Minhas lembranças mais remotas

“‘Nenhum de nós se lembra de algo anterior aos 2 ou 3 anos de idade. A maioria não se recorda de nada que ocorreu antes dos 4 ou 5, diz Catherine Loveday, da Universidade de Westminster, no Reino Unido.” (Trecho de matéria sobre Amnésia infantil, publicado pela BBC em https://www.bbc.com/portuguese/geral-39477636.)

Minha mãe me contou que eu quebrei um dos braços aos dois anos de idade. Eu tenho uma leve lembrança de uma corrida noturna de meus pais, com minha mãe me conduzindo no colo dela, buscando levar-me para um hospital. Pode não ser essa a vez me contada, mas, se for, estou entre as poucas pessoas que saem do padrão quando o assunto é lembrar de fatos anteriores aos três anos de idade.

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Se faltar energia elétrica em seu bairro, ligue para a Globo

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Uma folga inesperada na quarta-feira dia 12 de abril de 2017 me fez ficar bastante entusiasmado, pois, eu poderia trabalhar o dia todo em meu projeto de emancipação financeira, que acontece na internet. Entretanto, a CEMIG – Central Elétrica de Minas Gerais – resolveu mexer na rede elétrica do bairro onde eu moro e com isso o fornecimento de energia elétrica foi embora lá pelo meio-dia. Fiquei na mão, frustado e indignado com o acontecimento. Disseram que voltaria às 16:30 horas ou pouco antes.

Então, pus-me a fazer atividades que não dependem de energia elétrica enquanto eu aguardava o horário comunicado. Nisso, ouço o pessoal da casa vociferar angustiado por causa de um jogo de futebol que seria transmitido pela TV Globo por volta das 17 horas. Diziam: “Até eu quero ver esse jogo, imagine como devem estar aflitos os que têm ainda mais interesse nisso“. E eu, como não assisto televisão e muito menos acompanho futebol que não seja se envolvendo o time para o qual torço, fiquei a olhar para o ar, dando uma risadinha de inquérito abrindo para fora as duas palmas da mão.

Me parece que o jogo era entre o Bayern de Munique contra o Real Madrid, valendo pela Liga dos Campeões da Europa. Desde há algum tempo acompanhar qualquer coisa do futebol europeu virou mania nas casas brasileiras. E a Globo, como não podia deixar de ser, viu filão nisso e tomou a exclusividade da transmissão de outra rede de televisão brasileira e não se importa mais nem um pouco com o tal do Padrão Globo de Qualidade, que tinha como uma das premissas não alterar a programação, exceto no surgimento de algum plantão de notícias ou no advento de Copa do Mundo de Futebol ou de Olimpíada.

Aproximava-se a hora marcada pela CEMIG para o fim dos trabalhos e nada da energia voltar. O desespero dos que aguardavam para ver o alcunhado de jogaço era proporcional à minha frustação de ver uma folga ir embora sem que eu a aproveitase para tocar meus planos para frente. Entretanto, milagrosamente, às 17 em ponto, ouvi o motor da geladeira da casa fazer seu ruido contínuo. Era o fornecimento de energia elétrica que voltara. A alegria tomou conta do bairro, que pode, enfim, se acomodar no sofá da sala em frente à TV para receber a lavagem cerebral da Globo enquanto eu liguei rapidamente o computador para produzir pelo menos um pouquinho naquele dia.

Mas, antes disso eu refleti quanto ao timing: “Será que essas companhias atendem à solicitações da Rede Globo para não deixar sua audiência na mão quanto às suas transmissões e fazer com isso minar o seu investimento – ou às suas intenções com a transmissão“. Um jogo de futebol não é como o último capítulo de uma telenovela que pode ter simplesmente repetida a exibição no dia seguinte ou em data oportunista.

É claro que eu pensei também nos muitos bares que apostaram em comprar mais engradados de cerveja e em outros produtos para poder aproveitar a clientela que estaria presente nas mesas para ver no estabelecimento o tal jogo. Só que isso só me fez fazer outra reflexão: “exibições públicas de televisivos são proíbidas, mas, o sistema que proíbe, bem como os que supostamente sofreriam prejuízos com a exibição, fazem vistas grossas para não atrapalharem os negócios dos outros“. Vira um ilegal legal supondo que o Governo estaria faturando com os impostos gerados pelo consumo no boteco e a televisão teria cativa um público para aliciar. Além de ela aumentar sua popularidade perante às outras tevês que não estivessem tendo sua transmissão disponibilizada em espaços públicos.

A TV privilegiada ganha mais com isso do que com cobrança de assinaturas para cada indivíduo presente no espaço público, uma vez que essa assinatura não é certa de acontecer, pois, a maioria do público dos botecos tem que optar por uma ou outra coisa: consumar seu hábito de tomar sua cerveja em um ambiente de lazer coletivo ou pagar para ver televisão (que é uma besteira) exclusiva para ver em casa o que tivesse para ver. Coisa que incidiria em ter que sair do emprego, ficar sem condições de arcar com o pagamento, se se quiser aproveitar o máximo da programação paga e fazer valer o custo-benefício dos pacotes de transmissão.

Será que verei novamente?

Encontrei no Youtube outro dia um filme que eu via frequentemente durante os tempos da infância-adolescência. Uma verdadeira raridade. E ao assistí-lo, me veio aquela sensação gostosa de estar a passear pelo tempo e trazendo de volta as boas sensações que era de praxe se sentir ao passar-se tempo assistindo filmes na TV. Isso encheu-me de bem-estar e bem-estar é algo que você deve procurar sentir sempre, pois, se tens desejos para realizar é o que vai tornar isso possível.

Daí, dei uma paradinha para pensar noutra coisa. Me veio à mente uma série de outros filmes e programas de televisão. E eu me perguntei: e esses, será que vou vê-los de novo?

Esse tipo de coisa nos remete à questão da idade. Mais particularmente da velhice. A gente se vê velho, com idade avançada. E, então, se pergunta quanto tempo deve nos restar para viver e se teremos oportunidade de experimentar ou de re-experimentar certas coisas.

E mais do que isso, se pergunta se voltará a ver novamente pessoas da caminhada. Não as que se tem ciência de que já partiram para o outro plano, estas estão sempre por perto, pois, a lembrança é para nós a casa inexorável onde elas passam a morar. Quando pensamos nelas estamos as revendo. E temos convicção disso, pois, sabemos que não haverá meios de revê-la tal qual classificamos o verbo rever. Ou seja: revê-las fisicamente.

Achar na internet os filmes dos quais se lembra e gostaria de assistir novamente é relativamente um desejo fácil de se materializar. Mas, pessoas, quando esgota-se a capacidade de um Facebook de nos trazer notícias sobre elas, só com o que podemos contar é encontrar rostos parecidos com os de alguém do qual passamos a lembrar por tê-los visto. E a querer saber se ainda está vivo, se está bem, qual foi o seu paradeiro, a sua história desde o fim da caminhada conosco. E, principalmente, queremos saber se antes de partir vamos revê-lo.

E é assim a vida: um mar de incertezas. Incerteza de quanto tempo falta para parar-se de vez de ter saudade e passar-se a ser saudade para uns e dúvida quanto ao paradeiro para outros; vontade de ter de volta o que parece ter-se perdido; ter vontade de consertar o que se pensa que ficou errado. E ter pressa de rever alguém, o que pode acontecer nunca mais.

Mas, ao final de tudo, eu penso que nada fica para trás porque onde quer que estejamos após a partida, na mente dos que ficam, quando deixamos algo de bom para eles, permanece plantada a oportunidade de estarmos presente neste mundo e da forma que der continuar fazendo algo por ele. Basta sermos lembrados para termos essa oportunidade. Portanto, a grande sacada da vida é fazer por onde ser lembrado. É o mesmo que garantir mais longevidade neste planeta. Procure gastar seu tempo dando razões às pessoas para lembrarem-se de você.