O dia em que a terra brasilis parou

Dona de casa não saiu pra comprar pão porque sabia que o padeiro também não estava lá

(Raul Seixas. “O dia que a Terra parou”)

Sim, a dona de casa sabia que o padeiro ia boicotar o trabalho para ver se seu patrão tomava vergonha na cara, lhe respeitasse e pagasse um salário justo, por isso ela nem se dignou a sair de casa para comprar pão.

Mesmo se o padeiro tivesse ido trabalhar, o dono da padaria teria amargado prejuízo pois a dona de casa já estava decidida a não comprar pão, pois, boicotando o consumo ela faria com que as empresas não lucrassem e o governo não ganhasse com arrecadação de impostos, assim, ela forçaria essas duas instituições a moralizarem-se, a respeitar o consumidor e a parar com a exploração de mercados com prestação de serviços medíocre e criminosa (como fazem as empresas de telefonia móvel e seus comparsas), com cobranças de preços absurdos de produtos e de serviços e com a corrupção promovida pelos canalhas dos políticos e dos presidentes e executivos de empreiteiras e de federações governamentais – como a FIESP ou as federações de esporte, principalmente as de futebol.

A dona de casa, representando o consumidor de todas as camadas de consumo, até a da atenção, sabia que o poder estava em sua atitude. Então, ela decidiu que ficaria em casa sem ligar a televisão, o rádio ou ler os jornais e as revistas. Ela também não acessaria a internet. Ela não ia saber as notícias que acham de noticiar, ver a telenovela, seu marido não ia ouvir o futebol e coisas do tipo. Sentindo a falta da audiência deles, a mídia iria sentir na pele a falta de atenção. Ia deixar de ganhar o dinheiro ganho com anúncios e com a contratação de manipulação da opinião pública. A mídia não ia conseguir danificar a vida de ninguém.

Este é um texto pequeno só para se ver como é poderoso o boicote. É difícil porque todos nós passamos por uma lavagem cerebral que nos impede de tomar essas atitudes, que nos faz ter medo do que pode acontecer em a gente se procedendo assim ou de achar que não precisamos dessas coisas e que ficar sem elas não é impossível ou que vamos conseguir chegar a algum lugar abdicando-nos delas, um dia apenas que fosse, pois outros mais iriam embarcar nessa conosco. Somos preparados para sabotar nosso instinto de ir até as piores consequências para promover a nossa felicidade e para manter-nos na inércia, sem nunca dificultar o caminho daqueles que nos exploram. Somos obedientes a eles e eternos contribuintes da nossa própria miséria e da bem-aventurança deles.

Livre é o sujeito que conhece o que precisa e o exige; que sabe que tem um poder nas mãos e consegue o utilizar porque não sofre a influência dos outros que não lhe dão nada.

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