Sedução muito pesada

Se autocensurava Ela por causa dos seus oitenta quilos de peso distribuídos pelo seu metro e sessenta de altura. Era uma gordinha simpática. O volumoso corpo não repugnava ninguém exceto ela mesma.

Esse comportamento inseguro fazia com que Ela não arriscasse a dar o passo seguinte em direção a materializar sua vontade de sair com Ele, que ela ouvira das amigas se tratar de um homem maravilhoso, sem preconceitos e que as fizeram se divertir na companhia dele e gozar horrores em casos de sexo casuais. Ela queria ter a vez dela.

Entrara em uma academia de ginástica só para tentar melhorar sua autoestima. Mas, parecia não dar muito certo a investida, pois, logo que o efeito dos esforços físicos passavam ela se via a recuperar a ansiedade, que a fazia comer irresponsavelmente para contê-la.

Entretanto, parece que os seres humanos têm um fusível que quando o desejo é muito forte ele queima e obriga o indivíduo a repará-lo devido à dor incontornável que se sucede. Sendo a forma de efetuar a reparação, mover-se a fazer com que o desejo se cale. Em outras palavras: ir à luta!

E Ela se encontrava com o fusível queimado, precisando restabelecê-lo. E, coincidentemente, nesse dia ela viu à deriva, dentro de um shopping, prestes a subir em uma escada rolante, o motivo de sua aspiração incontinente. Apressou-se, com dificuldade por causa de seu peso, para tomar conta do degrau logo atrás do que ele tomava. Por sorte ele não era daquelas pessoas que sobe degrau por degrau enquanto a escada rola.

ELA: “Ê-ei! Veio comprar um presente para mim?”

ELE, SE VIRANDO PARA ELA SURPRESO COM O CHAMADO:

“Olá! Como vai?”

ELA, VENCENDO BRAVAMENTE A TIMIDEZ:

“Muito melhor agora que você está me dando atenção.”

ELE, NOTANDO O AR DE CANTADA E JÁ ARQUITETANDO UM PLANO PARA POR EM PRÁTICA UMA TRANSA EXCÊNTRICA:

“Que bom te encontrar, preciso mesmo de uma ajuda feminina.”

ELA, PRECIPITADAMENTE VENDO SUA SORTE FRACASSAR:

“Po… pode contar comigo!”

No segundo pavimento do estabelecimento comercial eles entraram em uma loja de roupas femininas. Nela, ele pediu para a colega de trabalho escolher uma langerie que ele daria de presente para uma mulher que por acaso tinha as medidas parecidas com as dela.

Ela escolhera, casuísticamente, a vestimenta íntima, pois, ficara explícito para ela que o rapaz era acessível à pessoas do porte dela.

Em aproximadamente vinte minutos a escolha foi feita e a compra efetuada. A moça ficara bastante feliz com a execução da tarefa imprevistamente lhe conferida. Lamentou não poder ser ainda mais útil e invejou a sorte da felizarda que vestiria a roupa que ela ajudara a escolher.

ELE, ABRINDO MÃO DE QUALQUER RISCO DE CRIAR UMA SITUAÇÃO DESCONFORTANTE:

“Agora, preciso ver como fica com a pessoa vestida com essa langerie. Será que está a seu alcance essa tarefa?”

Na cabeça dela ele só poderia estar falando de irem para um motel. Em nenhum outro lugar ela poderia colocar a langerie para ele visualizá-la vestida nela. A adrenalina que surgiu lhe deixou trêmula. Com muita dificuldade ela respondeu positivamente a ele.

E do shopping eles partiram para o motel ao lado. Onde ela experimentou a roupa, matou seu desejo de transar com ele, reconstituiu seu fusível controlador de ansiedade e ainda ganhou uma langerie nova. Que ela própria escolheu.

Extraído na íntegra do livro “Todo o mundo quer me amar“, uma seleção de crônicas eróticas, sedutoras, empreendedoristas, românticas, mágicas e divertidas.

À espera de alguém chegar

Eu via a vida se passando
à espera de alguém chegar.
Um belo dia veio Sandra
a minha vida transformar.
 
Um novo Sol eu vi brilhar.
Um novo tempo pra sonhar.
Vi que a sua porta se abrirá.
E ao teu convite eu me vi entrar.
 
Seus olhos negros feito a noite.
Tem um jeito incrível no olhar.
Seu riso tímido contagia.
Faz qualquer coisa se alegrar.
 
Vi um grande amor se aproximar.
Meu coração ferido eu vi se curar.
E o seu nome:
SANDRA,
para sempre eu me vi chamar.
 
Publicado pela primeira vez no Recanto das Letras em 2013.

Este poema foi publicado no livro “Todo o mundo quer me amar” junto com as demais postagens do blog do autor “Hoje o tempo voa, amor” e textos inéditos.
O livro narra a busca de um homem pelo desenvolvimento empreendedorista, que acaba lhe tornando empreendedor também no campo amoroso, o que o faz viver romances maravilhosos com todo tipo de mulher. Adquira e se encante com cada crônica que o livro oferece.

Escolha o que te influencia

Com algumas observações se constata que é verdade que as pessoas com as quais nos relacionamos podem, de alguma maneira, influenciar nossos hábitos e decisões. Por isso é bom procurarmos estar a nos relacionar com pessoas vitoriosas, cultas, que possuem boa conversa, que passam otimismo e motivação para o sucesso, que sejam bem-sucedidas.

Se você é uma pessoa assim, venha para perto de mim e me influencie à vontade.

Agora, não é sempre que podemos contar com gente desses naipes ao nosso redor. Há alguns truques como ir ao encontro delas; frequentar os ambientes que elas frequentam e neles procurar pelo menos estar em pontos onde é possível observá-las.

E quando a impossibilidade disso se fizer, nem tudo está perdido, pois, existem os livros. Criar o hábito de ler e escolher obras de autores consagrados para devorá-las em leitura e se deixar influenciar pelo que elas incitam equivale a estar próximo deles a receber suas influências.

A mídia livro é ampla no quesito influenciar. Você pode deixar se seduzir por um autor ou por uma história, mas, também pode fazer o mesmo com um gênero literário. Se você quer se tornar um ótimo administrador de empresas, então, deixe-se influenciar por livros do gênero. E segue o mesmo para os tantos outros que existem.

As vezes, somos influenciados por personagens que encontramos pelas histórias a fora. Fictícios ou tirados de alguma biografia. Nesse caso, o poder pessoal do autor nem importa. Quanto mais carismática a personagem, mais desenvolvimento pra quem lê.

Adquira o livro “Todo o mundo quer me amar” e se deixe influenciar pelas tantas personagens bem magnéticas que há no romance em forma de crônicas.

Pecando em alto estilo

Pela greta da porta, Vera Cristina olhava sua irmã se deliciar do sexo. Sua mão livre fazia que ia e desistia de ir acariciar seu clitóris. A região estava inundada. De uma inundação que junto com a sensação que ela experimentava em silêncio forçado ela jamais tomou conhecimento de que podia existir.

O espetáculo que ela assistia estava no auge. Até ali, Lindaura atingira o orgasmo duas vezes. Ela estava sensível demais e provou logo um duplo. Os movimentos do parceiro permitiu a façanha, que com o marido jamais ocorrera. Lindaura não economizava no volume de seus gemidos. Isso possibilitou Vera vez ou outra soltar alguns suspiros que se não abafado o som poderia revelar sua localização.

A calmaria sônica comum do início da madrugada naquele lugar foi interrompida por um ruído peculiar das moradoras da casa ouvirem geralmente às nove da manhã dos sábados. Era inusitado demais para ser o que se passou pela cabeça de Lindy. Por isso ela continuou a cavalgar com a calcinha descida, presa na canela de uma das pernas, e a saia levantada, no colo do homem que ela elegeu amante naquela noite. Os olhos fechados e os lábios ajudando na respiração é o que ele via dela enquanto a segurava pelas ancas. A calça jeans que ele usava, aberta na região do zíper, a conta de expor estrategicamente o pênis, oferecia-lhe desconforto.

A plateia de um integrante apenas acomodada atrás da porta do corredor não se deixou levar pela euforia do acontecimento e reconheceu o desligar do motor do Volks 8150. Notou também o bater apavorado da porta do motorista, a fala rasteira reclamando de terem deixado a televisão da sala ligada, a batida enferrujada do portão social  e os passos nada educados a pisotear os degraus da escada externa e a aproximar da porta da sala.

Num átimo, Vera Lúcia deixou seu esconderijo e invadiu a sala para socorrer a irmã. Àquela altura a própria já identificava a solidez do inesperado. Benício provavelmente estava bêbado. Alguma coisa de podre acontecera para ele voltar antes do trivial. Principalmente por ser uma madrugada.

Lindaura desertou-se do posto. A irmã a substituiu no colo do rapaz, que já estava razoavelmente recomposto e vestido. A boca dele foi procurada por Vera. Ele entendeu o que ela tinha em mente. Lindaura correu o quanto pôde corredor a dentro em busca de seu quarto. O barulho de chuveiro elétrico sobrepôs o dos dois aparelhos televisores que estavam ligados.

A redenção pela greta da porta

Fim da linha para o casal em pressa. Lindy apagou os faróis do carro e seguiu com eles apagados, pelo pequeno quarteirão que ela conhecia de olhos fechados. Confirmou se o Volks 8150 branco com um baú cinza acoplado estava parado na porta, como de praxe: de maneira a atrapalhar a passagem para a garagem de sua casa e a incomodar durante o dia os transeuntes que precisavam trafegar pela rua de calçadas desuniformes. Seria um sinal que lhe estragaria os planos. Ao que lhe pareceu seria uma virada típica de sexta-feira para sábado.

As portas do Celta foram abertas devagar. Ambos saíram juntos. Ele fechou a porta do lado do passageiro sem fazer qualquer barulho. Ela deixou a do motorista aberta. O motor estava ligado em marcha lenta e as chaves na ignição. Olhou, Lindy, para cima e notou a irmã segurando a renda da cortina da janela da sala, que ficava de frente para a rua em um andar superior, para observar discretamente quem vinha. O suave bombardeio do motor em estado de marcha lenta foi o que a fez buscar a janela. Olhando para cima, a claridade fosca denunciava que ela via televisão. O restante da casa estava com as luzes apagadas. Mesmo a do alpendre.

Lindaura abriu o portão de bandeira da garagem e solicitou ao amante que ele guiasse o carro para dentro dela. Ele deu a volta pela frente do veículo, entrou nele e fez o que foi lhe ordenado. Obviamente o farol teve que ser ligado. Este revelou no interior do cômodo de paredes apenas rebocadas uma escada que conduzia à porta de entrada da sala no andar de cima.

Mal o carro chegou ao ponto que precisava atingir para que o portão pudesse ser fechado e a dona da casa já puxou o próprio para dentro, enfiou-lhe a chave na fechadura interna e o trancou. O próximo passo foi se lançar nos braços do homem que a acompanhava. Parecia que o coito aconteceria ali mesmo. Mas, foram apenas carícias mais picantes. A moça estava decidida a levar o parceiro para o interior de sua residência.

A porta da sala já se encontrava destrancada. Quando foi aberta, Lindaura viu a irmã sentada no sofá grande. A TV, ligada no Cine Record Especial, era a companhia de Vera. A protestante olhou para os dois com o semblante de quem desaprovava o que ela premonizava e que já sabia se tratar de um ato de vingança contra o cunhado estúpido e infiel com quem Lindaura tivera o infortúnio de ter se desposado.

Aos trancos e barrancos, Vera foi apresentada a Júlio. Mal disseram qualquer coisa e Lindy conduziu, segurando-lhe o braço direito, a irmã até o corredor que levava aos quartos da casa. Vera já sabia qual seria o seu papel. E não muito conformada foi parar em seu aposento, onde havia também um aparelho televisor, o qual ela ligou para continuar a ver o filme que assistia.

Na sala, a anfitriã acomodou seu amante no sofá. Subiu em seus quadris como uma amazona e de frente pra ele, enlaçados pelos braços, trocaram beijos atrevidos e ficaram à espera de que o tesão os enlouquecesse e aquecesse estonteantemente a transa.

À medida que gemidos e barulho de raspões de corpos no estofado de chenille cinza denunciavam o clima que jazia na sala, a curiosidade da irmã se despertava. Com alguns passos pé-ante-pé ela poderia se aproximar do palco das atrações e discreta como estava à janela quando o casal deu as caras ela poderia abrir à meia-visão a porta que obstaculava a passagem e com isso saciar sua vontade de mulher casta, virgem aos 27 anos, de obter pelo menos platonicamente uma transa. A sorte com homens, que sobrava à irmã, lhe faltava por causa das escolhas que fez ao longo da sua trajetória vital, devido à baixa permissividade ao pudor que lhe fora imposta pelos pregadores das congregações religiosas que fizera parte.

Tão possante quanto os ataques dos guerreiros do filme de ação que ela assistia foi o impulso que Vera sofreu para dar um basta ao moralismo que só a estava atrasando a vida e a causando opressão e sofrimento em nome de uma ética criada por mortais enganadores se passando por emissários de Deus para só ela manter. E pé-ante-pé a branquela de corpo esbelto e cabelos amarelos desgrenhados partiu para dar asa à sua imaginação. E, se não podia – ainda – ter a sorte da irmã, pelo menos se degustaria ao vê-la em ação. Se lhe ocorresse a tentação de desfrutar do que ela acreditava ser pecado, o automassageamento genital visando o orgasmo, ela, sem delongas, procurando o máximo de discrição, se renderia a ela e com isso, quem sabe, iniciaria sua libertação sexual e mental.

Minha adorável vida de hétero

O Celta cinza prata fazia cem por hora sempre que havia oportunidade. Para trás ficava a paisagem vista como mera sinalização do caminho. O destino, o velho Júlio não sabia por que cargas d’água estava no rumo que tomavam. Passaram por vários motéis. “Tá certo que a maioria é bem abaixo da crítica, mas, havia uns dois de luxo“, sobrava para ele se perguntar sentado no lado do carona enquanto a morena estonteante guiava o volante e revezava afobada seu pé direito entre o acelerador e o freio, deixando o rapaz a notar o que das coxas da amiga de faculdade conseguia escapar pela aba da saia branca que ela usava. Quando o semáforo obrigava a parada, as bocas se encontravam, sob olhar de soslaio da moça para garantir a segurança de não estarem a serem vistos, e beijos lacônicos amenizavam a inconsciente pressa.

Onde, ele tinha um palpite. O que ela tinha em mente, ele não tinha dúvidas. Era para ser apenas uma carona até parte do caminho rotineiro que a jovem recém balzaquiana fazia toda noite para ir para casa. Ele deixaria de ser companhia para ela cerca de vinte quarteirões antes de ela pegar a Padre Pedro Pinto, sentido Ribeirão das Neves, localidade que estava bem além do ponto onde a própria pararia seu carro e o guardaria na sua garagem.

A dúvida de que era sexo com ele o que ela queria ele desfez logo que ela fez questão de não falar sobre aulas. “noite de sexta-feira a gente tem que pensar é em outra coisa“. Somando-se à fungada maliciosa em seu pescoço logo que ele aceitou a carona. Fungada que lhe custou o restinho do cheiro do Ladro borrifado às quatro e meia da tarde, antes de ir para escola. O qual formava o pelotão de frente para defender a pele do moço contra o cheiro forte do suor peculiar do stress de ter que suportar quatro horas a estudar. A certeza de que era iminente a primeira transa com uma colega de sala daquela faculdade de administração, que ele iniciara só para ocupar seu tempo, lhe vinha como certo é também que mamão com açúcar tem gosto adocicado.

Pelo parabrisa as luzes confusas dos carros da contra-mão junto às buzinadas desnecessárias que os vândalos do trânsito insistem em oferecer aos ouvidos presentes como forma de obter atenção fazia aumentar profundamente a impaciência. Na altura de uma agência da Caixa Federal, naquele ponto de aspecto pobre da Grande Belo Horizonte, o velho Júlio teve que confirmar com a motorista misteriosa o local para onde seguiam. Lindy era uma mulher casada e morava para aquelas bandas. Ele só sabia isso.

Meu marido é caminhoneiro e volta para casa sempre no sábado pela manhã“. “Relaxa! Não vamos passar a noite toda lá em casa“. Era para a casa dela mesmo para onde iam. Como ele desconfiava. E a irmã? Ela lhe falava dentro da sala de aula que havia uma irmã que mora com ela e o marido. Pensamentos mais picantes penetravam na cabeça do homem de meia-idade que se mantinha em silêncio a maior parte do tempo.

Uma virada à direita e a avenida foi deixada. O caminho tornou-se mais estreito e ainda mais paupérrima a aparência do ambiente. Adentraram-se em um bairro com algumas casas boas revezando com barracos e sobrados cheios de puxadinhos. Ruas pavimentadas e outras de chão puro. Um córrego à céu aberto despontou. O carro o contornou até certo ponto. A iluminação viária desceu. Postes com lâmpadas acesas intercalavam outros com elas quebradas. O medo que Júlio sentia tentando não deixar transparecer misturava-se com a excitação causada pelo sombrio panorama voltado para a expectativa de infortúnios típicos de periferia. Superava a inevitável aflição de ser flagrado pelo conjugue legítimo de Lindy. Porém, estranhamente não burlava esses contrapontos a vontade de ultrapassar os momentos preliminares à diversão que estavam à espera de degustar.

*Acompanhe este conto no marcador “Minha adorável vida de hétero”.

Sem esperar

Uma trapalhada fez com que ele saísse mais cedo para o intervalo de almoço. Atravessou as dependências da empresa onde trabalha e retornou trazendo uma marmitex. Foi para o refeitório. Havia um tanto bom de gente por lá. Mesmo tendo bastante mesa sobrando, ele custou a decidir onde sentar. Sentou-se de frente para uma mulher que ele não conhecia. Coisa que era de praxe.

A garota apresentava sinais de que queria conversar. O problema era só em escolher o assunto para dar início a uma conversa. Ele estava elétrico, como vem lhe sendo ultimamente. Sente impulso de fazer contato com mulheres, que aparece-lhe logo um assunto ou uma situação para consumá-lo. Fazia parte de seu estado-foco. Aquele estado que te deixa, mesmo que inconscientemente, de prontidão para atingir seus objetivos.

Hipnoticamente, ele arrancou dela um sorriso com os olhos por trás dos óculos, enquanto ela mastigava o que comia. Ele armou o bote.

ELE: Temos que apressar, pois o tempo é curto, acha o mesmo?

Ela gostou que ele iniciasse uma conversa assim. Respondeu com o mesmo sinal de poucos instantes atrás.

ELE: Acaba que esse refeitório é o único lugar em que podemos conhecer as pessoas que trabalham na mesma empresa que a gente e não podemos aproveitar dele para isso por causa da pressa.

Era uma empresa onde trabalhava muita gente. Uma fábrica.

ELA: As pessoas que possuem o mesmo horário de almoço podem se encontrar mais vezes.

ELE: E de vez em vez, acaba criando um relacionamento e saindo para se divertir depois do horário. É o jeito, concorda? [riram os dois]

ELA: Acontece de isso se dar na primeira vez.

Riram olhando um para o outro compenetradamente. Um clima estabelecido naturalmente os ajudou a arriscar desprender sem cerimônias movimentos típicos de flerte, olhares focados e uso de frases e palavras abordadoras.

ELE: Pode ser esta uma dessas vezes.

Ela era tímida e cheia de julgamentos auto-aniquiladores, mas estava cansada de perder tempo e de não conseguir o que quer por causa dessas coisas. Deixou para lá o que ela dizia sempre para si mesmo, e o que ela ouvia de outras pessoas, a quem ela achava que devia satisfação.

ELA: Se você não tiver nenhum outro compromisso e quiser que seja esta também a vez de sair para divertir depois do horário, eu concordo.

Riram os dois quase em silêncio e trocaram telefones. Havia apenas o turno da tarde os separando de um promissor encontro.

Não era a hora

Uma coisa que quem pretende se tornar um conquistador ágil tem que saber é leitura fria. Interpretar gestos, expressões faciais e posturas com que as pessoas se comportam. E uma pessoa de pé em uma estação de ônibus, olhando, abraçada bem firme à bolsa, para o ponto onde o mesmo pára e as portas se abrem para os passageiros, não está exatamente em um momento propício para receber um flerte. O foco dela está em seu interesse absoluto. E ainda existe sua individualidade para tratar.

Ele olhou para a loira de lábios grossos mordiscantes e com o cabelo escorrendo no rosto cobrindo um dos olhos e a achou estupenda. Sinalizou seu íntimo caçador de conquistas: “eis uma chance”. Tudo que ele tinha que fazer era promover mudanças no aspecto dela. Se ele conseguisse fazer isso ele baixaria a guarda dela. Teria que usar seus truques de influência à distância.

Ele percorreu com os olhos atrás do anel dedo duro na mão esquerda dela, pois, aparentemente Loira Lábios Grossos parecia casada. Ele não encontrou entre os tantos anéis que ela usava o que poderia ser uma aliança de casamento, mas a impressão continuou valendo. Sua intuição é que lhe estava dizendo. Outra coisa que conquistadores precisam desenvolver é comunicação excelente com o seu eu interior, que é o seu cavalo.

Bem, você sabe, o lema do conquistador é “o tempo voa, amor”. E a maior perda e a única que o conquistador lamenta é a perda de tempo. Não que devemos agir inconsequentemente e invadir território dos outros. Se ele viesse a constatar mesmo o laço matrimonial na vida dela expresso de alguma forma indubitável, sua caçada pararia por ali.

E o ônibus chegou na estação e abriram-se as portas. Ficou sabido então que esperavam a mesma linha. Ela entrou primeiro. Ele a seguiu. Não havia chances para sentar. Ele ficou ao lado dela. Perto da orelha esquerda dela. E armou o bote.

A estratégia era usar a telepatia. Influenciá-la a ter pensamentos que a fizesse imaginar que ele tentava uma aproximação. Se ela o fizesse, ficava a cargo dela decidir se lhe interessava ou não a oportunidade. E era ela quem ia iniciar essa aproximação. Ele, para todos os efeitos, estava de pé ao lado dela, a observando perifericamente enquanto aguardava o momento de sair da lotação. Nada mais do que isso. Coisa que todo homem faz se perto de uma mulher atraente.

Aquela sensação de estar a ser observada pairando na fronte dela a deixou perturbada. Ela se mexia demais, olhava pra ele com olhar de súplica, querendo falar-lhe alguma coisa. Fazia que ia e não ia.

Até que resolveu dar uma demonstração gratuita de feminilidade, de mulher que não resiste a uma abordagem masculina bem construída, mas que é honesta e que sua honestidade e respeito para com o seu sobrepõem qualquer tentação. Fez aparecer para ele a aliança no dedo anular da mão esquerda, que jazia sob um anel com pingente e parecia fundida a este. Mordiscava ela os lábios enquanto fazia isso. E olhava para seu reflexo no vidro da janela lhe frontal do ônibus. Ele observou a agitação dela e também o lindo relógio analógico que ela usava. Ela imaginou que lá vinha a velha e ridícula cantada de perguntar a hora.

ELE SORRINDO PRA ELA: Só pessoas de extremo bom gosto é que usaria um relógio desses. Que bom que elas ainda existem. Desculpe eu atrapalhar seu sossego, mas é que você me ajudou a decidir voltar a trabalhar com vendas desses artigos.

ELA PRA ELE: Volte sem medo, pois, eu te compraria o que vendesse.

Ele se deu por satisfeito por desestabilizá-la e cumprir o objetivo de lhe mudar o comportamento de quem apenas se interessava em aguardar um ônibus para um favorável a ele. Se estivesse em uma missão de venda ele teria vendido um exemplar do seu produto. Isso lhe incentivou a apostar no ramo. A liberou, então, da sedução hipnótica que ele provocava nela e saltou na próxima parada.

A técnica de influência a distância que ele usou ensinarei no livro que decorrerá deste blog.

Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor”.

As maravilhas que faz uma xícara de café

Eles estavam em um salão. Era uma reunião de congraçamento. Havia terminado o treinamento de uma semana, dado por uma loja de departamentos para trinta pessoas que iam ingressar na empresa e trabalhar com vendas. Sete moças e oito rapazes, que resistiram até o último dia de treino e passaram no processo seletivo eliminatório, iam dividir as vagas. Dali em diante seriam colegas de trabalho. Cada um marcaria presença em um setor de vendas específico da empresa.

Havia uma mesa em um canto do salão e sobre ela vários comes e bebes. Salgados, componentes para montar cachorro quente, garrafas de refrigerantes e caixas de suco. As pessoas, todas bem dispostas, passavam para lá e para cá animadas e não deixavam de ir até a mesa para beliscar algum comestível, fazer um cachorro quente ou encher copos com refrigerante ou com suco.

A outra opção era sentar em uma das cadeiras dispostas nos cantos do salão, em grupos de três, quatro ou cinco cadeiras, e formar um grupinho para conversar sobre como foi o curso ou sobre como serão os dias no novo emprego. A alegria no espaço contagiava quem entrasse nele.

Ele estava próximo a uma máquina cafeteira que havia no local. Pensava em degustar mais um pouco do líquido que só estava presente na celebração porque o salão reservado para ela, nos horários de intervalos dos funcionários efetivos funcionava como área para recreação e lanches. Mas, não foi só Ele a ter se interessado em bebê-lo.

Nessa vez que foi até a máquina para preparar para si mais uma dose de café expresso, ele observou ao redor para ver se alguém jazia com xícara vazia na mão. E seus olhos encontraram Ela, sentada sozinha em um canto, com ar sublime e uma xícara pendendo em uma de suas mãos, como se existisse uma leve preguiça de levá-la até a mesa.

Logo ela, que o rapaz achou bastante interessante de se conhecer em um momento extra curso, fora das aulas que estavam tendo. Ele, em vez de preparar só uma dose, preparou duas. E foi para a direção dela.

ELE: Observei que você está segurando uma xícara vazia, imaginei, enquanto eu enchia uma para mim, que você pudesse querer mais um pouco. Aqui está! Se não era isso, não precisa aceitar, eu gosto muito de café! [disse risonho o rapaz]

ELA: Imagine! Claro que aceito! Sente-se aí, eu acabei ficando sozinha nesse canto. Obrigada pelo café!

ELE: Não há de quê! Sei que faria o mesmo por mim!

E os assuntos que os dois levaram, até certo ponto rondaram o que aconteceu no curso. E depois aconteceram daquelas descobertas de coisas em comum que sempre rolam de acontecer quando duas pessoas comunicativas se apegam num canto para conversar. E disso iniciou-se um relacionamento que ficou para ser desenvolvido no novo ambiente de trabalho de ambos.

Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor“.

Começando bem

Tudo indicava que ele ia se dar bem naquele novo emprego. Os especialistas do departamento pessoal da loja de departamentos acharam que ele seria bem aproveitado no setor de vendas de calçados feminino. Ele passava a impressão de que tinha carisma com as mulheres. Elas poderiam entrar no setor só para falar com ele e numa dessas, se ele fosse mesmo bom, arrancaria delas no mínimo uma venda básica. E ele também sairia ganhando, pois, o cargo era comissionado e a empresa íntegra com os pagamentos de cumprimento de metas.

Em seu primeiro dia de trabalho, lá estava ele aguardando a entrada de freguesas. Vestia o traje social de vendedor da loja. No bolso da camisa, bem no lado do coração, uma caneta foi deixada juntamente com um porta cartões contendo cerca de 25 unidades. A loja mandou preparar os cartões com seu nome durante a semana que intercalou o fim do treinamento e a estréia no trabalho. A semana dedicada aos processos de admissão.

Eis que, quase uma hora de espera, pois era um dia de semana, uma segunda-feira, duas mulheres balzaquianas invadiram o setor de calçados femininos para conhecer as promoções que estavam vigorando. Ele nem cogitou ir até lá para perguntar “posso ajudar”. De antemão ele já sabia que isso está entre as coisas que vendedores afoitos fazem e que cliente nenhum gosta de ser alvo dela.

Mas, o treinamento exigia que ele o fizesse. Ele relutava quanto a arcar com a abordagem clássica, mas sabia que precisava usar sua criatividade para abordar as freguesas. Transformou sua entrada de vendedor de sapatos querendo realizar uma venda em uma entrada de conquistador de mulheres bem sucedido. Sem esquecer de seu lema: “hoje o tempo voa”, logo, nada de perder tempo.

ELE: Bom dia! – Disse seu nome para se apresentar – Sou vendedor aqui desta seção e estou à disposição de vocês, mas não quero incomodá-las. Quero que fiquem à vontade e com o meu cartão. – tirou do bolso seu porta cartão, já abrindo a minúscula caixa – Se precisarem de alguma coisa é só levá-lo até mim. Se desejarem fazer isso noutra hora, é só levá-lo com vocês!

As madames ficaram surpresas com a abordagem. Se sentiram pressionadas a levar o cartão até ele. E nem era porque haviam decidido realizar uma compra. Mas a compra foi feita.

Originalmente postado no blog “Voa o tempo, amor“.