Outro dia em um bate-papo pelo Whatsapp, um amigo me fez perceber que o gênero de filmes Faroeste já se pode considerar extinto. É bem possível que já esteja vigorando geração de pessoas que não sabem o que é bang-bang. A partir disso, resolvi criar esta série de postagens que discorrerão sobre outros itens da cultura humana que estão à beira da extinção.

A emissora de rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, noticiou em seu site que em relação ao futebol, os jovens não estão se comportando da maneira como deveriam para que as coisas para o Esporte continuem a funcionar como funcionavam. Se prostrar em frente a um aparelho televisor e ficar duas horas a ver gente correndo atrás de uma bola e a ouvir narrador e comentaristas de futebol a falar bobagens e a fazer merchandising e moldagem de opinião não seria mais tolerável pelo público. Haveria algo de errado com o futebol que se deva temer a permanência da sua importância para as sociedades mundanas, principalmente no Ocidente e no meio capitalista?
Eu ouvia outra rádio FM de Belo Horizonte quando a qual anunciava a entrada no ar da coluna de seu comentarista esportivo. O comentarista informava comentando sobre os jogos envolvendo times de futebol de Minas Gerais que iam acontecer no dia, 17 de maio de 2023, pela Copa do Brasil, um torneio nacional.
O colunista iniciou seu comentário falando sobre o Cruzeiro. Falou que o clube enfrentaria em Porto Alegre o Grêmio do Rio Grande do Sul. Frisou, com bastante disposição, que o confronto envolvia os dois maiores conquistadores do título da Copa do Brasil, e, com mais disposição e irradiação de alegria, que o Cruzeiro era então o maior ganhador.
O América Mineiro veio a seguir. Só disse o colunista que o time jogaria em casa contra o Internacional, também de Porto Alegre. E só.
Por fim, o parecer sobre o Atlético Mineiro, também comentado com empolgação, que receberia o Corinthians de São Paulo. Para cativar o ouvinte, se atleticano, o comentarista disse ser o Atlético muito mais forte do que o Corinthians na atualidade, sugerindo que o time venceria com facilidade seu jogo, dando a entender, aos mais sensíveis, que as competições futebolísticas são resolvidas nos bastidores e certos órgãos de imprensa saberiam os resultados de cada partida e até mesmo quem será ao final da competição o ganhador da mesma.
Eu, atleticano, creio que o que vou discorrer aconteça com todo torcedor, pelo menos os da minha geração para cima, que são os que a imprensa não se preocupa em adestrar ou respeitar, por achar, talvez, que não mais fazemos parte dos torcedores que alimentam de grana e repercussão positiva o futebol, fazendo com que os interesses de todos os envolvidos com o Esporte – na verdade: com a instituição Futebol – sejam satisfeitos e renovada a alienação que mantém girando a engrenagem da instituição, que é não gostar de ver, ler ou ouvir comentário entusiasmado sobre o clube para o qual torço, o Galo, no mesmo bloco de programa de rádio ou de TV ou página de publicação impressa em papel em que o rival Cruzeiro é noticiado da mesma forma.
Pior ainda é quando é clara a demagogia que visa recrutar comprador de exemplar de jornal e revista ou audiência pra rádio ou TV. Tanto os torcedores da minha geração quanto os de qualquer outra geração querem mais é que o rival se dane, ninguém quer ouvir, ver ou ler rival sendo mimado.
A hipocrisia da imprensa esportiva e de todos para quem ela trabalha não passa batida para os que hoje estão com 45 anos de idade ou além, por isso é que estes não contribuem mais com o Futebol da forma como já contribuíram, sobrando para os jovens este papel. Os velhos, de hoje, acham que no Futebol tudo é manobrado em pró do espetáculo e consequentemente das receitas. E que sendo assim, preferem ver circo de verdade.
Essas manobras, no caso da Copa do Brasil, já começam com os confrontos, que é feito acreditar serem fruto de sorteios. Sorteios que decidem quem enfrenta quem e quem joga em casa o primeiro jogo. Em Belo Horizonte, analisando só os times desta cidade, tem se tornado frequente na fase a que pertence as partidas mencionadas pelo colunista da emissora de rádio FM, oitavas de final, participarem três clubes.
Às vezes acontece de dois deles jogarem o primeiro jogo em casa e saírem pra jogar o segundo, como nesta edição, e às vezes o contrário. Mas nunca a “sorte” faz com que os três alterem essa logística conveniente. Em BH há a possibilidade de dois clubes jogarem no mesmo horário no mesmo dia, pois, há dois estádios em condição de sediar jogos da Copa do Brasil. E como essa copa utiliza três dias da semana – terça, quarta e quinta-feira – para a realização das disputas, o terceiro clube pode jogar em dia diferente.
Se realmente são sorteios, a cúpula administradora tem muita sorte de em determinadas fases do certame caírem sempre confrontos ideais e também no que diz respeito às datas e ordem de mando de campo, que atendem as conveniências dos clubes, das federações e confederação, da imprensa, dos patrocinadores.
Outra observação curiosa é com relação aos estados: nesta edição se vê dois times mineiros enfrentando dois gaúchos. Ainda sobrevivem na edição apenas dois times do Rio Grande do Sul, se tivesse um terceiro, talvez este enfrentaria o Atlético Mineiro e aí atribuiriam a sorteio o fator. Ano passado, nesta fase os três de Minas enfrentaram três do Rio de Janeiro.
E se analisarmos os anos anteriores iremos encontrar bastante dessas configurações curiosas definidas “mediante sorteio”. Já aconteceu inclusive de haver vários clássicos locais tendo sido sorteados. Os mais observadores entendem que de sorteio nesse evento esportivo deve ser idôneo só o do lado do campo antes de iniciar as partidas.
Por que manobrariam competições? Por que não deixar que as partidas e competições sigam soltas como sugeriam ser as mesmas no passado, até os anos 1990 no meu entendimento? Embora eu tenha bastante desconfiança de não ter sido bem assim os jogos das finais do Campeonato Brasileiro de 1980 entre Atlético Mineiro e Flamengo e a Copa do Mundo de 1982, principalmente aquele Brasil 2 X 3 Itália, conhecido como a Tragédia do Sarriá.
No início, os clubes existiam apenas para oferecer as comunidades um local para elas desfrutarem de lazer e praticar esportes que requerem infraestrutura pouco ou nada democráticas. Os clubes angariavam frequentadores apenas com a infraestrutura que possuíam.
Acharam de construírem agremiações, no começo compostas pelos próprios frequentadores, e colocá-las para disputar torneios entre os clubes que representavam, e de fazer marketing com as vitórias conquistadas, os frequentadores – também chamados de associados – passaram, então, a olhar para esse marketing na hora de escolher qual clube se associar. Coisas como “tal clube é X vezes campeão do torneio X de futebol” passaram a contar mais do que ter mais piscinas, ter mais quadras de esportes diversos, ter área de convivência mais bem estruturada.
Pra agravar, surgiu o profissionalismo no Esporte. Se antes os próprios frequentadores participavam por boa vontade das equipes que os clubes que frequentavam montavam, a partir do profissionalismo, atletas contratados – que quase nunca são também associados do clube – é que participam dos certames, ganhando – cada vez mais – dinheiro para jogar.
Somado a isto vieram os gastos para existirem as competições, federações e a confederação e para que as equipes possam disputá-las. Gastos com uniformes, equipamentos de treino, locais de concentração, locomoção – hoje a maioria das vezes: passagens aéreas –, hospedagens.
E também a necessidade de espaço para sediar jogos que o clube não possuía capacidade para sediar. Daí surgiram os estádios, geralmente municipais. Com eles: pagarem, as equipes, para jogar. Embora haja como tirar da bilheteria dos estádios esse pagamento, já que apareceu a figura do torcedor que não é necessariamente frequentador ou associado do clube.
Não podemos deixar de lembrar que os cartolas das federações e confederações esportivas retiram do bolo de dinheiro que os clubes levantam seus gordos salários e que os árbitros de futebol idem. Estes, cada vez mais faturam para apitar – disseram ano passado, 2022, que a Copa Libertadores rendia a eles cinco mil dólares por apito – e que as partidas de futebol modernas exigem nos grandes estádios um quarto árbitro.
Parece que acharam que dava bom marketing ter atletas de destaque nacional ou mundial no plantel, o que acreditaram, no início, que se faria só com convocações para a seleção nacional e difusão de ganho de alto salário. Hoje, a folha salarial só dos atletas decide que o Esporte – aqui no caso o futebol – não é mais viável se o clube não tiver uma receita primorosa.
Há hoje em dia o fator premiação: o próprio público – doutrinado, é claro – não se interessa em dar a necessária atenção a um torneio se ele não tiver um cobiçado prêmio para ser dado ao vencedor. Só status de campeão não serve.
Como não é possível que simplesmente entregue à sorte as competições gerem distribuições justas de títulos, de forma que nenhuma instituição desportiva da mesma localidade deixe de ter associados por não possuir tantas conquistas de torneios nas modalidades esportivas que competem, tanto pior se houver um rival local repleto de troféus para serem pelo menos equiparados, isso porque o torcedor avulso passou a ser maior número do que o fiel associado e acha que troféus na galeria da instituição melhora sua autoestima e lhe dá sensação de supremacia perante torcedores de outros escretes, os clubes tiveram que partir para a busca de receita em outros campos.
Daí vieram as figuras dos patrocinadores, da participação da imprensa na formação de nomes de jogadores – que envolve transmissão de jogos por emissoras de rádio e de TV, notícias de bastidores sobre personagens do meio esportivo e mais o jabá promocional, muito observado nas falas dos narradores de televisão e locutores de rádio e nos escritos de colunistas de imprensa escrita, comentados com o objetivo de fazer o público memorizar nomes de times, jogadores, técnicos, dirigentes e marcas de todo tipo de produto ou de serviço.
Só que a estrutura que exige hoje a realização das competições esportivas de toda sorte não se mantém só com essas investidas. É preciso que as partidas tenham total atenção do torcedor e ou do telespectador e que estes deem feedback que faça com que os patrocinadores percebam que injetou dinheiro onde há olhos visualizando sua marca ou ouvidos ouvindo falar dela.
Para que isso aconteça, todas as partidas têm que ser emocionantes e repletas de esquetes como estrelas em campo, dribles fantásticos, defesas fantásticas de goleiros, gols mirabolantemente perdidos, disputas de pênaltis, mexidas notáveis de técnicos, expulsões esquisitas, provocações de jogadores a outros jogadores ou às torcidas, comentário maldoso ou puxação de sardinha de narradores, locutores e comentaristas esportivos. Tudo isso parecendo ser indubitavelmente acontecimentos naturais. A frequência com que se vê esses ingredientes nas partidas é que sabota essa percepção.
Introduziram, em 2013 aproximadamente, as casas de apostas para complementar a receita das entidades. Porém, não foi suficiente para arrancar a atenção do público de maneira satisfatória. As apostas vistas como possibilidade de renda mais do que de diversão poderia ser a chave para a satisfação desejada.

Print do chat de uma transmissão do campeonato capixaba em 20/05/2023: um jogador do time Serra errou um passe, o que fecundou o gol da vitória do adversário Rio Branco de Venda Nova. Alguém na conversa, crítico, lembrou as entregadas de bola em partidas do Brasileirão, que visariam sabotagens no sistema de apostas.
Por isso, muito se suspeita de serem as competições manobradas para gerir a adesão do público, satisfazer a distribuição de conquistas pelos clubes para que eles não passem por evasão de associados e, por fim, lucrar com apostas. Na segunda parte dessa dissertação sobre os rumos do futebol e do esporte em geral discorreremos sobre a presença das casas de apostas no setor esportivo.