
Eu descobri que a vida não passa de ser a atenção que damos a um ponto. Do foco que mantemos a uma cena e os elementos dela com os quais interagimos.
O que está na cena que focamos, participando dela junto conosco, se comporta como partículas para nós. O que estiver fora dela, incluindo o que está às nossas costas, se comporta como energia pura. Ou seja, podemos até vê-los, mas, não têm qualquer significado pra gente, a não ser que entrem no nosso palco e passem a participar da peça.
Eu consigo me por no espaço sideral, a milhões de anos luz de distância, e desse ponto quando olho para a Terra eu a tenho que procurar em meio a nebulosas de pó. Se eu conseguir identificá-la, por certo eu só sei que algo acontece dentro do grão de areia que ela me parecerá porque um dia eu já estive dentro dele.
Se eu decidir, de lá de onde eu estiver, avançar até meu planeta natal, à medida que me aproximo dele é que as coisas ganham importância. Vão sendo definidas, ganham limites e individualizam-se. De forma que em determinado momento o close será tão fechado que eu passarei a pensar que eu não saí de onde eu estava e que a Terra pode ser um dos pontos repletos de microorganismos que eu estarei a enxergar.
E olhe isto: Se eu olhar para a minha mão e puder penetrá-la com a minha visão, eu estarei fazendo essa mesma viagem em direção ao infinito novamente. Se eu conseguir atingir o plano em que se encontram os átomos, mais além até, então, eu estarei a ver a energia pura. Nada mais haverá para ver ou o sentido da visão não será mais capaz de observar o que vem depois.
E se eu estiver ainda a milhões de anos-luz de distância da Terra, e fitar a minha mão com a mesma intensidade ocular, eu terei a mesma experiência que teria se eu estivesse dentro da Terra fazendo a mesma coisa. Eu teria levado comigo aquele universo que pertence à minha mão. E o fim dele é sempre, provavelmente, o inicio ou o retorno ao universo em que materialmente minha mão estiver inserido. O qual está inserido no todo de pura energia que vagueia formando coisas versáteis, das quais somos uma delas, desde a origem de tudo, desde o Big Bang, que de repente também é continuo e continua a explodir.
Então, o que estou fazendo comigo levando a vida que levo? Insatisfeito com ter que trabalhar todos os dias, o dia todo; com algo que eu não gosto de fazer; gastando com a minha locomoção até o local de trabalho o tempo que eu gostaria de gastar escrevendo, por exemplo. Tendo sonhos que só são adiados e que eu não sei se antes de morrer eu terei os realizado.
E se realizados, qual o impacto que isso vai ter sobre mim em vida, que não um instante de alegria seguido de tédio e vontade de realizar outra coisa? Será que depois de morrer vou levar essa alegria comigo? Poderei usá-la? Vou saber ou querer fazer isso?
Não serão estas, coisas orgânicas, típicas da vida biológica ou da vida que levamos na Terra? Ou seja: vai servir para outros lugares onde provavelmente eu não serei um ente material e sim espiritual, já que terei desencarnado e viverei como espírito? Como pura energia. Será que só um corpo físico contendo um cérebro humano pode captar essas sensações? Teriam os espíritos outros canais de receber os impulsos desse evento e a ocasião gere sensações bem diferentes do que experimentamos materialmente?
Seria o máximo que essa vida poderia me legar estando eu num estado espiritual: recordações de momentos alegres. A alegria é uma sensação. É abstrata. E as coisas abstratas são etéreas, espirituais. Pode ser que vá ter algum valor pelo lado de lá.
Então, se sou um nada para um observador distante enquanto vivo uma vida insípida aqui nesta existência; e se após partir desta eu serei algo maior e levado para qualquer lugar do cosmos, talvez do cosmos de outro plano, onde haja outras dimensões e sentidos; e se só as alegrias que eu vier a experimentar por aqui é que pode ser que irão ter algum significado para mim. Por que perco tempo suportando essa vida de insatisfação e agonia?
Eu estou pronto para morrer, pois, encontrei a resposta do que eu procurava. Entretanto, morrer só vai ser fácil se advir-me naturalmente. Logo, até que isso me venha, que eu abandone a minha insegurança e a minha covardia e dê um basta nos limites a que estou preso. Ainda que isso signifique que eu vá virar um desagregado da sociedade, um vagabundo, um mendigo, um ermitão, um monge. Qualquer coisa que me faça sentir liberdade. Que me faça viver sem horários para cumprir ou contas para pagar ou satisfações para dar.