, que todo mundo que sai para se divertir gostaria de encontrar como cortesia da casa.
Trabalho divertido
Novo texto migrado de um blog de minha autoria.
A administração do resort praieiro avaliou os resultados que Ele apresentava prestando serviços de garçom e resolveu explorar isso em outras áreas dentro do hotel. Tinha em mente adaptar sua serventia combinando os serviços de atendimento à mesa com os de um relações públicas. A ideia era que ele se misturasse com os fregueses em determinado momento após acomodá-los ao ambiente recreativo do restaurante, tendo substituída a tarefa de garçom por outro profissional do ramo, se possível igualmente capacitado para atender e entreter. Isso desde que os fregueses o quisessem. E nisso, ele abordaria a clientela a incentivando a solicitar petiscos e bebidas exóticas que a casa servia, divulgaria os eventos promovidos pelo resort, arrancando o interesse dos clientes em presenciá-los, e formaria, com isso, um adicional de receita bem prodigioso.
A primeira missão estava em curso. Ele tratou de conduzir turmas diferentes para mesas próximas, sem que estas se dessem conta de que ele queria uni-las. E foi o responsável por levar os pedidos e trazer, junto com um companheiro, as bandejas com os consomes solicitados. Um dos retornos dele às mesas não teve volta para a cozinha, só a do companheiro. Ele fez o combinado, se misturou aos clientes, primeiramente os induzindo simpaticamente a observar alguns truques de malabares feito com garrafas de champanha fechadas. O risco de elas caírem, se quebrarem e jorrarem o líquido para toda parte havia, mas, a plateia, não sabendo do improviso e imaginando ser um truque controlado, nem notou essa particularidade.
Enquanto ele jogava garrafas para o alto e as pegava de volta, esbanjando confiança, Ela, que estava em uma das turmas, admirava a façanha. Não a de tocar o número até certo ponto simplório, mas, por cativar a audiência, que, a bem da verdade, estava ali para ser observada e não o contrário. E ela o ouvia falar, olhando focado para as garrafas que subiam e desciam, enquanto operava.
ELE: A vida é cheia de surpresas. Vocês concordam?
A PLATEIA: SIM!
ELE: E cheia de altos e baixos. Essas garrafas podem muito bem ser um de nós! E aquele que serve pode ser servido; o que admira pode ser admirado. Basta termos carisma. E vocês têm. É por isso que eu estou os servindo e eu estou admirado com vocês. Vamos brindar! O que acham que combina com esse clima que estamos experimentando neste momento? A casa tem tanta coisa exótica, que são exclusividade dela. Querem experimentar?
E a audiência toda envolveu-se no show inesperado e provou dos demais diferenciais do resort. A tarde passou bem divertida e o turno virou sem que o tempo passasse depressa e sem que fosse percebida a virada. Ele terminou o expediente na companhia Dela. Foi quando as garrafas de champanha foram abertas, mesmo com a bebida estando quente, e um grupo de boêmios seguiu em direção à praia para admirar o luar, que até então só admirava.
O livro “Contos de Verão: A casa da fantasia” conta a história de uma pousada que arriscou competir no mercado hoteleiro em um paraíso tropical cheio de tubarões do empreendedorismo, apostando em inovações no atendimento e no talento de cada funcionário, não interessando a rudimentarização da sua função.